A tarde transcorre cinzenta lá fora. Aqui dentro, um silêncio morno, gostoso mesmo, me faz companhia. Assisti novamente, Mulheres à beira de um ataque de nervos, de Almodóvar. Recordei do impacto que tive ao assistir, pela primeira vez, no cinema em sua estréia. Hoje, achei-o até bobinho. Como mudamos!
Apesar de mudar muitos pontos de vista, no decorrer dessas décadas, permaneço fã de sua obra. Ao término do filme, recordei de um livro dele, que comprei, li, dei muitas risadas e perdi-o de vista. Sei que emprestei mas, não lembro para quem.
Fogo nas entranhas, pulp fiction da melhor qualidade, com uma narrativa que mistura sexo, feminismo, espionagem e assassinatos. História genial com um toque repugnante, hilário, bizarro.
A história de cinco mulheres: uma chinesa, uma frígida, uma ex-espiã disfarçada, uma figurante de faroestes europeus e uma assistente de laboratório químico, que um certo dia foge para Ibiza com um grupo de hippies.
Sempre com personagens incomuns e, ao mesmo tempo, tão comuns, nos leva a uma Madri que literalmente pega fogo.
Raimunda, Eulália, Katy, Diana e Lupe. Mulheres com perfis diferenciados, idades variadas e personalidades idem nos pegam pela mão e transportam para histórias pra lá de deliciosas. Todas elas têm em comum, o senhor Ming e sua fábrica de absorventes.
O gostoso de se ver nos filmes e, de se ler nos contos, é justamente a força visual que Pedro Almodóvar dá às suas mulheres. Ele trabalha e nos escancara a realidade delas: donas de casa enfadadas com sua rotina pesada e sem graça; mulheres que passaram uma vida inteira preservando sua virgindade e, que ao chegar aos setenta anos, deseja recuperar sua juventude e sexualidade. Mulheres que optaram pela homossexualidade. Mulheres que largam o hábito para se jogarem na vida.
Enfim, um verdadeiro mosaico de personalidades botando em xeque suas vidas, enfrentando seus demônios interiores, se jogando nas experiências sentimentais e sexuais.
Tudo isso regado a muito humor – algumas vezes negro – , muita sacanagem da boa e, com uma leveza, que só mesmo esse gênio espanhol poderia fazer.
Li muitos livros nessa minha vida de leitora e bibliotecária e, poderia escolher inúmeros títulos que marcaram essa caminhada. Esse livro pode não ser o melhor livro que li – observando a qualidade e o gênero literário – no entanto, foi esse título que me veio a mente, ao decidir participar da blogagem coletiva “O livro da minha vida”, promovida por Lunna Guedes, no grupo Interative-se.
Se não leu, leia. O difícil será encontrar para venda, pois encontra-se esgotado. Talvez, em algum bom sebo. Vale a pena além de garantir boas risadas.