Beda 31 – Meu ponto de partida

Sou cria genuína da terra de Oz. Passei minha infância percorrendo, correndo, pulando em suas ruas de terra pantanosa.

Garota moleca, subi em muitas árvores da pracinha local, para observar do alto, a cidade e, saborear das delícias azedas do cajueiro-japonês. Sem preocupações, pegava a fruta do pé ou as que descansavam no solo.

Pisei descalça a grama que havia – no que se tornaria futuramente – o clube Cobraseixos. Em seu ginásio, brinquei carnaval em suas matinês.

Berço que recebeu com carinho, imigrantes italianos que fincaram residência e transformou aquele pedaço de chão desprezível, em lar e perpetuação de sua cultura. Recebeu de António Agú, o nome em homenagem à sua terra natal, Itália. Da mesma forma, recebeu com coração de mãe, armênios, japoneses, coreanos, haitianos e tantos outros povos que encontraram em seu seio, abrigo e oportunidades de vida melhor.

Palco de sindicalistas, em seu passado, a cidade foi importante polo industrial. Fomentou a cultura e dela, saiu filhos famosos no teatro, cinema e artes plásticas.

Protagonizou passagens incríveis de lutas entre o bem e o mal, passarela para vampiros e outros seres, criados e eternizados, pelo talentoso escritor André Vianco.

Estabeleceu vínculos com sua também irmã japonesa, Osaka e, mantém relações culturais, expandindo conhecimentos e vivências.

Criança, fantasiei inúmeras histórias ao passar pelo casarão, que hoje, sedia o Museu Dimitri Sensaud de Lavaud, mais conhecido por Museu de Osasco.

São tantos os acontecimentos que vivi em minha terra de Oz, que me faz sentir a própria Alice, no país das maravilhas.

Hoje, não mais cidade pequena, transformou-se num polo comercial, local de grandes empreendimentos.

Mudei de endereço, mas sempre que retorno, ao descer as escadas da estação de trem, a persona Roseli criança, assume, percorrendo o calçadão com suas inúmeras lojas, sentindo o aroma dos carrinhos de cachorro quente espalhados em cada esquina, salivando de vontade de saborear os churros que retornaram após longo período ausentes. Desejo de voltar a correr por suas ruas, cantando, assoviando e chamando outras crianças para brincar de esconde-esconde ou, sentar no chão e brincar o jogo das 5 Marias.

Meu espírito osasquence despertou gritando: quero voltar a ser criança!

Esse texto faz parte do b.e.d.a — blog every day august.

Participam : Claudia Leonardi  – Lunna Guedes – Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega

Imagens: Google e acervo pessoal

Beda 30 – A casa que habito

Talvez, por ter atravessado uma infância de parcos recursos materiais, carrego comigo uma atenção especial ao ambiente que habito.

Pequena, dividindo dois cômodos numa família de seis pessoas, passei a sonhar acordada com uma moradia maior e mais bonita.

Até que, na fase adulta, trabalhando e com condições financeiras melhor, nos mudamos para uma casa ampla, confortável e bonita.

Coisa mais estranha, a sensação de não pertencimento àquela habitação, afinal, era a realização de um sonho de infância então, por que o desconforto?

Ao adentrar a casa dos cinquenta, tomei coragem e as rédeas de minha vida e comprei um apartamento. Completamente o oposto da casa ampla. Optei por uma quitinete e adotei o estilo de vida minimalista. O que apliquei aos poucos, em minha vida. Descobri que não preciso de muito para viver e ser feliz.

Também passei a implantar o conceito japonês wabi-sabi. Ao ler um artigo sobre esse princípio, me encontrei. Enraizado na aceitação da transitoriedade e da imperfeição, passei a compreender a humanidade que me habita e habita os demais.

Hoje, sou mais paciente e tolerante com as falhas alheias e mais ainda, com minhas imperfeições. Com relação à imagem do que sou, me transformei nesses anos vividos. Reverencio os cabelos brancos, agradeço as rugas e manchas pelo rosto, braços e colo. Aceito a flacidez que representa minha maleabilidade diante das desventuras e obstáculos. Agradeço inclusive às dores – companhia constante de meus dias – que alertam para que me movimente mais e com mais graça. É a sinalização de que – quanto mais o tempo passa – mais devemos mirar nosso interior e cuidar com amor, carinho e respeito.

No Japão, as peças de cerâmica que são quebradas acidentalmente, são recuperadas utilizando a técnica Kintsugi, colando-as com pó de ouro, conferindo fortalecimento e renovação da peça. Faço o mesmo com minha existência.

A cada quebra, colo os cacos com pó de perdão, aceitação, acentuo com toque de brilho de um novo dia e sigo adiante, ressignificando-me.

Dia após dia, acordando uma nova pessoa. Se é fácil? Claro que não, mas acredite, vale muito a pena aplicar essa filosofia de vida.

Hoje, a casa que habito é menor, mais clara, menos entulhada e repleta de gratidão. O simples é grandioso!

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Beda 29 – Não sei se irá chover ou não

Querido amigo,

Enquanto aguardo a água ferver, cutuco o canto da unha. Hábito que carrego desde pequena quando algo não me agrada ou preocupa.

Saio de perto do fogão e sigo para o quarto. Abro e fecho gavetas. Organizo o que já se encontra organizado. Aliso os lençóis e fronhas. Acaricio as toalhas de banho e rosto.

Ao fechar a porta de correr do armário, pelo espelho, vejo o reflexo do vaso de lírio da paz. Preciso dar mais atenção à ele, que anda se sentindo solitário. Murcha a cada dia. Nunca mais floriu. Dizem que ele capta a energia ruim do ambiente. Serei eu, a culpada por estar definhando?

Meus olhos são desviados para o vaso de violetas que não para de florir, ao contrário do lírio. Suas folhas aveludadas e carnudas, saltam para fora do vaso. Lembro que preciso replantar algumas mudas em outro vaso, mas como sempre, deixo para depois.

Volto para a cozinha e desligo a jarra elétrica. Enquanto deito a água fervente na xícara, o perfume do chá de jasmim, envolve minhas narinas que se abrem em aprovação.

Sobre a mesa da sala, um bloco e caneta esperam pacientemente, eu terminar meu ritual, antes de sentar e escrever.

Bebericando o chá, abro as cortinas, recebendo a luz do dia que se encontra em matiz cinza. Hoje, nada de sol.

Lembra quando fomos juntos na excursão do cursinho para Paraty? Que aventura!

Tempos em que nossa única preocupação era ser feliz. Ríamos tanto… Tudo era motivo para risos. Lembra do passeio pelo centro histórico? Recorda o tombo que sofri naquelas pedras malditas? Arrancou meu couro do joelho que sangrou horrores. Em sua tranquilidade, se ajoelhou ao meu lado, tirou um lenço do bolso de sua bermuda e delicadamente, assoprando com suavidade, estancou o sangue. Sem pressa.

Em pleno calor de 38 graus, tive calafrios, sentindo suas mãos em minha perna. Naquele momento de dor, senti desejo de alcançar sua boca e me deixar perder dentro dela. Mas foi tudo bem rápido. Da mesma forma que surgiu, sumiu aquela vontade de te ter ao meu lado não como um amigo/irmão, mas como homem.

Nem sei porque fui lembrar disso agora. Desculpe-me. Não quero causar constrangimento. Nossa amizade valeu muito mais que esses pequenos tesões da juventude. Desde que casou e partiu para o exterior, nunca mais soube de você. Mantenho sua página pelo Facebook mas nem entro para espiar suas experiências, suas conquistas, sua felicidade.

Só sei, que de tempos em tempos, sinto sua falta. Sua presença espirituosa e sábia deixou um buraco jamais preenchido. Nesses anos, fiz muitas amizades, alguns namorados, paixões desvairadas mas, igual a você, nenhum passou nem perto.

Rasgos no céu indicam possível temporal. Não sei se irá chover ou não. Aqui, algumas gotas salgadas indicam que por horas, haverá tempestade de saudade.

Engulo a bebida quente, rasgando mais uma carta que jamais receberá.

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Essa carta faz parte do Projeto 52 Missivas – Scenarium Plural Livros Artesanais

Imagem: acervo pessoal

Beda 28 – Saga da heroína na terceira idade

As dores me têm. Praticamente já fazem parte de mim. Às vezes, nem noto sua presença. Mas ontem, ao abrir os olhos, eu era toda dor.

Atravessei o dia, encolhida. No físico e na alma. Qualquer movimento desencadeava um carrilhão da danada.

Pensei: Danou-se, envelheci de vez!

Pelo meio do dia, não me dando por vencida, decidi fazer uma caminhada de uma hora. Caminhar sempre me fez bem. Nesse exercício contínuo, libero as toxinas e liberto minha mente, que voa para longe chegando primeiro que minhas passadas..

Após quarenta minutos, me encontrava em João Pessoa, percorrendo a orla da praia de Cabo Branco. Dia ensolarado, céu azul, sem nuvens e aquela brisa que chegava do mar, jogando seu salgado e morno bafo em mim.

Estava na praia de Tambaú, quase em frente ao famoso hotel do mesmo nome, quando fui tragada para a minha realidade, por uma fisgada.

Meu pescoço sofreu um efeito gatilho, no lado esquerdo, fazendo-me soltar um grito sufocado. Parei por alguns segundos, massageando a lateral do pescoço e ombro. Retornei à caminhada rodando feito pião ao redor da mesa da sala. Consigo fazer essa caminhada quase que diária, nos poucos metros quadrados obtidos por um financiamento a perder de vista. Falando em vista, andam bem embaçadas. Será catarata? Credo, vida de idosa é preencher os pensamentos com dores e doenças. Ninguém merece!

Com esforço e mancando um pouco, retorno ao meu passeio mental, descortinando o resto da praia. Posso sentir os sons, cheiros, ouço vozes de crianças brincando na areia próxima e risadas de jovens, reunidos num quiosque.

Faço meia volta e refaço o mesmo caminho, pensando em dar uma parada no Café em Cena ou parar mais a frente, no Mimo Doce Café e provar o pastel de carne seca açucarado. Tais lembranças me fazem salivar.

Terminei o dia, mais travada que nunca. Restaram as lembranças de dias ensolarados e chuvas ligeiras. Adormeci, vencida pelo cansaço de tantas dores.

Despertei ouvindo o barulho da chuva na janela. Sentei na cama, esquecendo que deitei na noite anterior com dor. Aproveitei o corpo melhor e, após o desjejum (bonito esse termo né?), roupa de ginástica, tênis e, descendo ao chão, me abri por completo mandando para longe, tudo o que me impede de ser feliz. Elasticidade de uma ginasta jovem. Bom demais sentir-se assim. Nada como um dia após o outro. Que bom que não são todos os dias iguais!

Pausa no alongamento para servir-me de uma xícara de café que acabei de passar. Mais tarde, chá de erva de canela-de-velho. Comprei por indicação de amiga.

Recordei sorrindo, minhas tias que usam uma pomada no corpo que tem esse mesmo nome. Sempre achei graça e olha só: entrei pro time!

Saboreio mais uma xícara do meu pretinho favorito, recordando minhas caminhadas na orla. Ainda volto lá!

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Imagem: acervo pessoal

Beda 26 – Primeiras sensações

Os dias têm amanhecidos preguiçosos, lentos, sem pressa. Aprecio cada minuto envolta por lençol alvo, que me abraça como um amante carinhoso. Gosto desses instantes a sós comigo mesma.

Amplio outros sentidos, ainda na penumbra . No apartamento do oitavo andar, o recém nascido chora. Quase um miado. No vizinho da esquerda, ouço o barulho do aço, polia anunciando a manhã, invadindo seu espaço através da janela. Minhas narinas captam o perfume de um café bem passado.

Um motor gemendo, desce a rua afugentando alguns pássaros. Ouço ao longe, uma sirene que compete com as maritacas; campeonato de sons estridentes. Ganham as maritacas – que perpetuam seus trinados – enquanto a sirene se perde no final da rua, entrando no hospital próximo.

De olhos cerrados, respiro fundo preenchendo meus pulmões de ar. Sinto as artérias, na lateral da testa, pulsarem mais do que o normal. Não é prévia de enxaqueca. São sinais de que o espírito que me habita, deseja pular da cama e atuar em mais um dia de vida.

Ignoro tais mensagens desviando a audição para trabalhadores da construção civil, que desde a madrugada, se encontram na lida diária. Batendo, acentando blocos, movimentando ferragens, preparando o concreto. São, pelo menos, uns três prédios sendo construido nas redondezas. Fora uns dois em fase de acabamento e exposição com apartamento decorado.

Um cão late nervosamente. Creio que seja morador do prédio da esquina da Rego com Major Sertório. Deve ser daqueles cãezinhos mignon. Latido fino, estridente… enervante. Gostaria de acessar seu botão para zerar seu som.

Sorrio, achando graça em minha própria impaciência com latidos agudos. Recordo dos bandos de adolescentes que se reunem na lanchonete próxima ao colégio. Alvoroço em falar gritado e agudo, todas ao mesmo tempo. Desperta em mim, misto de irritação e graça, de um tempo que já foi meu e se perdeu nas experiências da vida adulta.

Pela janela da cozinha aberta, entra uma brisa mais forte, que balança as folhas do vaso com Lírio da paz. A porta do banheiro se movimenta e range, fazendo-me recordar que também deixei escancarada a janela. É bom circular o ar.

Continuo dominada por essa preguiça matinal, mas sou chamada à realidade por outro aroma que entra em minha quitinete sem ser chamada ou anunciada: alguém prepara ovos mexidos e isso, mexe comigo e o centro do meu corpo, manifesta-se através de trovões. A fome de horas, grita que é hora de levantar.

Espreguiço-me num longo, longo e demorado alongamento de todo o corpo. Dobro as pernas e giro para o lado. Repito levando as pernas para o outro lado. Esboço uma pequena coreografia com braços, pescoço, pés, cotovelos. Tudo em nome da saúde das articulações que teimam, dia após dia, em enrigecer. Não permito.

Suspiro resignada, chuto o lençol para o lado e, me apoiando pela lateral, sento na cama, miro meu reflexo descabelado no espelho do armário e, num sorriso sincero, exclamo:

-Bom dia, dia. Hora de ser feliz!

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Imagem licencida: Shutterstock

Beda 25 – Metamorfose

Na segurança e conforto de meu lar, casulo de meu ser, aguardo.

Quietinha, quase sem se mexer, trabalhando a paciência como ferramenta principal de minha evolução.

Humana? Não sei, assim espero. Enquanto espero, aprecio e avalio as transformações iniciadas quando nasci.

Processo lento que mais parece infindo, mas, passou feito trem bala na estação. Záz!

Quando dei por mim, encontro-me assim. Mais de meio século na carcaça, cabelos prateados, uma vida vivida.

Será que vivi? Vivi.

Algumas conquistas, muitas amizades. Algumas permaneceram, outras foram fagulhas de um meteorito. Riscaram o céu do meu viver e sumiram na escuridão de páginas passadas. Livros fechados na estante.

Sorrio enquanto sorvo um gole de café passado agorinha. A tarde pede uma coca-cola estupidamente gelada, mas o vício, grita temperamental solicitando cafeína quente.

Contrastes que fazem ser como sou. Fui ovo, depois larva, pupa e, agora, orquestro minha fase adulta. Madura.

Pronta para arrebentar as paredes que me protegem, me despedir do inverno e me jogar na primavera. Falta pouco para bater as asas. Posso ouvir a beleza de seus sons, batendo no ar poluído dessa Sampa, que tanto amo.

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Imagem: acervo pessoal

Beda 24 – Mergulho na Ásia

Em meio a tanta barbárie humana, a arte salva aqueles que desejam a leveza e a beleza existentes nas pequenas coisas.

Para meu entretenimento, prefiro um bom filme com enredo e personagens comuns às superproduções carregadas em efeitos especiais que tornam a obra, algo belo porém, falso.

Tenho preferência por histórias do cotidiano mostrando personagens banais, comuns, exatamente como somos. Identificação imediata.

Por conta disso, faz tempo que sou amante da arte asiática: filmes japoneses, coreanos, chineses. Deixando de lado o preconceito que no passado tive, descobri pérolas que marcaram.

No passado, filmes dirigidos pelo conceituado diretor japones Akira Kurosawa. Derzu Uzala, Mandadayo, Sonhos.

Da Coréia, tive o prazer de conhecer o belíssimo filme Poesia, do diretor Lee Chong-dong. O tocante Casa vazia, de Kim ki-duk. O dedo na ferida Parasita, de Bong Joon-ho. Todos esses filmes são alguns exemplos da delicadeza aliada ao talento e beleza estética que me encantam.

Da China, Adeus minha concubina, de Chen Kaige, O caminho para casa, de Zhang Yimou e mais recente assisti a série Entre a razão e a emoção.

Hoje, assisti ao filme Sabor da vida, direção de Naomi Kawase. Filme de 2015, aborda vidas despedaçadas que se encontram.

Sinopse: Sentaro dirige um pequeno negócio que serve dorayakis – bolos recheados com pasta doce de feijão vermelho. Uma senhora de idade, Tokue, oferece-se para ajudar na cozinha, e ele relutantemente aceita. Graças à sua receita secreta, o pequeno negócio logo floresce e com o tempo, Sentaro e Tokue abrem seus corações revelando velhas feridas.

Solidão, preconceito, perdas. E claro, tudo isso aliado ao tema que tanto gosto: gastronomia, mostrando o passo a passo do doce japonês dorayaki, feito com pasta de feijão.Temas entrelaçados – feito fratura exposta – numa delicada interpretação de atores com um talento incrível. Destaque para Kirin Kiki e Masatoshi Nagase.

O que mais gosto nessas produções? Falam muito dizendo muito pouco. Tenho conciência de que a maioria das pessoas não gostam desse tipo de filme. Acham monótonos. Eu, da minha parte, acho-os primorosos! Cada tomada, cada gesto, cada frase, foram muito bem estudados. A natureza – representada pela beleza das cerejeiras repletas de for – são símbolos das passagens na vida de cada um.

Ao término do filme, fiquei alguns minutos num silêncio, feliz pela oportunidade de conhecer mais uma obra-prima japonesa.

Bom demais, poder passar alguns momentos envolvida pela boa arte cinematográfica, poupando meu espírito de tanta barbárie espalhada pelo planeta. Se você ainda não viu e deseja assistir a algo bonito e delicado, esse filme se encontra disponível na Prime Vídeo.

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Imagens: Google

Beda 23 -Abigail foi o início de tudo

Remexendo arquivos antigos, encontrei fotos do lançamento da coletânea Abigail, fruto do curso de criação literária, que participei em 2010 e 2011. Foi meu primeiro contato sério com a escrita.

O convite do lançamento. Alegria em ver meu nome entre os escritores da antologia de contos

Muitas escritas se concretizaram nesses anos, a insegurança continua a mesma, mas a vontade de prosseguir escrevendo é cada vez maior e o prazer também. Nessa oficina, conheci pessoas incríveis com o qual mantenho contato e acompanho suas evoluções literárias.

A cabeluda, concentrada num de seus autógrafos. Emoção!
As escritoras reunidas para registro do momento

Desde então, sempre lanço a pergunta a mim mesma: Por que escrever?

Não sei quanto a você – que assim como eu – caiu nessa cilada da escrita, mas a resposta exata é: não sei. Só sei que necessito desses momentos a sós com as letras, com as frases, com os pensamentos que se formam para que juntos, formem uma história ou uma crônica.

Mesmo recebendo como pagamento, inflamação constante nas mãos, de tanto teclar, não reclamo. Tomo isso como parte de um processo. Faz parte do inventário de ser escritor.

Percebeu? Estou me autointitulando escritora! Até há pouco, não me atrevia a me chamar assim. Parecia abuso de minha parte, afinal, diante de tantos escritores que eu reverencio e gosto, minhas letras são ainda minúsculas, desencontradas, sem ritmo.

Ao lado do querido professor Dell’aira

Ainda sou tudo isso, atualmente me atrevo sim, a me chamar de escritora. E com E maiúsculo e, se puder, rodeado de neon para chamar a atenção.

Abigail foi apenas o começo de uma longa estrada onde já se manifestaram Carminha, Verônica, Lígia e, é certo, que muitas outras surgirão.

Ao lado da amiga Rita que sempre me prestigia

Passei boa parte da manhã mergulhada nos registros fotográficos do lançamento de Abigail, reviver aquele momento me fez sorrir e agradecer a todos que foram e continuam sendo meus mestres.

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Beda 22 – *Tudo vai ser diferente quando eu abrir os olhos…

Aridez. O mundo sofre de vários estágios desse mal. O desequilíbrio ambiental é apenas um deles. Solo ressequido, afeta a vida vegetal. Nada como uma boa chuva para reacender a vida do que é verde. Após a tempestade, toda vida vegetal se ilumina. Parece até que as plantinhas sorriem para a natureza, agradecidas por saciarem a sede. Os rios, espelham com alegria o acúmulo da água recebida em seus leitos e toda vida abaixo da superfície, ficam em estado de graça.

Tenho refletido bastante sobre outro tipo de aridez: a que habita a alma humana. Quando essa resseca, não há creme rico em ácido hialurônico que dê jeito.

Lendo e assistido aos noticiários do mundo, chego a conclusão de que o ser humano está a um passo da extinção, devido ao enrudecimento de seus sentimentos e de sua visão turva diante da vida. A ganância, a ambição desmedida, o egoísmo, o orgulho. Juntos, causam um desastre em toda a sociedade. O consumo, gera pessoas insatisfeitas, a carência afetiva que desencadeia um buraco sem fim nos corações, a falta de oportunidades que estabelece desigualdade social, principalmente nos países do terceiro mundo. E por falar em terceiro mundo, esse termo ainda existe? Sei lá, de repente ando por fora das novas nomenclaturas da geopolítica mundial.

Não gostaria de citar a pandemia – tema pra lá de batido nesse um ano e meio de viver fora do eixo – mas não tem como fugir dela. Bem que gostaria…

Essa situação caótica, tem cavado um abismo cada vez maior entre as classes sociais, principalmente aqui em solo brasileiro.

Queimadas e desmatamento de nossas florestas, lixo hospitalar e doméstico nos litorais, perseguição às minorias, vandalismo em terreiros afro-brasileiro, assassinato de mulheres, índios e homossexuais, desemprego, desesperança… Destino? Será que temos e se tivermos, qual será?

Gostaria muito de saber que tenho vivido um grande pesadelo e que tudo vai ser diferente quando eu abrir os olhos…

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*Este post também faz parte do Projeto Blogagem Coletiva da Scenarium Livros Artesanais