BEDA – Chamado

Hoje

não teve jeito

A vida lá fora

me chamou

pra viver.

Fui…

Esse texto faz parte da blogagem coletiva BEDA (Blog Everyday April). Participam comigo:

Alê Helga – Claudia Leonardi – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

BEDA – Persistir

A vilania caminha solta no planeta. Valores invertidos, Lei de Gerson imperando em todas as áreas da sociedade. Um pega pra capar. Artistas medíocres alçando fama, grana e pior: fazendo as cabeças da juventude, futuro da nossa sociedade. Mais vale agachar  na garrafa rebolando e sendo chamada de cachorrona. Mais vale ser um rapper ostentação com uma pronúncia de doer os ouvidos mais sensíveis e viver de rolos do que estudar. Afinal…Estudar pra quê? Pra virar funcionário engravatado e infeliz que trabalha doze horas e ganha um salário miséria?

Essa é a lógica do momento. Antes transformar seu filho num jogador de futebol pra ganhar milhões e azarar toda mulher gostosa da mídia, dar festas orgásticas, golpe na receita federal, exibir carrão de luxo importado e causar misto de inveja e admiração na galera miserável, que se conforma com migalhas e sonham ser possível um dia, chegar lá também. Sem estudos. Sem leitura. Sem intimidades com as artes a não ser os bailes funks dos MCs da vida. Aí sim! Arte do povo para o povo!

Enquanto isso, vale roubar merenda escolar, bilhete único, remédios populares da farmácia do povo, estuprar aquela gostosa da rua que dá mole naquela roupa mais justa que a própria derme.

É válido também entrar na fila do Bolsa Família e viver de boa só resgatando uma graninha sem se esforçar, afinal, programas sociais visam exatamente isso: ajudar o pobre. Correto?

Bonito também incentivar o filho a ganhar latas de leite em pó na escola, fazer estoque e vender na comunidade carente. Pô, a gente tem de defender o nosso né? Sem esquecer de percorrer igrejas e templos que distribuem cesta básica. Pra que se preocupar e gastar com supermercado se posso ter de graça? Nada mais justo!

Neguinho pisou no meu pé dentro do trem lotado? Passo fogo!

Cortou minha frente no trânsito? Abrevio sua vida!

Folgou com minha mina? Cerol na jugular!

Ideologias que se confrontam. Egos que se chocam. Ignorância que se alastra por toda sociedade. Nivelou-se por baixo.

A violência nunca foi tão banalizada quanto no momento. Cresce feito erva daninha na essência humana. Morre-se. Mata-se. Estupra-se. Ciclo vicioso que parece não ter fim.

E eu, sonhadora que sou, perco meu tempo falando da vida e do amor. Batalhadora voraz, resisto bravamente lendo poesia, escrevendo com otimismo e banhando-me no lirismo de Wood Allen que assim como eu, carrega uma alma cínica diante da humanidade mas ainda traz em sua essência o sonho e a fantasia com trilha sonora de um bom jazz. Vida longa para os sonhadores!

Texto escrito em 2016…Atualíssimo!

Esse texto faz parte da blogagem coletiva BEDA (Blog Everyday April). Participam comigo:

Alê Helga – Claudia Leonardi – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes OrtegaSuzana Martins

Imagem gratuita: Pixels

Vita brevis

Antes que a minha existência acabe o prazo de validade, deixo meu testemunho de que na realidade, neste curto espaço de vida, nada é importante a ponto de perdermos tempo precioso com bobagens, mimimi e cultivo de mágoas. Uma piscada de olho, metade de nossa vida se esvai. Outra piscada e…

E não se termina projetos, não se dá um abraço no(a) filho(a), não se diz “Eu te amo” há tanto tempo ensaiado, não inicia aquele curso tão sonhado, não faz aquela viagem há tanto planejada e…

Se morre em vida e quando damos conta, já é tarde para as despedidas. Não tinha ideia do que escrever por tantos dias, semanas, mês, mas uma partida tão inesperada e próxima de mim, me fez traçar essas linhas para sua e minha reflexão. Não deixe para depois. Sim, somos todos finitos.

Imagem gratuita: Pexels

Mudez

Tenho tanto a dizer no entanto, permaneço encolhida nesse canto escuro. Evito multidões, pego carona no anonimato, negocio com o invisível.

O mundo gira, gira, gira e… continuamos a cometer os mesmos erros do passado. Alimentando ideias e atitudes que não servem mais para o século vinte e um e, mesmo assim, permanecemos apegados a regras e condutas que ferem a humanidade que escapa por nossos dedos. Nos transformamos em quê? Réplicas de rascunhos jogados fora do grande Senhor da Vida. Insistimos em ser o escrito mal desenvolvido, traçados renegados que moldamos de forma irresponsável e dizemos para quem quiser nos ouvir que inventamos algo novo. Nos iludimos e iludimos os demais idiotas que nos seguem sem raciocinar sobre nossas palavras.

A história (triste) se repete e se repete… incansavelmente, se repete. Quero crer que exista algum fundamento para tudo isso acontecer sempre. Ando descrente, em luta interior com meus próprios valores. Enquanto a guerra se desenha em terras distantes, travo uma guerra particular e – confesso – não acredito que haja um vencedor. Assim como lá.

Enquanto a bomba nuclear derradeira não estoura por aqui, ouço Four Seasons, na esperança de que a música acalme e me transporte para paragens mais verdes e que uma brisa suave e perfumada me convença de que tudo é passageiro, inclusive, a ignorância humana.

Imagem licenciada: Shutterstock

Se eu sei alguma coisa?

A dúvida entre ficar no lugar possuída pela paralisia e o ímpeto de sair correndo é a mesma. O que faço? Bailo pianinho, hora dando passadas miúdas de gueixa, ora me arriscando em passos ousados de dançarinos de tango. Assim prossigo. É certo que diante do inesperado ou desconhecido, finjo-me de Inês é morta e aguardo pacientemente a tormenta passar.

Enquanto espero, jogo cartas ou xadrez com o destino. Brejeira, solto meu charme sedutor para ganhar tempo e mudar minha rota, caso seja incerta ou infeliz. Às vezes saio no lucro, outras, nem tanto e em muitas, quebro a cara. Levanto, limpo as feridas e sigo em frente.

Se me perguntam se tenho uma fórmula para viver, nego e respondo que para viver, não existe fórmula ou equação. Viver, requer vontade e uma boa dose de resiliência, ou quem sabe, teimosia. Acrescentada de uma pitada de loucura sem esquecer que alegria é fundamental para a travessia. Ih…. Acho que sem querer tracei uma fórmula do bem viver! Siga quem achar pertinente ou, quem estiver mais perdida que eu.

Imagem gratuita: Pexels

Enrolo em laços e fitas a linha do tempo presente

(Nirlei Maria Oliveira – Palav(Ar)

Nesse período festivo, sou assaltada por sentimentos contraditórios. Num dia, acordo com o coração pulsando de alegria, desejosa de realizar mil planos. No dia seguinte desperto de bode, cheia de ranço do período de festas. Amargo um mal humor no qual nem euzinha me aguento. Insuportável!

Numa sucessão de alegria, expectativa e melancolia, chego aos dias aguardados. Atravesso na alegria e acima de tudo, em paz por fechar mais um ano de vida e realizações. Sentir um pouco de tristeza é natural afinal, nessa época, gostaríamos de estar cercados daqueles que tanto amamos e que já não se encontram nesse plano.

Recordo um a um. Os momentos vivenciados, as risadas soltas, o cheiro que exalavam, a temperatura de seus corpos, a voz…Se por um lado sinto saudades, por outro, sou grata pelos anos vividos ao lado deles. Foi-se o ser, ficaram as lembranças e inúmeras histórias impressas na memória. Sou guardiã delas, portadora de um baú sem fim. Mas não vivo assombrada pelo passado. Trago os pés fincados no presente. Foi uma dura aprendizagem e hoje, posso afirmar que não vivo mais do passado, apenas transito em determinados períodos e saio renovada e ciente de que tiveram seus ciclos encerrados na hora correta. Também não sou daquelas pessoas que só vivem na ansiedade, agoniadas com o futuro. Nunca fui de ler cartas, borra de café muito menos jogar búzios. Como dizia minha sábia avó: “O futuro a Deus pertence”.

Meu barato é dormir consciente de que dei meu melhor. Desperto sorrindo, agradecendo por mais um dia de vida. Temos de desenvolver a sabedoria de respeitar o tempo e também saber usá-lo, caso contrário, seu novelo escorrega de nossas mãos e uma vez solto, perde-se. Falando nisso, enquanto penso, escrevo e reflito, quase perco essa beleza que a natureza diariamente nos oferta: a despedida da tarde e a chegada da noite. Ainda bem que fui rápida em registrar. Amanhã tem mais…

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

Imagem: Kaboompics

Em delírio me transporto ao limbo

(Katia Castañeda)

Me pego pensando: Sonho quando estou dormindo ou tenho vivido desperta, num pesadelo sem fim? O planeta passa por absurdos que seriam plausíveis apenas no campo ficcional de um escritor muito criativo.

Não posso fugir da análise de nossa realidade: a brasileira. Uma jovem nação que sofre com o efeito gangorra e a síndrome do Quase. Todos nós já fomos “quase” alguma coisa. De minha parte, já fui quase bailarina clássica, quase uma cópia da ginasta romena Nadia Comaneci, quase uma profissional das Letras, por um triz, deixei de ser arquiteta e design de interiores. Por pouco, muito pouco, um tantin assim, fui um ser humano quase perfeito. Ufa! Ainda bem que escapei, caso contrário, seria mais chata do que sou.

Contrariando o dito “normal”, fui uma das poucas pessoas da minha geração na família, que se formou no ensino superior. Fui vista como uma quase E.T….essa menina é esquisita, lê e estuda demais!

Cozinhando no caldeirão da vida, misturei especiarias da realidade, da ficção, tirei de minhas entranhas, sonhos tecidos por expectativas de dias melhores, acrescentei pitadas de quimeras alheias, deixei fumegar. Quem sabe dessa mistura surja um aroma de possível novidade no ar. Sigo em frente obstinada em viver bem comigo mesma porque só assim, consigo dar conta do entorno e dos que me cercam.

O que? Me transportar para o limbo? Não percebeu ainda Cara Pálida? No limbo nascemos e vivemos. Não importa se você nasceu nos Jardins, em Alphaville, no extremo do Jardim Angela, ou na Serra Gaúcha. De norte a sul, travamos luta insana para subir no pescoço dos demais e tentar sair desse fosso escuro. Utilizo do delírio da escrita e da leitura, para alçar voos e ir de encontro à claridade do Sol, nem que para isso, tenha minhas asas derretidas feito Ícaro. Se na queda cair nos braços de um dos perpétuos, estarei no lucro. Deixo avisado de antemão: só aceito se for nos braços de Morpheus, criação de Neil Gaiman afinal, se é para sonhar, que seja em grande estilo.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia –  Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

Imagem: Quadrinhos Sandman (Reprodução)

Confesso não percebi o momento de nossas mãos algemadas

Ao ler a poesia de Adriana Aneli, sou tomada por uma magia, uma sensação de voltar de onde viemos. Tenho ciência do ciclo ao qual pertencemos: nascemos, nos transformamos e ao término – sempre há um término – perecemos para que o novo surja belo. É o ciclo de tudo, da vida. Espiritualista, abraço tal ideia e creio nessa possibilidade. E esse sol da tarde, tecido e dividido conosco através de seus poemas, aquece nossa alma humana sempre em conflitos e tomada pelo medo.

Chego hoje ao término do dia, já em meio a noite, de coração apertado, pulsação fraca, umidades nos olhos embaçando a tela do note. A confirmação de que somos todos e todas Libélulas a buscar a vivacidade, beleza, talento batendo as asas insanamente. Tentando registrar para a eternidade, nossa passagem, antes da queda que coloca um ponto final.

Intencionava escrever algo bem diferente, talvez mais leve, romântico. Mas não tive romance em minha existência, não fui personagem de novela global das 18h, nem fui premiada com beleza de miss universo. Trago um coração imenso preso dentro dessa caixa torácica. Ele transborda amor por tudo e por todos.

Minhas algemas não são aquelas utilizadas numa noite de sedução, minhas amarras são mais sutis, não ficam à vista. Sinto as mãos da humanidade presas umas as outras. Por isso, a infelicidade de um afeta a felicidade do outro.

E hoje, ajoelhada diante desse céu repleto de uma constelação de luzes LED, sofro um grito natimorto. A agonia presa na garganta me corrói. Sei que isso vai passar. Amanhã, desperto renovada com a alegria e esperança latentes mas, por hora, dá licença: parafraseando e tomando emprestado o título do mangá de Aya Kito, preciso despejar 1 livro de lágrimas.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes –  Mariana Gouveia –  Obdulio Nuñes Ortega  Suzana Martins

Imagem licenciada: Shutterstock

Aos cuidados de novembro

Amanheceu nebuloso, um gostinho de quero mais debaixo dos lençóis no entanto, a vida me puxa para a realidade: dar conta de tudo em pouco tempo e sair correndo disputando lugar nos vagões do metrô.

Sinto como se sofresse da síndrome do “Feitiço do tempo”. É um tal de acordar, abrir os olhos, levantar…Fazer todas as tarefas cotidianas…Lembrei da canção do Chico Buarque “Todo dia ela faz tudo sempre igual”…

Havia até pensado em escrever um outro texto mas a dura realidade que nos apunhala pelas costas diariamente, me fez mudar de ideia.

Tenho observado o comportamento de seres que se dizem “humanos” e confesso que tenho me decepcionado. Hoje, fiz parte de um acontecimento que me deixou não de queixo caído como se costumam expressar. Fiquei de expressão cerrada. Tranquei meus lábios, mordi minha língua, torci os músculos da garganta para não perder a compostura e vociferar impropérios a um grupo numeroso de trogloditas que invadiram o restaurante que costumo almoçar. Chegaram ferozes, velozes, arrastando mesas, tomando espaço e, grudados à minha mesa, meio que forçaram minha saída dali afinal, mais trogloditas estavam chegando e eu claro, estava atrapalhando. A dona do restaurante, obedeceu a um comando do líder da matilha e pegou outra mesa para colocar grudada à mesa em que me encontrava. Resumo da ópera: irritada, sem mal ter tocado na comida, levantei e saí.

No caixa, a dona veio sem graça pedir desculpas pelo ocorrido. Disse que eu poderia ter mudado para outra mesa, no que respondi: eu cheguei primeiro. Isso não se faz com ninguém. Tremenda falta de educação deles e falta de tato da senhora em me sugerir isso. Mas tudo bem afinal, um grupo maior que come muito, pagará bem mais que eu, uma mulher madura que come feito passarinho e paga pouco. Sem dúvidas EU sou o prejuízo. A partir de quinta-feira, volto a levar minha saudosa marmita. Ganho duplo por cuidar da saúde do corpo e do bolso.

Após respirar e inspirar diversas vezes para acalmar a alma e dispersar toda e qualquer energia negativa de mim, retorno abrindo os braços para o mês onze que chega chegando, nos arrastando para o término de mais um ano, fechando ciclos, se abrindo para novas possibilidades, nos impulsionando para reflexões, mudanças de atitudes e quem sabe até o dia trinta e um de dezembro, eu perdoe essa cambada de ignorantes que hoje me tiraram do sério.

Inspira… Expira, Imagino uma paisagem bonita, calma, o sol a aquecer o corpo, a alma, extirpando toda essa neblina que me embaça os olhos…

Ahputakiparil, tá froids, dificil de perdoar. Pai, eu ainda não sou evoluída!

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna GuedesMariana GouveiaObdulio Ortega NuñesSuzana Martins

Imagem licenciada: Shutterstock

Retornando

Aceite: a vida jamais é linear. Está mais para uma imensa montanha russa. E quer saber? Gosto disso. A adrenalina que percorre nossas artérias quando enfrentamos altos e baixos nos faz sentir vivos. Tenho vivido desde 2017, uma maratona de acontecimentos que posso afirmar tragicômico. Perdas de pessoas amadas, estresse profissional, relacionamentos interpessoal difíceis. Sei que não estou sozinha nessas experiências. Sei também que tem pessoas que passam por situaçõrs bem mais dolorosas. Respeito e aceito.

Fora do mercado de trabalho desde dezembro de 2020, voltei-me para a escrita que sempre foi algo que pulsava dentro e eu abafava, não assumia. Foram meses gratificantes e conheci pessoas incríveis através das aulas das oficinas literárias, promovidas por Lunna Guedes.

Entre dois lançamentos pelo selo de livros artesanais Scenarium e idas e vindas à casa de minha mãe, para matar saudades e auxiliar a cuidar da casa e da tia doente, amadureci enquanto ser humano e escritora.

Andei bem sumida das redes sociais e daqui desse espaço que tanto prezo: o blogue. Estado de saúde de tia piorou, veio a falecer em vinte de dezembro. Antes mesmo de atravessar o luto, mamãe caiu doente e foi hospitalizada. Covid. O mundo caiu para mim e minhas irmãs e irmão. Por ter tomado as três doses da vacina e ter tomado também a da gripe, os médicos disseram que ela pegou uma “branda”.

De alta, em casa, ela tomou a resolução de curtir a vida como se deve e eu, virei mais fã dessa mulher que sempre foi um espelho e exemplo para mim.

Para iniciar o ano de 2022 mais feliz, amanhã inicio nova fase de vida profissional num colégio que – desde já – caí de amores. Um desafio a enfrentar e traçar meu nome por lá. Voltar a viver entre livros, para mim, é beber da água santa e me renovar diariamente.

É como disse: a vida não é linear. Sigamos. Convido a todos para trilhar comigo sorrindo e superando esse “bicho-papão” viral que tanto nos afastou. Claro, continuemos com os protocolos e os cuidados necessários. Em breve, nos encontramos presencialmente para um café e um bom batepapo.

Imagens: Acervo pessoal