Em terra de Raimundo…

Sou observadora. Do tipo que mais prefere ficar nos bastidores que aparecer. É através dessa minha lente que retiro matéria e personagens para meus textos. Mas também assunto para muita reflexão.

Em tudo que faço busco sempre a paixão. Por isso fico pasma, de boca aberta mesmo em ver o quanto a maioria das pessoas simplesmente passam por essa vida anestesiadas.

Preferem o ócio não produtivo pelo simples fato de gostarem de não fazer absolutamente nada. Passam uma vida inteira trabalhando em empregos miseráveis, não se preocupando em evoluir, em melhorar suas vidas e a de seus familiares. Não se preocupam em aprender seja lá o que for. Não leem, não se aperfeiçoam em nada a não ser suas raízes fincando-se cada dia mais fundo no nada.

Pessoas que olham seus colegas com ranço de inveja por vê-los galgarem degraus na empresa, se formando na faculdade, se especializando, e maldizerem com um riso torto: “Ah, fulano ou sicrano se vendeu, puxou o saco do chefe, saiu e fez hora extra” e por aí vai tantas outras frases infelizes que expõem sua pequenez de espírito.

Pessoas que reclamam diariamente de sua chefia mas que não fazem nada para melhorar a rotina do trabalho. Ideia brilhante? Nunca pois só se preocupam com os próximos feriados prolongados onde poderão assentar suas bundas gordas no sofá de casa e se deixar anestesiar pelos programas alienantes da TV.

Isso tem me preocupado nos últimos tempos pois vejo que grande parte da nação se encontra nessas condições. Daí, a sociedade estar do jeito que está. Poucos, bem poucos são conscientes de suas obrigações, responsabilidades. É mais fácil jogar toda a responsabilidade do que não dá certo no governo do que arregaçar as mangas e ir a luta.

Quando leio ou ouço a frase: “O gigante adormecido”, penso comigo: não existe frase mais mentirosa que essa. Afinal, para ser gigante é preciso se alimentar bem para crescer acima da média. O que foge totalmente ao perfil de nossa sociedade. Para crescer precisa-se mexer, fazer atividades – não somente a física -, mas, principalmente intelectuais. O que só me faz chegar a seguinte conclusão: Não passamos de um embrião em estado latente de inconsciência!

Duro isso! Sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer crescendo, evoluindo mas já conquistei muitas coisas boas pra mim. Triste mesmo é não ser cego em terra de malandro e escroques e ainda assinar atestado de abestado por ser honesto.

Mundo, mundo! Vasto mundo! Sai Raimundo, entra Edmundo e as coisas continuam no mesmo patamar: lama por todos os lados! Mas quer saber? Tatudooquei!

Impermanência

Como permanecer lúcida, se a realidade mostra-se mais surreal que muitas de minhas viajadas? Como manter-me calma, se a humanidade grita e bate e mata numa histeria sem fim? Chego a parecer sem alma diante desse quadro anormal.

Desejo amar no entanto, sou incapaz de me entregar. Carrego grilhões invisíveis que me impedem sair do lugar. Transito apenas locais que me é permitido: casa, trabalho. trabalho, casa. Quando muito, patrão Vida permite que tenha alguns minutos de prazer. Um cinema, um concerto, uma dramaturgia para anestesiar meus dias. Alguma orgia também, afinal, ninguém é de ferro. Mas sempre retorno mecanicamente para minha gaiola de luxo.

E o vazio faz moradia em meu interior. Serei eu também de lata? Estarei fadada a terminar meus dias num ferro velho tendo por companhia carros velhos e a ferrugem como carícia mais íntima?

Olho ao redor e nada reconheço como meu. Não pertenço a nada nem a ninguém. às vezes isso é bom, outras, nem tanto. Para que a gente vive mesmo? Gostaria de lembrar…Deixei cair o manual da boa sobrevivência ao estatelar de boca nesse mundão de meu Deus. Enxerguei tanta beleza que esqueci a parte prática. Me lasquei! E agora, sigo percorrendo vias, rastejando estradas vicinais da memória, sempre em busca de um porque.

Envelheci. Tudo isso é novidade para mim e, mais uma vez, vejo-me perdida sem saber que rumo tomar. Quem não me conhece – e olha que são todos, imagina que sou o ser humano mais feliz do planeta. Eu, por outro lado, me acho uma boba alegre que jamais saberá pra que isso tudo e o que é viver. Contudo, assim como a maioria, não desejo morrer…

Temo que o outro lado seja mais enfadonho que essa nossa realidade. Não quero pagar pra ver.

Recomeçar

Meu final de ano foi atípico. Acostumada a correria insana e o mergulho no consumo descontrolado, próprios dos finais de ano, dessa vez foi totalmente diferente.

Por conta da doença de meu tio e seu falecimento no início de dezembro, a família achou por bem, manter apenas a reunião familiar sem os festejos comuns e trocas de presentes. A presença de todos era o que buscávamos.

Desliguei-me por completo de noticiários, redes sociais e voltei-me para a convivência familiar.

Devo dizer que foi o melhor Natal em muitos anos! Pelo menos para mim que só ansiava o olho no olho, o abraço apertado e sincero, a conversa descompromissada, as risadas descontraídas.

Só não foi perfeito por receber uma mensagem avisando da morte de George Michael, do qual sempre fui fervorosa fã. Simplesmente fiquei anestesiada. Nem quis ler muito a respeito de como ele morreu. Bateu uma dor fina no peito. Segui adiante não procurando saber mais. Atravessei a semana tranquila, peguei bastante sol que me aqueceu a pele tostada pela luz do ambiente de trabalho. Senti que meu interior também aqueceu. Meu pensamento planava passando por todas as raras notícias que peguei de relance. Todas, infelizmente ruins. Se fosse uma pessoa de índole pessimista, acredito que teria terminado minha existência antes mesmo da virada do Ano Novo. Mas não sou assim. Apesar de tudo, mantenho minha alma serena. Trabalho para não entrar nessa sintonia negativa em que a maioria se atira de cabeça esbravejando nas redes sociais que o ano de 2016 foi uma merda, foi horrível, foi tenebroso.

Perdoem minha posição diante disso tudo. Não consigo pensar nem sentir assim. Tive tanto a agradecer por esse ano. Sou pura gratidão. Mas não se enganem achando que faço aqui um tratado autoajuda. Sou grata no entanto, sou consciente de que tudo o que conquistei nesse ano, não foi obra do acaso. Tudo o que conquistei foi fruto de muitos anos de trabalho externo e interno. Mergulhei fundo na minha essência e malhei o conformismo em matéria de transformação pessoal. Deixei de lado a zona de conforto e me mexi. O resultado foi apenas consequência de meus passos. Provei a mim mesma que é possível alcançar um sonho. Basta sair da postura dormente e trabalhar para realizar. Passo a passo, etapa por etapa. E claro, acreditar naquilo que se deseja almejar.

Calma. Não precisa achar que estou aqui num blábláblá de autoajuda. Longe de mim! Cada um, cada um.

E o ano de 2017 inicia mansamente mas, já apresentando suas cartas sobre como será.

Desejo apenas que você, assim como eu, lute contra esse pessimismo coletivo que assola a grande maioria. Não queira ser “Maria vai com as outras”. Ouse, arrisque-se, mostre seu potencial. Não tenha medo de sair de sua zona de conforto. Lembre-se: ela é conforto somente no nome. Entrar nessa zona é altamente maligno. Causa mal estar e transforma-nos em estátuas de sal. Não tenha medo. Ou, por outro lado, tenha sim mas não permita que ele te paralise diante das situações que se apresente. Que sirva apenas de norteio para seu caminhar e te proteja de ataques. Independente da crença que se tenha, deixo aqui, um lema que norteia meu caminhar que foi dito por Chico Xavier que seu mentor espiritual, Emmanuel, sempre disse e eu acho o máximo da boa vivência:

Confia e segue!

É com essa máxima que termino meu texto e convido a todos para seguir o ano de 2017 lembrando-se dela e transformando esse simples frase num coquetel vitamínico que te impulsione para frente. Feliz e consciente 2017 para toda a humanidade!

P.S: Em tempo, falei acima do George Michael e deixei de finalizar. Hoje, após uma semana de seu desaparecimento entre nós, tomei a iniciativa de ouvir toda a sua discografia. E tive a confirmação daquilo que já sabia: Que cantor maravilhoso ele foi. Não me interessa sua vida pessoal, seus erros e acertos. O que ele deixou para a posteridade através de sua bela voz, pra mim é suficiente. Descanse meu querido.

Máscaras

mascaras

Como expressar o que sinto no momento? Não sei. Muitas perguntas sem respostas.

A única certeza que trago comigo é que nada sei.

Sorrio. Lembrei-me do filósofo que – segundo dizem, (não estava lá para saber) – dizia algo parecido. Simpatizo-me com ele. Nunca saberemos e quem afirma, engana-se a si mesmo.

O planeta gira numa velocidade “Sennica” e eu, nesse meu passar lento e miúdo, presencio flashs de acontecimentos e pessoas que percorrem a arena da vida desatinados correndo atrás de nem sei o quê.

Em minha lenta forma de viver, prefiro dar uma parada numa cafeteria e mergulhar numa xícara de café. Sou fiel a esse meu assumido vício. E claro, observar. Muito. Está certo. Assumo perante vocês que sou uma voyeur. Sofro de um prazer mórbido em desviar meus olhos e atenção à vidas alheias. Aprecio captar olhares, expressões, movimentos corporais que estimulam minha criatividade.

Amo a natureza. Flora e fauna trazem belezas indescritíveis. No entanto, nós humanos, trazemos conosco algo que nada na natureza contém. Essa capacidade de se expressar em gestos, ações, gritos, silêncios que nada se compara.

Apesar dos pesares, ainda aposto na natureza humana. Essa pedra embrutecida que carrega em seu interior, um diamante raro, de um brilho ímpar. Muitos, em poucas lapidadas se mostram em vida seu valor.

Outros, mais endurecidos, levam uma eternidade sendo moldado, raspado, amaciado e ao seu término, definha embaçado. Mesmo esses, que ninguém teve a capacidade de ver, trás em si, a beleza e valor encobertos por uma poluição da alma. Quem sabe, alguma mente mais elevada possa reconhecer seu valor.

Digo isso porque sentada na praça, após o almoço, admiro a movimentação, me deixo levar por esses pensamentos livres…

Olha só que graça a babá brincando com um bebê lindo, sorridente, em suas primeiras tentativas de andar…

Do outro lado, levemente encobertos por uma moita, um jovem casal em uniformes escolares, arriscam-se em carinhos mais ousados…

Mais adiante, outro jovem negocia drogas com um traficante. Achando que ninguém os vê…Ou, nem se importam que vejam. Tão comum.

O sol está ameno, convidativo a ficar. Mas, para quem é escravo do tempo, ele urge. Levanto-me de forma preguiçosa, refaço o caminho para a empresa.

Sempre de forma lenta afinal, para que a pressa? Tenho minha pequena dose de eternidade para brincar de ser gente. E brinco!

Hora do regresso: 12h53. Passo a catraca e transformo-me novamente na profissional séria e competente que todos conhecem.

Imagem: Google

Ano estranho de se viver

cultura de massa

O carnaval passou e o ano de fato iniciou. E o agora vem repleto de dúvidas, temor, raiva e desconforto afinal, não sabemos o que nos aguarda. Ou, talvez saibamos mas preferimos fingir que nada sabemos.

O brasileiro, em sua já conhecida apatia (e eu, me enquadro nesse grupo), continua a olhar pela janela vendo o tempo passar. Exatamente como Chico Buarque tão bem exemplificou em sua canção Carolina. Passaram os blocos carnavalescos, os blocos da corrupção. Está passando a passos miúdos, o bloco da dengue,  com destaques para o zika e chikungunya.

E nós brasileiros, tomados pela apatia patológica, seguimos feito zumbis. Metendo a mão no bolso para pagar impostos que já se encontram embutidos em todas as mercadorias. Reclamamos porque fomos educados (ou devo dizer, adestrados?) para reclamar de tudo. No entanto, sentamos toda noite em frente a telinha, assimilando todo tipo de informação (verdadeira ou não). Não adquirimos o hábito de refletir sobre as mesmas e, tomamos como verdades absolutas, tudo o que vemos na tela do Plin-Plin.

Dessa forma, nossa circunferência se amplia dia a dia de tanto engolir sapos. Passamos mal, procurando a saúde pública que agoniza em estágio terminal. Compramos remédios nas farmácias sem nem saber se são bons para nossa saúde. Transformamos nosso organismo num mix farmacológico e ainda temos a cara de pau de falar em outras drogas e seus viciados. Não percebemos a quantia absurda que temos em nossos armários. Remédios de tudo e para tudo. Se automedicar, transformou-se na pós graduação que todos têm acesso na universidade da vida.Temos moral para criticar algo ou alguém?

Óbvio que não, contudo, mesmo assim seguimos nossa caminhada – ou devo dizer derrocada?, achando que sempre os outros é que são os errados na história da humanidade.

Só sei, que nada sei, diante de tantos acontecimentos, no mínimo, estranhos que tem surgido apenas nesse primeiro semestre do ano de 2016. Temo não ter raciocínio e fundamentos suficientes para poder analisar e criticar de forma consciente e correta. Só sei que sinto. E muito. Só sei que desejo. E muito.

Ver um dia nossa nação feliz, elevada e acima de tudo, consciente de seu papel.

Será sonhar demais? E sonhar demais, será errado?

Imagem: Google

Filosofia de buço

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Sabe aquele momento em que você se pega num tique nervoso querendo arrancar de toda forma um maldito pelo no buço?

Pois é… Através dessa luta insana começo a filosofar sobre os porquês da vida.

Começo a questionar o porque de nós mulheres, sofrer tanto. Da hora em que nasce a hora em que estica o esqueleto de vez batendo continência pro altíssimo.

Lembro do sofrimento de minha mãe prestes a dar à luz minha irmã caçula. Coitada das duas.  Minha irmã estava sentada e minha mãe sofria dores horríveis. Por conta disso, minha irmã nasceu com as perninhas moles. Buscando lá atrás nas minhas mais longínquas lembranças, recordo de meu sofrimento com uma panela enorme no fundo de minha boca, tomada pela cárie e inflamada. Pensei que iria morrer tamanha era a dor. Mais tarde, ao entrar na puberdade, a dor mensal tirava meu humor. Coisa mais chata!!! Sempre dizia isso pra minha mãe e ela, meio que para me consolar e também acabar comigo dizia: Vá se acostumando que isso é só o começo. Vai ver só quando tiver seus filhos.

Não os tive. Deus achou por bem me poupar desse sofrimento. Em compensação, numa atitude sacana, acariciou com uma mão e me estapeou com a outra. Sofri dores das mais variadas intensidades e graus. Uma das piores foi sem dúvida, a dor de (des) amor. A ilusão da juventude colocou uma lente de aumento em meus olhos e em meu peito fazendo meu sofrimento ampliar de forma descomunal. Hoje, aos cinquenta e dois anos tenho certeza de que meu coração é super saudável caso contrário, já teria regressado à pátria eterna faz é tempo. Resisti, sobrevivi. Nesse ínterim, senti dores de barriga, cólicas, enxaqueca. Coluna então, já virou crônica.

E o sofrimento, esse companheiro imposto, acompanhou-me em diversas situações, idades, momentos. Apesar de tudo que já passei pela vida, mantive meu bom humor e o mau também pois é característica minha. Aliás, adoro ser mau humorada. É nesses rompantes de mau humor que tenho as tiradas mais inteligentes e divertidas. Acreditem!

Sofri por ansiedade em alcançar algo, por desejar alguém, por ansiar por realizar projetos, por, por, por…

Cheguei a seguinte conclusão: tanto se fala em ansiedade nos dias atuais que isso acaba por se materializar em nosso cérebro que por sua vez, descarrega em nosso corpo fazendo-nos sofrer. É isso! Mas também se não for, poderia dar uma boa história não?

Nossa! Mas porque mesmo comecei a falar tudo isso? Já me perdi…

Cáspita! Tudo começou por conta desse maldito pelo no buço. Viajei legal hein? Mas falando sério agora: Não é irritante esses pelos surgirem da noite para o dia em sua cara? Ninguém merece!

Imagem: Thinkstock

Balanço geral

eu chanel

Meu sobrenome é Saudade. Nasci sob total influência da Lua, em plena noite de São João, que até então era considerada a noite mais fria do ano. Hoje isso já não regula. No entanto, as lembranças que guardo de minha infância, são todas envoltas numa neblina fria aquecida pela fogueira do Santo. Para os entendidos, sou uma canceriana legítima com todas as características do signo: pura emoção, guardiã do passado, saudosista, espírito maternal, ciumenta…Chata!

Hoje, após anos de psicanálise, tenho consciência do quanto fui chata no passado. Não que hoje tenha alcançado a cura definitiva de meus defeitos. Disso ninguém se cura, não se iluda. Mas que atualmente sou mais flexível, isso é fato. Através do sofrimento – muitas vezes exagerado, confesso, burilei meu ser aprendendo a domar meu mau humor, minha irritação, minha inclinação a autocomiseração. Não foi fácil. Derramei muitas lágrimas principalmente nos três últimos anos.

lili na escolaAcredito que valeu a pena essa faxina. Purifiquei minha alma, esvaziei meu dique das emoções nocivas que corroíam as paredes de meu estômago e com isso, encontro-me mais leve, menos ácida.

Acato a vida como ela se apresenta e aceito as pessoas exatamente como elas são. Isso não significa que tornei-me uma ameba que a nada reage. Experimente pisar no meu calo pra ver o que faço! Não queira ver essa canceriana na gira! Vá por mim e caso um dia me encontre assim, passe bem longe de mim.

Mas olha, esquecia de comentar uma faceta muito peculiar de minha pessoa: sou extremamente palhaça. O tipo que ironiza a tudo e todos. Nem sempre exponho esse meu lado. Aliás, bem poucas pessoas conhecem. No geral, procuro manter a pose da bibliotecária séria. Tem até aqueles que me temem. Pode? Contudo, no dia a dia sou conhecida como a Garota (não tão garota mais) Sorriso. É meu lado Pollyana que sempre se faz presente.

Um aviso aos navegantes: Cuidado com o que fale ou faça perto ou para mim. Tenho uma memória que bem poucos têm. niver edileneNão esqueço absolutamente nada. Guardo tudo muito bem catalogado em minhas fichas do grande e infinito arquivo das memórias com direito a palavras-chave infindas. Ótima fisionomista portanto, se estiver em minha mira nem tente fugir ou disfarçar ou mesmo se esconder. Te acho! E tenho toda a paciência do mundo para finalizar aquilo a que me propus. Posso demorar mas concluo. Tenho meu próprio tempo. E falando nele…

Hoje comemoro meu nascimento. Pular a fogueira (hoje só em pensamento porque a carcaça endureceu), apagar as cinquenta e duas velinhas.

Haja fôlego! E agradecer por mais um ano de vida. Ao contrário de muitas pessoas que conheço, gosto de aniversariar. Gosto de receber abraços e afagos. Sou grata pela vida que me foi ofertada. Não desejando ser piegas mas já sendo (outra faceta da canceriana), agradeço tudo o que recebi da vida até hoje. E o que não alcancei, não tenho problema algum em praguejar, excomungar, babar de raiva e frustração e depois, passado o momento de ira, sossego meu íntimo e parto com alegria para uma nova jornada e conquista. Assim sou eu!

eu com colarAo final das contas, no balanço geral, sou feliz. E feliz convido a todos para vir ao meu Arraiá de São João. Aqui mesmo nesse local.

Entojo

Hoje, diante de todos os acontecimentos recentes, lembrei-me do livro “Quem mexeu no meu queijo” e de outras fábulas existentes. Por algum momento não enxerguei seres humanos. Visualizei ratazanas, baratas e demais seres menores a correr um atrás do outro, a farejar cheiro de podridão, de esgoto, de lixo, de carniça.

É impressionante como o brilho nos olhos se intensifica quando anuncia-se uma tragédia! A vida de muitas pessoas parece ganhar matiz de um colorido diferente.

Lembrei-me também da canção de João Bosco:

“Tá lá o corpo estendido no chão…”

Diante de situações assim, sinto-me fora do contexto, fora da gaiolinha, fora da ordem mundial.

Isso me faz lembrar de Caetano…

O mundo nunca foi um palco onde se encena finais felizes. Está muito mais pra tragédia grega, BBBs da vida e ópera bufona. Mas de tempos em tempos havia aquela estiagem para dar tempo da gente respirar um pouco e achar que a vida é bela.

Mas ultimamente…

Ultimamente tenho lembrado muito de outra canção:

“Eu desisto! Não existe essa manhã que eu perseguia/Um lugar que me dê trégua ou me sorria/E uma gente que não viva só pra si/Só encontro/Gente amarga mergulhada no passado/Procurando repartir seu mundo errado/Nessa vida sem amor que eu aprendi/Por uns velhos vãos motivos/Somos cegos e cativos/No deserto do universo sem amor”…

Nossa, como essa canção é atual, atemporal. Vocês conseguem reconhecê-la? Alguns com certeza, outros nunca ouviram falar dela nem de seu compositor: Taiguara. Um de meus preferidos.

Mas não era sobre ele que queria falar no entanto, sua canção traduz perfeitamente o que sinto no  momento.

O que desejo escarrar na realidade (perdoem-me os mais sensíveis), é a minha in dignação com a raça humana. Não sou nenhuma perfeição da natureza mas procuro na medida do possível, ser uma criatura ética, respeitadora, compreensiva. Às vezes consigo ser nota dez, outras tantas sou abaixo de zero e na média consigo conviver com as pessoas numa boa. Sigo os conselhos e ensinamentos do mano véio que deu sua vida para nos ensinar algo de bom. Não sou de bater no peito que sou isso ou aquilo mas me contento em fazer ao meu próximo o que gostaria que fizessem por mim. Simples assim!

No entanto, parece que o mundo (digo a humanidade) despirocou de vez! Perde-se a compostura, perde-se a vergonha na cara, perde-se a decência, perde-se a capacidade de amar verdadeiramente.

Ama-se no formato Global, de forma plastificada, botocada, falsa. Ama-se de forma facebukiana, twiterada, watsapada… falsificada.

E eu, cá agachada em meu cercadinho só observo e sinto-me enojada. Gostaria de retornar para a placenta quentinha de minha mãe!

Sei!Sei! Sei que é impossível! Não precisa repetir isso que já sei. Mas a vontade permanece aqui latente em meu ser.

Vivendo numa sociedade mais falsa que nota de mil, gostaria de ter nascido uma ameba, uma bactéria ou simplesmente uma planta que segue seu destino cumprindo seu nascimento, desenvolvimento e morte de forma tranquila sem se preocupar com o vizinho se faz assim ou assado para viver. Simplesmente existe.

Por algum instante gostaria que a humanidade fosse assim também

No entanto, tenho consciência de que estamos longe disso e que talvez nunca alcancemos tal evolução. Viemos mesmo pra chafurdar na lama da corrupção, da malandragem, da facilitação das coisas, do jeitinho “brasileiro” e continuaremos a nascer, viver, morrer e feder da mesma maneira com uma única diferença entre os demais seres vivos: carregaremos sempre o pesado fardo da consciência (ou falta dela) a nos lembrar sempre que nada somos apesar da arrogância, da soberba, da cegueira da alma de todos.

E encerro por aqui porque amanhã com certeza teremos mais. Sempre temos mais.

Demais!