Lado B

Sabe aquele instante em que você põe tudo a perder ao se deparar com a ignorância de um interlocutor? Quando vem à tona sua característica primitiva e, quando menos espera, bota suas presas e garras de fora ansiando para destroçar o inimigo?

Pois é…Passei por uma situação dessas. Claro que toda essa introdução é mera ilustração. Não deixei vir à superfície o lado B Roselístico, no entanto, deixei-me envolver pela energia negra da criatura que chegou até mim disposta a uma boa briga. E eu, desarmada que estava, entrei no clima. E que clima!

Quem trabalha com o público sabe que nem todo dia são flores perfumadas. As pessoas descontam em você toda raiva e frustração que sentem na vida. Quem estiver mais perto, serve de alvo para suas disparadas. No passado já enfrentei coisas bem difíceis.

Acredito que a arrogância seja o pior traço de uma personalidade até mesmo porque, engloba outros defeitos como discriminação, preconceito, racismo, sentimento de superioridade , desdém.

No mundo que circulo, convivo diariamente com ela. Já presenciei cada situação! Nunca me curvei aos ataques para me sentir inferior. Nesse quesito, sou bem resolvida e reconheço meu valor. Nunca me senti menos. Nem mais.

Quando me deparo com pessoa arrogante, chego a ficar com pena pois é visível sua infelicidade. Daí o ataque que, temporariamente, a faz sentir-se melhor. Pelo olhar endurecido e fuças dilatadas além do suor que emana ferocidade, dá para reconhecer pessoas desse quilate.

Hoje, acredito, para infelicidade de ambas, travei um embate delicado e chato com uma mulher que, se pudesse, teria atacado minha jugular. Gritou e disparou sua ira em mim feito uma PK nas mãos de um terrorista. Fui alvejada por todos os lados e, claro, para me defender, agi sem pensar. Resultado: joguei merda no ventilador.

Caro leitor, desculpe meu palavreado chulo mas não tem outra coisa para dizer a não ser isso mesmo. Pega de surpresa,  irritei-me com a pobre senhora rica.

Logo eu, que costumo ser a Zen do pedaço. Sempre com um sorriso nos lábios e uma leveza no olhar.

Mais triste fiquei ao reconhecer que ainda tenho um longo percurso a percorrer no caminho da evolução. Ainda sou Terra. Minha essência é primitiva e animalesca e mesmo com todo verniz social, ainda sei grunhir e esfolar quem atravessa meu caminho.

Não sei quanto a tal senhora. Na realidade, acredito que deve ter dormido à noite o sono dos “justos” injustiçados achando que foi a grande vítima. Da minha parte, permaneci insone lamentando o ocorrido e pensando no quanto, muitas vez, vale mais a pena ser ignorante e não ter consciência de seus atos. Sofre-se menos.

Cadê o ouvinte?

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Sou uma sem noção assumida. É sério! No entanto, minha “sem noção” tem uma certa consciência das coisas e, mesmo assim, insisto. Exemplo?

Falar com determinadas pessoas sobre assuntos que não interessam a elas. Observar que enquanto narro entusiasmada, desviam o olhar de forma ansiosa querendo escapar de mim sem ter como e, mesmo assim, continuo a falar,falar,falar…Até que fico com dó de fazê-las sofrer e caio fora. Deve ser coisa de canceriana.

Contudo, confesso que às vezes fico chateada com a falta de interesse delas…

Quando dou por mim, percebendo que a criatura não está nem aí, calo-me para ver a reação da mesma. Não dão continuidade a conversa ou simplesmente saem deixando-me sozinha ou, pior, começam a falar de si demonstrando que realmente não prestou atenção numa única palavra que expressei. Minha casa cai.

Puta que o pariu!

Será que é tão difícil assim, ouvir o outro? Demonstrar o mínimo de interesse, nem que seja por educação? Eu consigo fazer isso brilhantemente e talvez, por isso mesmo, sou sempre solicitada como ouvinte. Tornei-me com o passar do tempo um verdadeiro pinico ambulante onde todos despejam seus excrementos existenciais sem nem ao menos olhar em meus olhos e saem aliviadas. Bom né? Vou te contar leitor. Ah! Desculpe, está interessado em me ler? Senão…Ah! Escrevo mesmo assim. Caso não desperte interesse é só mudar de blog ou sair para ler as baboseiras do Ofuxico. Garanto que eles têm mais leitores que eu por aqui.

Olha só, desviei o assunto e acabei por esquecer o que ia falar. E agora?…Acho que estou envelhecendo. Minha memória não é mais a mesma. Apagão geral. Já sei, nem o Universo muito menos os milhões de bites do computador desejam ouvir meu nhé-nhé-nhé. Muito mi-mi-mi pra seres tão frios e sem sentimentos. Báh!

Esquece porque eu já esqueci e tenho mais o que fazer por aqui. Só resta lembrar o quê.

Mulher invisível

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Dizem que, ao envelhecer, encolhemos. Suspeito que tornei-me anciã e, pouco a pouco, torno-me invisível.

Nessa nossa sociedade patologicamente plugada ao seu smartphone, torna-se cada dia mais difícil manter uma convivência como nos “antigamente”. Sempre tive o hábito de cumprimentar a todos nas empresas onde trabalhei. Do porteiro ao diretor. Nunca fiz distinção. Fui educada por meus pais – que nem terminaram o primário, a usar de cortesia e sempre esboçar um sorriso sincero ao cumprimentar as pessoas assim que chego ao recinto.

Hoje em dia, sorrio e falo com o vento, as paredes, as janelas, o assoalho. As plantas me respondem avivando sua tonalidade verde. Algumas flores até se viram para mim, como que sorrindo e agradecendo minha atenção para com elas.

É. Além de tudo devo de estar sofrendo de alguma doença mental. Como diziam os antigos a quem tenho me referido, “mente fraca”. Se penso que as plantas me respondem a um cumprimento, a coisa deve de estar feia pro meu lado.

Cada dia que passa, sinto-me mais e mais deslocada nessa comunidade a que pertenço mas que, ao que parece, devo estar me distanciando. Olho, ninguém me olha. Passam reto. Cumprimento e sorrio, as pessoas continuam com suas feições endurecidas e nem ao menos soltam um suave grunhido como fazem os tímidos. Silêncio absoluto! O que acontece? Cadê aquela animação para formar roda de amigos e conhecidos e passar horas de conversação, risadas, olho no olho e o desejo de se encontrar muito em breve para dar continuidade ao bate papo?

Outro dia, fui visitar família. Confesso que saí de lá ressentida e frustrada. Minha vontade era tanta em conversar e matar saudade no entanto, percebi que a programação da TV estava mais interessante que minha insistência em manter uma conversa animada e contar as novidades. Pouco a pouco, fui murchando. Silenciei e saí à francesa. Fui ao banheiro, lavei o rosto numa inútil intenção de expurgar o gosto ácido da frustração, peguei a bolsa e saí. Elas mal me olharam ao me despedir.

Ninguém mais tem interesse em saber das novidades do outro… A não ser pelas redes sociais que, se postar algo sobre o que anda fazendo, dependendo do que for, ganhará muitos likes e coraçõezinhos e Uaus.

Credo! Isso tudo anda muito chato! Quer saber? Não vejo a hora de completar meu horário aqui no trabalho e dar uma banana bem dada a todos, voltar correndo para meu ninho e me consolar com as séries favoritas da Netflix!

Aqui pra vocês!!

Imagem: Pocho

Vivas ao Peixinho!

Ano de 1965, dia treze de março. Para a maioria das pessoas que seguiam suas vidas, era um dia como qualquer outro. Sem novidades. Corriqueiro. Na minha família, era um dia especial pois chegava uma pessoa que enriqueceria a vida familiar. Meu irmão!

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Primeiro e único! Crescemos naquela rua comandada por um bando de crianças. Dividindo brinquedos, brincadeiras, aprontamos muito juntos, rimos muito também. Dividimos castigo um de frente ao outro onde revezávamos choro e risadas. Sendo briguenta desde cedo, o defendi da molecada muitas vezes na saída do colégio. eu e meu mano ricardoMexeu com meu irmão, mexeu comigo e dá-lhe bronca porque nunca fui menina de levar desaforo pra casa. Brigamos muito também afinal, quem nunca brigou com seus irmãos? Na adolescência, cheguei a achá-lo um chato! Chato mesmo, daqueles que pegam no seu pé. E eu estava descobrindo o sexo oposto e adorava paquerar. E lá vinha meu mano jogando água na minha fervura, falando mal do gajo visado da vez, ameaçando contar pro papai e pra mamãe. Chato! Houve um ano que ficamos sem nos falarmos. Sem nos olharmos. Foi um ano muito difícil para mim. E hoje, acredito que para ele também afinal, sei que por baixo daquela carcaça dura que criou ao seu redor, ele carrega um coração incrível e repleto de emoções. Na fase adulta nos reaproximamos e ano após ano, nos tornamos mais e mais amigos, companheiros, cúmplices. Apesar de morar em outra cidade e passarmos bons meses sem nos vermos, nossa sintonia emocional nos mantém conectados. E vamos combinar que a tecnologia ajuda muito a encurtar distâncias. O importante, é manter a chama do nosso amor sempre acesa alimentando com orações, mentalizações, troca de mensagens carinhosas e verdadeiras. Sinto-me privilegiada em ter irmãos tão queridos e que, independente das diferenças, respeitamos uns aos outros e procuramos ajudar no que for necessário. Mano Ricardo, acordei pensando em você e no quanto sou feliz em tê-lo ao meu lado. Que possamos percorrer essa caminhada da vida de forma alegre, sincronizados nos sentimentos e vez ou outra, nos abraçarmos fisicamente materializando todo nosso sentimento recíproco. Ter irmão é bom demais! Ter irmãomigo, é viver no paraíso aqui, em plena Terra! Saúde mano!!

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Fiando-se nas tais tecnologias

moça e computador

De boca semi aberta, olho para todos na sala em que trabalho. Cada um em seu cercadinho, em seu mundinho virtual, fingindo trabalhar, quando na realidade, navegam em suas redes sociais deixando o real, suspenso no ar. E eu, agarrada na ponta desse real, quase caindo no limbo da indiferença de todos.

Acabei de comentar algo que acreditava ser do interesse de todos ali presente e, no entanto, ganhei o silêncio desanimador daqueles que não estão nem aí para você.

Confesso que me senti do tamanho de uma nanomolécula perdida no espaço sideral. E, tomando meu café amargo, continuei olhando a todos e confirmando que, não estava enganada, encontrava-me mais invisível que o próprio personagem de H. G. Wells.

Não satisfeita, falei num tom mais alto e agudo várias baboseiras, fiz careta, peidei alto.

Nenhuma manifestação de que tinham me ouvido. Não contente e agora, emputecida, esbravejei um palavrão na área da sala em que mais tem eco. Olhei e…Nada.

Todos continuavam indiferentes a mim. Vencida pela total falta de interesse pela minha pessoa, saí da sala batendo a porta e ainda olhei para trás na esperança de ter acordado algum deles dessa apatia coletiva. Não obtive sucesso. Até que, caminhando pelo corredor em direção ao banheiro, tive uma brilhante ideia! Esse lampejo criativo luciferiano, foi se formando em meu cérebro super estimulado pela cafeína.

Caí na gargalhada.

Passado alguns minutos de minha não notada saída, regressei encontrando a sala agitada. Todos falavam e gesticulavam ao mesmo tempo transformando o ambiente num movimentado pátio de colégio em pleno recreio.

-Credo gente, o que aconteceu? Lá de fora se ouve esse mercado de peixe.

-Ah é…Roseli, onde você estava que não viu o que aconteceu?

-Fui até o departamento médico. Minha pressão estava baixa… Eu falei pra você ao sair mas parece que estava muito ocupada.

-Hum é. Devia estar mesmo. Nem ouvi. Mas olha, de uma hora para outra, a rede da empresa caiu. Ficaremos sem internet por pelo menos uns dois dias. É o fim! É o fim!

-Nossa…Que coisa não? Vá confiar nessas tecnologias

 

Imagem: NegativeSpace

 

Nada a dizer portanto fica tudo dito. Ditado do dia 12

liliabraço

Nem deveria estar aqui para falar sobre isso. Não sou a pessoa mais indicada. Experiência zero diante da galera que expansivamente se expõe em flashs de instagran nesse dia.

Acredito que o mundo se divide entre os que vieram para namorar, casar, constituir famílias e os que vieram para ser avulsos. E olha que nem digo isso usando de ironia ou deboche. Simplesmente é o que penso, o que acredito. Se estou certa ou errada não compete a mim nem a ninguém julgar e condenar. Cada um é um universo à parte e ponto.

Para muitos pode parecer uma postura de mulher encruada, encalhada, mal amada. Respondo que tudo depende do ponto de vista de cada um. Como aliás, tudo na vida. Questões de pontos de vista.

Nunca namorei. Pelo menos da forma tradicional que se vê. Claro que tive meus momentos mas dizer que namorei, estaria mentindo. Sei que também nunca fui amada e nem amei alguém. Em alguns momentos pensei, me iludi que amei. Hoje tenho consciência de que amor não foi mesmo. Paixão, com certeza, tesão também,atração muitas vezes.

Amor, nunca!

A palavra amor virou palavrinha fácil na boca da grande maioria. Principalmente dos adolescentes que expressam “Eu te amo” a cada esquina virada.

Por outro lado, também não sei se esse tal “amor” tão falado e discutido existe. Talvez seja invenção recente que os românticos criaram para aguentar essa vida tão sem graça.

Você aí deve estar pensando: Essa aí precisa de uma bela “comida” e terapia reforçada. Amigo, deixa esclarecer: já tive os dois em doses maciças. Resolve na hora mas dali a pouco você volta a ser o que é. Ou seja, a mesma pessoa cheia de conflitos, neuras, dúvidas e sozinha. Nada assim tão diferente da maioria da raça espalhada por esse vasto mundão que Deus criou só pra se divertir enquanto não pensa em algo melhor para criar. Portanto, esquece o sentimento de inferioridade, baixa estima e segue sua vida realizando o que gosta. Vou te contar uma verdade absoluta. Sim, ela existe e detenho o conhecimento dela: Nascemos e morremos sós logo, porque o espanto? Não é?

Te digo mais: só passa a vida a sós quem opta por assim viver. Eu tenho amigos, conhecidos, inimigos maravilhosos que dão um colorido todo especial em meu dia a dia. Ah, se tiver uma boa dose de responsabilidade e problemas, também ajuda e muito a passar seu tempo por aqui. Experimente depois me conta. Mas… Porque mesmo iniciei esse texto? Divaguei tanto que acabei por esquecer o objetivo dele. Bem comum isso na minha pessoa. Ah! Lembrei! Claro!

É que hoje, dia 12, comemora-se o Dia dos Namorados. Como não tenho um gato pra puxar pelo rabo, não tenho cobertor de orelha (só Parayba xadrez), não gosto de ursinhos, nem qualquer outro espécie animal de pelúcia, resolvi perder meu tempo produtivo escrevendo essas baboseiras. É bebé, nem adianta revirar seus olhos e pensar “Quanta merda essa aí escreve!”

Escrevo mesmo, e se estiver ofendendo sua pálida e frágil criatura, saí daqui e vai em busca do Santo Graal ou, se ainda é crédula(o), reza pra Santo  António de Pádua e aguarde um milagre. Mas senta que pode demorar viu.

E pra provar a você que não sou essa invejosa de lanterninha, abro meu coração e desejo a todos os casais um belo, caliente, sincero e feliz dia dos namorados. Que ele não seja belo só na data de hoje, mas que se perpetue no ano todo.

Tin-Tin!

Inseparável simbiose

marbravo2v

Sentada na encosta observo o mar

batendo incessantemente nas pedras.

Percebo que sou como elas, as águas.

Sua indiferença é como esse paredão

Inabalável. Imóvel. Muda.

Eu, enquanto água, me jogo, te ataco, estapeio,

espirro de tanto amoródio por ti.

Arrebento-me toda e,

em moléculas quebradas, volto ao ponto inicial.

Você segue sua vida intacto.

Eu, sigo remendando os cacos das quedas.

E permanecemos assim, anos a fio

Você irredutível

Eu, mar bravio

Você intocável

Eu, implacável

Você glacial

Eu, vulcânica

Inseparável simbiose

 

Imagem:  Mar bravo, Pedro Mendes

 

 

 

Desgarrados

casal brigado

 

O clima entre o casal estava tenso.Palavras não ditas, mágoas engavetadas, guardadas feito souvenir de viagem.

A relação começava a pesar! Ela já estava cansada de relevar e engolir as desculpas do companheiro.

O amor, pouco a pouco, transformava-se num fardo difícil de carregar.

Assim como também difícil estava aguentar seu ego eternamente inflado.

Ansiava respirar ares mais leve. Esse, já se encontrava viciado.

 

Imagem: Pond5

Quero o palpável

Você já parou para pensar no quanto as redes sociais se transformaram num imenso ringue de batalha onde cada um defende quase que a dentadas suas idéias? É um tal de querer impor seus gostos pessoais, sua forma de viver, suas ideologias.

De uma hora pra outra, se der uma opinião contrária, pronto. Deu-se a discórdia. E de amigo do peito você passa a ser o inimigo mortal que deve ser dizimado do círculo de “amigos”.

Aliás, falando-se em amigos, vivemos num tempo em que banalizou-se praticamente tudo inclusive o amigo. Amizade passou a ser algo raso, sem conteúdo, passageiro. Hoje podemos ser os maiores amigos. Amanhã, passo e nem te reconheço. Trata-se a pessoa com a maior frieza.

Semana retrasada, reunimos família e amigos (os poucos que restaram) de meu tio que completou noventa anos. Que beleza de reunião! Amigos de meu tio que há décadas não se viam, apareceram para dar o abraço ao aniversariante. Vi chegar um senhor com todas as idades do mundo, percorrendo o salão com uma dificuldade imensa apoiado por um andador e sua enfermeira. Chegou até minha mãe e a cumprimentou dizendo: apesar da idade, da minha saúde precária, da minha quase invalidez, não poderia deixar de vir dar um abraço nesse meu grande amigo de uma vida inteira.

Fiquei tão comovida diante das expressões de carinho desses “velhos amigos” se reencontrando que confesso a vocês que fiquei com uma pontada de inveja de todos eles.

Existe entre eles um elo indissolúvel que está cada vez mais raro de se ver nos dias ditos “atuais e modernos” em que vivemos.

Como já expressou tão bem o filósofo polonês Zigmunt Bauman,  em seu livro Amor Líquido, os laços são frágeis e se desmancham com a maior facilidade. As relações humanas no geral têm se formado numa velocidade incrível e mais incrível ainda são seus desmanches.

Hoje os jovens se gabam de ter mil e tantos amigos nas redes sociais. Costumam falar isso de boca cheia, com olhos brilhantes. Só observo e penso:

“Tá legal. Chama isso de amizade? Devo estar ficando velha e ultrapassada mesmo.”

Falando como meus avós, antigamente amizade era aquela do olho no olho. Assim como os namoros e casamentos, eram para uma vida inteira. Minha mãe mesmo mantém amizades que fez quando era uma jovem de quinze anos. Já está perto de completar oitenta e a chama dessas amizades continuam a mesma. Não. Minto. Não continuam a mesma, estão melhores, mais fortalecidas, amadurecidas. É lindo de se ver quando se encontram!

Hoje, o que observo com certa tristeza, é que as pessoas se desviam umas das outras. Os olhares fogem. Não desejam contato de forma alguma. Se negam a receber em casa.

Se antes, as pessoas adoravam ter suas casas sempre cheias, hoje fogem de visitas. Se refugiam nos shoppings centers passeando, olhando vitrines, se empanturrando de fast food, consumo, consumo e mais consumo e as relações como ficam?

Rasas.

E depois reclamamos que vivemos solitários!

Enfim pessoas, creio que está mais do que na hora de reavaliarmos o modo de vida que queremos de fato. Já cheguei aos cinquenta anos e desejo que meus próximos possam ser mais verdadeiros, quero amizades e demais relações fincadas na doação real. Amo internet e redes sociais mas elas não podem substituir a convivência diária, o olho no olho, o toque de um abraço. É isso!

MISSIVA A UM AMOR QUE JÁ NÃO EXISTE

A cidade se mostra bela e mágica através de minha janela no décimo quinto andar.

É noite. Meu relógio digital informa que são 24h45. Cansei de rolar na cama e não conseguir pregar os olhos. Sinto-me inquieta. Peguei o livro do Caio Fernando Abreu – Morangos Mofados – um de meus preferidos, mas não rolou leitura. Meus olhos insistem em deslizar pelas inúmeras palavras e frases sem fixar em nenhuma. Fecho e pego o de Luís Fernando Veríssimo. Orgias. Quem sabe esse, sendo uma leitura mais leve me prenda a atenção.

Nada.

Deixo esse também de lado e ligo a TV. Zapeio por todos os canais e acho tudo banal.

Desligo.

Pego meu note e resolvo navegar um pouco no Face, ver o que a galera anda postando…

Eca! Quanta futilidade! Quanta asneira!

Desligo também.

É onde decido levantar e perambular pelo apartamento. Vou à cozinha, abro a geladeira rastreio o que ela contém. Tomo um copo de suco de maracujá. Quem sabe ele me dê sono.

Pego um cacho de uvas e sigo para a sala. Saboreando uva por uva, deixo meus pensamentos soltos seguirem seu rumo.

…E eles sempre retornam a você. Meu Deus! Por quê?

Já se passaram três anos desde nossa separação e ainda sinto-me presa, refém de seu amor, de seu tesão, de sua tensão…de sua atenção!

Nesses três anos, te busquei em muitos corpos. Alguns mais velhos outros mais jovens e sarados, outros disformes. Procurei-te até mesmo em corpos femininos tentando reencontrar aquela paixão que um dia recebi de você. Não posso reclamar. Encontrei muito carinho de mulheres até bem interessantes. Dos homens recebi noites calientes, presentes preciosos, declarações e até mesmo um pedido de casamento. Não vou negar que tudo isso me deixou lisonjeada!

Mas não vinha de você. Não era você.

O tempo passou, segui minha vida sem sua presença, mas sempre com ela presente. Mudei de emprego. Lembra que vivia reclamando e você sempre dizendo: toma coragem e muda! Saia da mesmice busque coisa melhor porque você tem competência para isso. Não se contente com tão pouco! Você é talentosa menina!

Pois então. Segui seus conselhos, criei coragem e mudei radicalmente minha vida. Diariamente agradeço a você em pensamento por ter me dado essa força.

Está vendo só como você tem um peso imenso em minha vida?

Com você fui e me tornei uma mulher plena, realizada, total. Por você me transformei nessa leoa que a tudo enfrenta sem oscilar diante dos fatos nem das situações.

Junto de você aprendi jogos sexuais que nem imaginava existir e o prazer que vem de brinde nisso foi algo que só você acrescentou.

A seu lado minha vida ganhou pinceladas de cores vibrantes, minha trajetória de vida  enriqueceu, minhas experiências se multiplicaram.

Acompanhando-te, ganhei um frescor em minhas faces que já se encontravam envelhecido precocemente. Você foi meu melhor tratamento anti-idade!

Meu corpo, endurecido pela falta de exercício de vida, ganhou agilidade, leveza, curvas que só mesmo você poderia ter me proporcionado. O sexo entre nós era tão intenso que nem precisei de academia. Fiquei em forma e feliz!

Mas, como tudo nessa vida é passageiro, sua presença também teve prazo de validade. Primeiro você foi esfriando pouco a pouco comigo. Pensei: Ah! Deve ser porque a rotina nos leva a assentar e aí o relacionamento entra nessa fase pós-paixão. Depois, você passou a implicar com tudo aquilo que antes era motivo de elogios e mimos. Em pouco tempo, de mulher deliciosa e interessante passei a megera burra, pois não entendia seu raciocínio de macho Alfa.

Então vieram as outras. Casos esporádicos, relacionamentos fast que te saciavam de início, mas logo voltava a cair na eterna insatisfação. E eu, calada sempre recolhendo seus cacos.

Curando-te e fortalecendo com meu infinito amor.

Até que algo acima de minhas forças te levou de vez! Por mais que tenha lutado para te manter a meu lado, não pude competir com ela que chegou sem mandar aviso e te levou mesmo contra nossa vontade. Eu, de minha parte não podia imaginar minha vida sem você. 

Você por outro lado, antevia sua vida longe de mim, conquistando outras mulheres, outros corpos, outras sensações, mas também não teve como fugir dela. Foi implacável!

Numa manhã ensolarada, exatamente como você gostava, ela te visitou e mansamente te abraçou e o levou para uma viagem sem regresso. Você foi. Calmo, silencioso, resignado.

Em seu enterro, senti-me anestesiada e participando de um sonho. Um horrível sonho! Tinha certeza que ao retornar à minha casa, dormiria e ao acordar, veria que fora somente um pesadelo. Acordei. Não foi um sonho.

E agora, com os olhos embaçados pelas lágrimas saudosas, escrevo essa missiva como forma de canalizar o que vivemos e enviar onde você estiver. Desejo de coração que sua essência se encontre em algum lugar do universo. Receba meu querido o sentimento mais profundo e o pensamento que não se cala em minha alma. E tomando licença poética/literária da escritora portuguesa que tanto lemos e tanto discutimos naquelas noites regadas à vinho, faço das palavras de Inês Pedrosa, as minhas que também levarei para o túmulo:

“…Porque te escolho,  nesse sussurro sem retorno? Porque te quero no meu sono, se iluminaste sobretudo o que não fui? Morreste-me antes que eu morresse – e não consigo morrer sem ti. Nunca consegui. Todos os dias de minha vida estive com você…

…Enumero as leis termodinâmicas da tua ausência…

 Fazes-me falta! “