BEDA – Viver entre livros

É um luxo, morando num país assolado pela miséria. Sou grata demais por ter sido apresentada a esse universo da escrita que me transformou por completo. Fui julgada por ler demais, estudar demais. E olha que nem era assim uma estudante devotada. Posso até afirmar que fui leviana em minha adolescência. Poderia ter saído do antigo ginásio e depois do segundo grau com notas melhores. Bastava ter me dedicado um pouco mais.

Contudo, a ânsia em descobrir o mundo real e não o imaginário tomava conta de meu ser . Por isso me jogava na vida querendo tomar goles enormes dela. Engasguei muito, solucei igualmente mas saí com uma sensação de viver imensa.

Somente após os trinta anos esse comichão adolescente se assentou e descobri o prazer da leitura e o gosto em trabalhar com livros.

Nunca mais parei. Ou melhor, até saí mas não consegui ficar longe por muito tempo. Retornando a boa filha à casa, reencontrei e reconectei minhas antenas com tudo de bom que eles proporcionam. Uma dos pontos positivos, foi voltar ao prazer de conhecer pessoas e transmitir conhecimento além de receber também muito aprendizado. Afinal, somos mestres e alunos ao mesmo tempo e para aprender, basta manter olhos, ouvidos e a alma escancarada para beber da fonte do saber.

Na realidade, nem sei ao certo porque esse tema e texto surgiu. Talvez, seja por ter passado um dia tão alegre e presenciado os olhos de uma criança brilhar ao receber além de minha atenção, o carinho e a disposição para transmitir lições de vida que vão muito além do simples “sugerir uma leitura” dentro de uma biblioteca escolar.

Sou toda gratidão por conviver num ambiente sagrado entre os milhares de mestres universais que temporariamente se escondem nas páginas de um livro cerrado em estantes. A frieza está somente no aço de que são feitas porque os corações que por aqui passam, ah… esses, fervem de sentimentos e emoções.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva BEDA Blog Every Day August

Participam comigo:

Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega NuñesSuzana Martins

Imagem licenciada: Shutterstock

Retrospectiva literária

O ano de 2021 foi bem agitado para mim. Dediquei mais tempo à escrita do que a leitura e mesmo assim, consegui ler livros bem interessantes que recomendo.

Fiz uma nova leitura de A elegância do ouriço, de Muriel Barbery. A cada passada de olhos por essa história, novas descobertas e deslumbramentos filosóficos. Sou totalmente fã dessa obra. Repleta de personagens ricos e humanos. Destaque para Renée, a zeladora do prédio e a jovem de doze anos, com ideias suicidas, Paloma.

Voltei a reler também, o livro de poesias Arrebatamentos e outros inventos, de Jorge Ricardo Dias. O dia a dia tão árduo que vivemos nesse ano, me fez voltar a ler poesias para dar uma leveza à realidade. O livro é um apanhado de poemas e sonetos do poeta carioca – que sabe manejar com maestria – as palavras e seus significados.

Continuando na pegada poética, tive o prazer de ler o livro Dentes moles não mastigam pedras de Manogon. Multiartista, atua na dramaturgia, é desenhista gráfico e escreve poemas com temas do cotidiano, através de notícias diárias. Poemas que retratam o duro cotidiano da periferia, com suas mazelas e belezas. Gostei demais da escrita dele, desde já, recomendadíssimo!

Iniciei a leitura do livro As ondas, de Virgínia Woolf e, confesso que ainda não consegui dar seguimento e término dele. Talvez não esteja preparada para a história. Talvez o momento não seja o certo. Mas, ler Woolf é sempre uma aventura então, recomendo a quem deseje conhecer essa escritora britânica.

Li as publicações da Scenarium Livros Artesanais que muito me encantaram. As antologias Casa Cheia, Casa de marimbondos, Roteiro imaginário, A quinze minutos do fim, do qual tive participação. Destaque especial para o belíssimo e recém lançado Colcha de retalhos de Mariana Gouveia. Livro de uma delicadeza e personagens muito bem traçadas que me emocionou ao término da leitura. Numa outra postagem, falarei mais dele.

Enfim, essas foram minhas leituras do ano de 2021. Apesar de uma lista menor, a qualidade dos livros falam por si. E você, o que leu no ano de 2021?

Esse texto faz parte da blogagem coletiva promovida por Lunna Guedes. Participam:

Ale Helga Darlene ReginaLunna GuedesMariana Gouveia

Dia Nacional do Livro

O espaço da biblioteca foi para mim, extensão de minha casa. Aliás, devo dizer que passei mais tempo nela do que em casa. Tive o privilégio de viver cercada por livros. Muitos livros. Não contente em passar o dia cercada por eles, ao final do expediente, sempre dava uma passada pelas livrarias próximas: Livraria Cultura, Livraria Martins Fontes, Fnac (infelizmente não existe mais por aqui), e outras pequenas. Para ficar por dentro do que havia de novidades na área e, pelo puro e simples prazer em permanecer nesses espaços.

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Há quem me achasse louca. Quantas vezes não ouvi que deveria buscar outras formas de diversão e ocupação. Quer saber? Esses espaços sempre me preencheram : cultura, informação e lazer. Juntos, num único espaço. Nunca me arrependi.

Hoje, afastada de uma biblioteca, permaneço cercada por meu acervo pessoal, que ainda tem muitos livros a serem lidos e outros que pretendo reler.

Outubro é um mês fecundo em comemorações relativas ao livro: mês internacional da biblioteca escolar, Dia Nacional do Livro e Dia da poesia, no final do mês, em homenagem à Drummond.

Hoje, aproveito para homenagear a data, mas, principalmente, chamar a atenção dos leitores para se permitir ler e conhecer os autores nacionais que vivem no esquecimento. O Brasil é um celeiro ininterrupto de escritores talentosos, que vivem à margem, nas livrarias e bibliotecas.

Escritores que se tornaram clássicos como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade. Outros mais contemporâneos como Carlos Heitor Cony, Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro, Josué Montello e tantos outros, que é impossível caber aqui, nessa postagem.

Existem os que lutam diariamente escrevendo e publicando e, mesmo assim, permanecem no anonimato. Existem os escritores feito eu, que publicaram poucas obras de forma artesanal e, que escrevem em seus blogs.

Em tempos pandêmicos, aumentou o número de escritores. Todos, sentindo necessidade em expressar sentimentos diversos dentro de seus metros quadrados. Tenho lido muita coisa boa!

Deixo aqui minha mensagem estendida a todos e, em especial, à minha editora e escritora, além de amiga, que tanto nos incentiva a escrita. Obrigada Lunna Guedes, por apostar na gente. Agradeço a amizade dos demais escritores do selo Scenarium Livros Artesanais. Iniciamos na escrita, nas oficinas e, hoje, formamos uma equipe de amigos que se apoiam, se fortalecem e dividem as alegrias da publicação.

Um Viva ao Dia Nacional do Livro. Sigamos na contramão daqueles que teimam em dizer que não somos um país de leitores. Lemos e escrevemos sim! Basta ter olhos para ver. Tin-Tin!

Imagens: acervo pessoal

Compasso de espera

Revendo textos meus antigos, observo o quanto evolui na escrita. Alguns, sinto um misto de vergonha e alegria por ter ousado, escrito e publicado. Trago vários iniciados e inacabados, que se encontram em rascunho. Servem de exercício, modelo, teste para algum tema. Muitos, retorno, retrabalho, reescrevo, moldo, atualizo e publico aqui no blog. Outros tantos, vão permanecer no limbo, guardados de mim mesma.

Agora mesmo, enquanto dedilho esse texto sobre a escrita, ouço uma música instrumental que preenche minha alma, observo pela janela, o tempo nublado, sinto aroma do café com um leve perfume do chocolate que acrescentei no pó e sinto um bem-estar se agigantando dentro de mim, como há um tempo não sentia.

Até mesmo o fato de minha conta bancária estar negativada, o calhamaço de contas vencidas sobre a bancada de trabalho, o desemprego e a vontade absurda de cair no mundo sem planejamento, diminui minha alegria por estar viva e saudável.

Vá entender, o ser humano é assim mesmo. Uma gangorra de emoções. Um vai e vem de sensações que alimenta, faz sofrer e gargalhar.

Olho para minhas estantes, repletas de livros. Muitos, aguardando pacientemente, sua vez de ser acariciado, explorado. Outros, já lidos, esperam minha vontade em selecioná-los e encaminhar para doação. Gosto de vê-los circular por mãos e olhos desconhecidos. Essa é a beleza dp processo. Livro bom não é o que decora estantes, mas sim, os que sofrem manuseios ansiosos pela descoberta de seu conteúdo. Preciso e quero mergulhar nas minhas leituras.

Imagens: acervo pessoal

Beda 17 – Solo

O prazer de uma leitura, de acompanhar um bom enredo, com narrativa que te seduza. Saber de vidas que você até conheceu superficialmente, através das mídias. Confissão consentida que o autor que se autobiografa nos faz sentir próximos, dele e de sua vida. Por essas e outras, gosto de ler biografias.

O livro que li, me fez viajar por um Brasil que não conheci, num período em que pessoas talentosas envolvidas com as artes no geral – em especial a música – se envolviam por amor e não pelos cinco minutos de exposição, como é tão comum hoje.

Através do livro Solo: memórias, de Cesar Camargo Mariano, pude conhecer mais a fundo o que já tinha certo conhecimento, ao ler a outra biografada que teve uma ligação estreita com ele, Elis Regina.

Mas, ao contrário do livro Furacão Elis, de Regina Echeverria, nesse livro de Cesar, houve momentos de leitura em que tive a nítida impressão que o próprio estava sentado à minha frente tomando uma dose de uísque e, tranquilo e sem pressa, me contava sua vida de músico desde sua entrada precoce no cenário musical até os dias atuais.

Vivi através da leitura, momentos importantíssimos de nosso panorama musical e pude ter o privilégio de conhecer e saber um pouquinho mais sobre figuras ilustres da noite carioca e paulistana. Saber como surgiu a ideia e a realização – com todos os seus percalços – do inesquecível show, Falso Brilhante.

Ficar a par das inúmeras dificuldades e da insegurança para se realizar um sonho quase impossível, de gravar um disco de Elis e Tom Jobim e, depois, saber o passo a passo da gravação até chegar a reta final do trabalho. Hoje, considerado um dos melhores e mais bonito do mundo.

Sou fã assumida de toda essa família: Cesar, Elis e filhos que hoje, continuam a disseminar o talento herdado: Pedro Mariano e Maria Rita. Cresci ouvindo Elis e curtindo sua obra. Senti imensamente sua partida antes mesmo de eu debutar em shows. Lamento até hoje.

Na década de noventa conheci seu filho Pedro, até então um desconhecido de todos e, me encantei com sua bela voz e swing no palco. Tive o privilégio de assistir ao show de Cesar acompanhado do excelente guitarrista e violonista Romero Lubambo, no Sesc Vila Mariana. Me apaixonei pela música instrumental que até então, conhecia bem pouco.

Enfim, poderia ficar aqui desfiando muita coisa que li, constatei, conheci, relembrei – como por exemplo – a homenagem que seus filhos fizeram em pleno palco quando fez sessenta anos. Estava presente nesse show e, ler essa passagem, me remeteu à essa noite memorável e emocionante. Foi linda demais!!

Espero que minhas divagações acerca desse livro tenha despertado em vocês a vontade de ler. Você termina o livro, se sentindo amiga(o) íntima(o) desse nosso grande maestro, arranjador e músico, do mais alto quilate. Cesar, obrigada por nos abrir suas portas e janelas e nos convidar a entrar! Fechei o livro, já sentindo saudades. 

Esse texto faz parte do b.e.d.a — blog every day august.

Participam Adriana Aneli — Claudia Leonardi — Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega

Imagens: acervo pessoal

Beda 11 – Sonhar, ainda não paga imposto

Na vã tentativa de compreender o momento que vivemos, quebro a cara. Inútil. No passado, ainda podíamos dar a desculpa de ignorância, falta de informação, mas, e hoje? Que desculpa arranjar? Não tenho.

Sigo meus dias sentindo-me personagem do filme Feitiço do tempo. Durmo, acordo, sigo minha rotina. Dia após dia, semana após semana, mês após mês. Credo! Isso lá é vida?

A intolerância bateu à porta de casa e adentrou os lares. Perdemos amigos, familiares se afastaram como se fôssemos tuberculosos. Tudo por conta de quê? Ideias que nem são nossas, de fato. Foram implantadas, como se fôssemos robôs manufaturados em série, numa imensa indústria chinesa. Da noite para o dia, nos dividimos em quem é a favor e em quem é contra. Futebol, política, religião, novela preferida. Tudo virou motivo para discussões acirradas e espíritos inflamados.

Isso me dá uma preguiça! Minha forma de protesto é ignorar tudo e, mergulhar na leitura.

Caio Fernando Abreu, Elena Ferrante, Amy Zhang, Rick Riordan, Antônio Prata, Plínio Camillo, Mario Benedetti, Lunna Guedes, Mariana Gouveia, Obdulio Ortega, Aden Leonardo, Daniel Lopes Guaccaluz, Manogon… Foram tantos livros de amigos e conhecidos lidos, perdoe-me se deixei algum de fora.

Sinto-me exploradora de territórios desconhecidos, que despertam meu interesse em desbravá-los. Os livros são realmente, grandes companheiros. Se tornei-me um ser humano melhor por ler, ainda não tenho resposta. Talvez, quem conviva comigo, possa responder.

Não sei o que nos aguarda num futuro próximo. Melhor viver cada dia como se fosse o último, afinal, pode vir a ser o último mesmo. Contudo, sonho um dia ver essa nação letrada e, com o mesmo amor e respeito que tenho pelos livros. Também ouso sonhar que esse mesmo povo, desdobre esse amor e respeito pelo seu próximo.

Esse texto faz parte do b.e.d.a — blog every day august.

Participam Adriana Aneli — Claudia Leonardi — Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega

Imagens: acervo pessoal

Livros, sempre eles

Quem nasceu para viver entre livros, não consegue fugir por muito tempo. E eu me entrego à eles, como uma amante insaciável que busca a todo momento, seus carinhos e atenção.

Durante o período em que me envolvo com a escrita, perco o contado com as leituras. Ainda não consegui fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Falha de meu Tico e Teco? Pode ser.

Agora, que libertei meu último projeto literário, volto sorridente para os livros que aguardaram meu retorno, silenciosos nas prateleiras. Amigos mais que fiéis, sempre me acolhem.

Receber livros de amigos, é bom demais e ontem, finalmente recebi o livro Dentes moles não mastigam pedras, do talentoso Manogon. Projeto incrível que assim que terminar de ler, faço uma resenha por aqui.

Trabalhar com eles (sempre os livros) também é prazeroso e isso tenho feito diariamente. Isso me faz sentir viva!

Enfim, sigo semeando palavras, histórias e colhendo outras tantas. A graça da vida está justamente aí. E você? O que tem lido ultimamente?

Que tipo de leitora eu sou?

Hoje iniciamos a maratona literária de maio, promovido pela Lunna Guedes, com o grupo #Interative-se, do Facebook.

E eis que me deparo com um pergunta ao mesmo tempo fácil e difícil de responder: Que tipo de leitora eu sou?

Sou do tipo que lê até bula de remédios do início ao fim. Sou aquela que não pode estar num transporte público e ver alguém com livro nas mãos. Fico em cólicas para saber qual título.

Quando tinha a liberdade de circular por toda parte, estava sempre com livro na mão ou, numa sacola especial para carregar livros.

Leio outdoors, panfletos distribuídos na calçada, leio inclusive, revistas velhas em exposição nas salas de espera, de consultórios médicos.

Na leitura de livros, leio de quase tudo também. Tenho prazer e curiosidade em ler autores de países distantes, conhecer a cultura. Através deles, me enriqueço.

Tenho prazer em mergulhar em nossa literatura brasileira, tão menosprezada pelos próprios brasileiros. Gosto demais de ler as escritoras nacionais. Antigas e atuais. Essas mulheres tiveram sempre tanto a dizer. E disseram. Com categoria, talento, sensibilidade.

A primeira escritora que li e gostei foi Raquel de Queiróz com seu livro O quinze. Depois, li A montanha partida de Odette de Barros Mott. Não parei mais.

Leio romances, contos, crônicas, poesia, biografia, diários…

Que tipo de leitora que sou? Voraz.

Esse texto faz parte da Maratona Literária Interative-se de Maio e, estão comigo nessa corrida:

Ale Helga – Isabelle Brum – Lunna Guedes – Mariana GouveiaObdulio Ortega

B.E.D.A. – Uma vida entre livros

Culpa da moça que fez meu mapa astral. Lá, decretou meu futuro entre eles – os livros!

Década de oitenta, minha cabeça estava a milhas de distância desse universo. Ao ler esse mapa astral que nem queria fazer, dizia que trabalharia em biblioteca ou museu e, relacionado à educação. Achei tudo uma grande baboseira. Mesmo assim, não joguei fora, guardei.

Os anos passaram e quando dei por mim, fazendo uma faxina em caixas de documentos antigos, reencontro esse material e vejo que tudo se realizou. Exatamente como o mapa previu.

Trabalhar em uma biblioteca escolar não foi opção, foi necessidade. Assim o destino quis que eu acreditasse na época e eu, acreditei.

Contudo, esse Senhor Destino descortinou um cenário que me encantou. Através do contato diário com livros, me apaixonei e nunca mais larguei.

Após trinta anos trabalhando numa biblioteca, cercada por livros de todos os gêneros, mudei de cenário porém ele, o livro ainda é fonte de inspiração e amor. A diferença é que hoje não mais os registro. Escrevo!

Participam dessa blogagem coletiva:

Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega

B.E.D.A. – Descarte

Quem me vê sentada trabalhando calada, não imagina o mecanismo que aciono.

Agora, me encontro sentada, cercada por livros retirando suas etiquetas. Dobro-as ao meio, sem pressa, jogando no cesto de lixo. Vou empilhando um a um, cada livro que sofreu desbaste e seguirá para reciclagem.

Alguns livros, seleciono e separo numa outra pilha. A esses, darei a chance de ficarem no acervo por mais um tempo.

Quem me vê nessa tarefa mecânica, pode pensar que eu me sinto enfastiada. Aos olhos da maioria, essa tarefa é sem graça.

Para mim não. É significativa. Abrange muito mais que os velhos e surrados livros que descarto.

Enquanto atuo, processo interiormente, outra tarefa. Essa de mais valia.

No manuseio dos livros velhos, faço outro tipo de descarte: de pessoas, atitudes, posturas.

De tempos em tempos, essa tarefa é necessária. Os espaços em nossos arquivos pessoais vão ficando apertados, empilhados, desorganizados. Isso nos causa sensação de angústia. Sabe aquele famoso aperto no coração? São excessos de gente desnecessária em nossas vidas, sentimentos exacerbados, encruados, atitudes erradas. Aos poucos, ocupam espaço precioso impedindo que o bem estar finque moradia.

Enquanto descarto o livro A declaração universal dos direitos humanos, analiso se meus direitos estão sendo violados, desrespeitados, pisoteados. Estão.

Pondero para ver o que causa tais sensações. Constato que a bola da vez é você.

É, meu caro, você se encontra na berlinda há tempos. Já esteve na fila do descarte em outras ocasiões. Caridosa que sou, te deixei “dormindo” na prateleira das repescagens.

Observo o seu descompasso comigo, nos últimos anos. Faz tempo que não caminhamos juntos, não acompanha nem reconhece mais minhas notas musicais.

Tornou-se um péssimo dançarino!

Na prateleira das emoções, olho analiticamente sua lombada que já não me atrai. Desbotou com o tempo, feito seus cabelos, que outrora reluzia entre meus dedos. Folheio sua história. Verifico que sua página de rosto se encontra rasurada, seu nome quase apagado. Talvez por culpa minha mesmo que tanto o acariciei. Suas palavras caíram em desuso, feito língua morta. Tornaram-se arcaicas. Nem mesmo seus poemas que tanto me emocionou um dia, hoje parecem rimas de colegial.

Não se culpe! Fui eu que mudei nessas minhas andanças biblioteconômicas.

Foi opção sua permanecer estático. Inquieta, sigo adiante. Tenho sede de novidades.

Participam dessa blogagem coletiva:

Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega

Imagem: Acervo próprio