Vita brevis

Antes que a minha existência acabe o prazo de validade, deixo meu testemunho de que na realidade, neste curto espaço de vida, nada é importante a ponto de perdermos tempo precioso com bobagens, mimimi e cultivo de mágoas. Uma piscada de olho, metade de nossa vida se esvai. Outra piscada e…

E não se termina projetos, não se dá um abraço no(a) filho(a), não se diz “Eu te amo” há tanto tempo ensaiado, não inicia aquele curso tão sonhado, não faz aquela viagem há tanto planejada e…

Se morre em vida e quando damos conta, já é tarde para as despedidas. Não tinha ideia do que escrever por tantos dias, semanas, mês, mas uma partida tão inesperada e próxima de mim, me fez traçar essas linhas para sua e minha reflexão. Não deixe para depois. Sim, somos todos finitos.

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6 on 6 – Solar

Apesar de ter nascido em pleno inverno e passado boa parte de minha infância pulando fogueira de São João, tenho total apreciação por dias ensolarados. A natureza fica mais exuberante nessa estação e isso afeta diretamente meu emocional. Me torno mais aberta e alegre ao despertar e me deparar com manhãs banhadas pela luz solar.

Esse estado de espírito me convida sempre a viagens e de preferência, litoral. Para mim, é o pacote completo para desligar de tudo e se reconectar com a natureza e o que ela tem de melhor a nos ofertar.

No retorno de uma curta viagem, fui tomada por um sentimento da mais legítima felicidade ao acompanhar dezenas de balões enfeitando o céu . Me senti o próprio menino que dá nome ao quadro de Portinari.

Resisti por muitos anos a conhecer a cidade do Rio de Janeiro. Como todos os demais preconceitos, besta e sem justificativa. Até que decidi viajar para lá sozinha e simplesmente fui fisgada por tamanha luz que dá mais beleza ao que a natureza desenhou. O calor é insuportável mas essa obra-prima jamais irá cansar minhas retinas

Ah Salvador, percorri suas ladeiras num sol escaldante e me encantei com a cultura e o povo simples e tão solar quanto o astro rei que impera lá de cima. Sinto que ainda preciso retornar para conhecer outros encantos de lá

O jardim da casa de minha mãe é um universo único onde convivem harmoniosamente, várias espécies de plantas. Da Maria Sem Vergonha que floresce o ano todo, a Camélia com suas pétalas brancas de seda, do Gengibre Azul que encantam meus olhos com seus buques tão delicados, convivendo em paz com a imensa Primavera e a Bananeira que dá em fitas. Mas as Roseiras, ah…Essas são as rainhas que impõe sua magestade e que se entregam à luz solar como a amante lânguida se entrega aos braços de seu amado. E eu, presenciando toda essa perfeição, contemplo boquiaberta

Atravessar o período da pandemia poderia ter sido mais penoso se meu apartamento não fosse agraciado com uma janela grande com passagem da luz do sol que ao meio da tarde, chega a banhar minha porta de entrada, aquecendo todo o apartamento. No período de reclusão, passei incontáveis horas cuidando de minha taxa de vitamina D. Ouvindo uma boa canção, lendo livros incríveis, escrevendo meu livro Equação Infinda ou, simplesmente ficando em total entrega ao bom ócio.

O registro em si não foi dos melhores mas capturar esse céu azul com o fundo branco das dunas da praia de Ponta Negra, fez com que guardasse com carinho . Reti nela, a lembrança de dias bem prazerosos. Acho que está mais do que na hora de retomar minhas viagens e conhecer novos lugares e culturas e povos. Tô carente!

Esse texto faz parte do Projeto Fotográfico 6 on 6. Participam comigo

Lunna GuedesMariana GouveiaObdulio Nuñes OrtegaSuzana Martins

Mudez

Tenho tanto a dizer no entanto, permaneço encolhida nesse canto escuro. Evito multidões, pego carona no anonimato, negocio com o invisível.

O mundo gira, gira, gira e… continuamos a cometer os mesmos erros do passado. Alimentando ideias e atitudes que não servem mais para o século vinte e um e, mesmo assim, permanecemos apegados a regras e condutas que ferem a humanidade que escapa por nossos dedos. Nos transformamos em quê? Réplicas de rascunhos jogados fora do grande Senhor da Vida. Insistimos em ser o escrito mal desenvolvido, traçados renegados que moldamos de forma irresponsável e dizemos para quem quiser nos ouvir que inventamos algo novo. Nos iludimos e iludimos os demais idiotas que nos seguem sem raciocinar sobre nossas palavras.

A história (triste) se repete e se repete… incansavelmente, se repete. Quero crer que exista algum fundamento para tudo isso acontecer sempre. Ando descrente, em luta interior com meus próprios valores. Enquanto a guerra se desenha em terras distantes, travo uma guerra particular e – confesso – não acredito que haja um vencedor. Assim como lá.

Enquanto a bomba nuclear derradeira não estoura por aqui, ouço Four Seasons, na esperança de que a música acalme e me transporte para paragens mais verdes e que uma brisa suave e perfumada me convença de que tudo é passageiro, inclusive, a ignorância humana.

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Coletivo de Crônicas

Para os que curtem escrever crônicas como eu, esta é uma excelente oportunidade de apresentar seus escritos e sua visão de mundo. Tema muito em voga e necessário. Vem com a gente. Aguardo seus escritos…

Scenarium

Faz tempo que a crônica faz parte da vida literária do brasileiro, e muitas vezes, lemos um pequeno texto nas redes sociais, blogs ou em folhas de revistas e jornais impressos (acredite, ainda há que pratique esse delicioso hábito) que nos faz sorrir ao nos apresentar uma crítica bem humorada da realidade.

Pensando nisso, a nossa proposta para esse Coletivo de crônicas é convidar os autores a extrair de seu cotidiano uma crônica sobre o tema que circula entre nós desde que a Primeira dama Janja passou a ser vitrine para críticas que insistem em pontuar o lugar da mulher na sociedade contemporânea, usando sempre os modelos conhecidos-antigos.

Queremos dar ao tema uma boa dose de humor sem deixar de lado a ironia, as abordagens reflexivas e as associações inusitadas.

O Coletivo reunirá 13 crônicas e será organizado por Roseli Pedroso.

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Leitura comentada  | Quinta das especiarias

Scenarium

Olá,

No último capítulo do ano, eu e a Suzana Martins vamos comentar o livro Quinta das especiarias… uma iguaria literária que foi escrita pela queridissima Roseli Pedroso.

Eu posso até me classificar como suspeita para falar do livro e da autora… mas, contra fatos não há argumentos. E o livro é ma.ra.vi.lho.so. Uma viagem por aromas e sabores. Mas não vou falar mais nada… Deixo o convite para você participar da nossa leitura comentada de dezembro, lá no instagram… que será a última do ano. Mas Ano novo… leituras novas e comentários insanos totalmente novos.

É convite feito à moda antiga, impresso e com o seu nome em letras douradas, com horário marcado. Aconselho a escolher o que levar, porque é de praxe… não chegar com as mãos vazias. Encontrará a mesa posta, com a melhor louça da casa. Os talheres são de prata porque o silêncio você…

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Queria ver se chegava por extenso, ao contrário

(Helder)

Diminui diante de tamanha força e beleza. Não tive reação, não consegui expressar palavra.

Paralisei envolta pela brisa perfumada que se formou, assim que volitou em minha direção.

Seu perfume fixou na epiderme cansada de quem já não esperava nada da vida.

Um único encontro. Mais certo dizer um único cruzar de caminhos e, bastou.

Foi o suficiente para mudar a rota de uma existência errônea.

Segui, não olhando para trás. Jamais pensei em voltar e te procurar, tentar contato, te conhecer.

Preferi o colorido da fantasia que te torna perfeito, sem falhas, justo. Um deus!

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

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6 on 6 – Miss you

Em alguns momentos sinto um cansaço que não há polivitaminico que resolva. Sofro da síndrome saudosística que costuma atacar os cancerianos. Seres sensíveis demais.

Em determinados momentos, retorno à minha infância, ao lado de irmãos, primas e pai. Minha primeira viagem ao litoral, praia de Itanhaém. Nossas mães se descabelavam para dar conta de tudo se esquecendo de divertirem um pouco. O contato com o mar for marcante e a força que a água exerceu sobre mim foi incrível.

Essa atração se estendeu pelo resto da minha vida adulta. Ao pisar pela primeira vez as areias de Maresias, litoral norte de São Paulo, caí de amores por ela. Voltei outras vezes, uma inclusive, sozinha, passei o Reveillon refletindo, escrevendo, lendo e apreciando os movimentos das ondas do mar. Quanta paz senti!

Conheci Paraty, ainda na época do cursinho pré-vestibular. Me encantei com a arquitetura colonial, suas ruas irregulares com suas pedras centenárias, gastas pelo tempo que emana muita história. Nessa primeira viagem, curti demais dormindo em barracas numa área para acampamento, ao lado de colegas e amigos. Anos depois, seduzida pelo conforto, me hospedei numa bela pousada. Voltei outras vezes, sempre descobrindo tesouros.

Mas a vida não é só flanar descontraidamente por praias paradisíacas. A vida exige força, resistência e eu experimentei exercitar em academias, fiz musculação, aulas funcionais, ginástica localizada. Porém, foi na yoga e no pilates que me encontrei. Que prazer me exercitar nesses aparelhos. Sinto falta e aguardo para breve, retornar a essa rotina.

Amizades eu sempre fiz. Não poderia ser diferente nas minhas idas à shows. Através de meu cantor favorito, Pedro Mariano, conheci pessoas incríveis. No início, foi nossa admiração ao cantor em comum que tínhamos. Aos poucos, a cada show, fortalecemos a amizade e sempre nos reuníamos para celebrar a música, a amizade, a alegria de viver. A vida nos afastou presencialmente mas continuamos a nos comunicar pelo grupo no WhatsApp. Não vejo a hora de reencontrar as amigas e o cantor.

Ele foi uma das presenças mais marcantes, alegres e queridas da minha vida. Foi o filho que não tive, o sobrinho aguardado e desejado, o amigo confidente, a dor mais profunda que senti. Foi um cometa que atravessou meu caminho trazendo luz e sumindo sem deixar rastros. Veio em outubro e partiu no mesmo mês. Hoje, guardo muitas lembranças engraçadas vivenciadas ao seu lado. Recordo o título do romance da escritora Inês Pedrosa: Amado, Fazes-me falta!

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Projeto Fotográfico 6 on 6.

Acompanham-me:

Lunna GuedesMariana Gouveia – Obdulio Ortega Nuñes – Suzana Martins

Estou sozinha no quarto, entre dois mundos

A semana atravessou minha realidade numa velocidade luz. Fui atropelada por cometas e quase não me mantenho ereta, em pé. A sexta-feira despertou trazendo-me à realidade, adoecida. Corpo dolorido, olhos ardendo, alma enfraquecida. Foi difícil cumprir com as tarefas. A responsabilidade gritou alto e cumpri, chegando ao término do dia, com tudo realizado. Sensação boa mas retornei para casa achando que permaneceria acamada, tal a indisposição que se apoderara de mim.

Qual não foi a surpresa, ao despertar no sábado e abrir as janelas da alma e do apartamento e me deparar com um dia ensolarado, convidando a sair da toca. Saí e retornei logo. Não queria me arriscar. Boba que sou, deixei o dia esparramar seu calor e curti ele de longe, preferindo ficar quieta no mundo abstrato dos livros e das séries coreanas que tanto amo.

Folheei mais uma vez seu livro e logo de cara, a frase inicial me sequestrou e me perdi não sei por quanto tempo dentro das palavras:

“Àqueles que lêem para salvar a realidade”

Essa frase calou fundo e tem sido meu mantra dos últimos cinco anos. A leitura tornou-se mais que prazer, uma tábua de salvação de uma realidade distorcida, injusta, feia, suja.

Entre tantas leituras, houve romances incríveis, contos fantásticos, distopias e…Poesia. Teve também, a leitura técnica — necessária no trabalho — e, através dela, conheci inúmeros livros infantis que massagearam minha alma. Quanta beleza ainda existe nesse mundo destruído pelo próprio homem!

Quero expressar aqui, cara poeta, que seus escritos são de uma beleza ímpar. Até eu, que nunca fui de muita poesia, mergulhei fundo em suas páginas (In) versos e li, reli, retornei a eles, os versos e a cada leitura, sentia que adentrava um mundo de possibilidades e belezas que a palavra simples não dá a verdadeira dimensão de seu valor.

Hoje, ao contrário de ontem, outonou e mesmo tendo saído desse mundo que ainda não sei o nome, almoçado com família, voltei rápido – para a sós -, acompanhada apenas da trilha sonora de Shania Twain, escrever-te. É a primeira carta e espero não ser a última.

“Perdeu-se no tom suave

daquela melodia que

cantarolava saudade.”

Como esse verso me representa!

Este texto faz parte das Missivas de Primavera. Estão comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega Nuñes – Suzana Martins

Deixa o coração se apaixonar pelas paisagens

Querida Mariana,

Acompanho suas postagens ricamente ilustrada. Suas fotos da natureza que habita seu quintal, transporta-me para outro mundo. Você tem o dom e a varinha mágica para fazer isso acontecer.

Mansamente embarco ao seu lado, nos mundos que docemente desbrava e me apresenta. Através da foto de uma joaninha, viajo para minha infância.

Outras vezes, olhando para uma flor, sigo viagem para uma floresta ricamente florida, e observo o desenrolar do cotidiano dos personagens que ali, você delicadamente desenha e gera vida em abundância. Por ser uma pessoa urbana, cria do asfalto, do pixe e da fumaça que sai dos transportes, não tive o privilégio de crescer cercada de tanta natureza bruta. Graças a você, pude ter esse contato que é fundamental para a essência humana. Apreciar e respeitar a natureza. Ampliar nossa visão interior para alcançar a beleza de tudo que pulsa vida em nosso planeta.

A cada dia mais consciente da importância e necessidade de se preservar o verde, porque somos parte dessa cadeia alimentar que se desequilibra, graças a nossa irresponsabilidade e falta de informação.

Nesse exato momento em que termino a escrita dessa missiva, sou envolvida pelo aroma do café que está passando. Sonho com o dia em que nos encontraremos para um café acompanhado de bolo, pão de queijo e o requinte e simplicidade de sua conversa, seu doce olhar e riso fácil.

Espero que essa missiva te encontre bem de saúde e que possa te levar energias de carinho para você ter uma semana de muitas alegrias. Com carinho dessa canceriana que muito te admira.

Este texto faz parte das Missivas de Primavera. Estão comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega Nuñes – Suzana Martins

Imagens licenciada: Shutterstock

Experimenta a suave melancolia de uma manhã feliz

Hoje acordei envolta numa preguiça marota. Abri a janela e se apresentou uma pintura em tons de cinza. A cidade parecia adormecida. Nem carros pelas ruas, nem pessoas circulando pelas calçadas ainda úmidas da chuva noturna. Lembrei que nunca havia escrito uma carta à você. Passei um café, sentei e ao ligar meu note, fui surpreendida pelo seu não funcionamento. Isso me tirou do sério. Tomei posse de meus livros que por hora leio.

Mastigando um suculento pão de queijo, folheio o livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Ainda não havia me aventurado nas linhas desse alemão. Não posso ainda dizer que estou gostando mas está sendo uma curiosa aventura literária. Você já leu? Fiquei curiosa.

Outubro se aproximando e uma ansiedade se enraiza em meu coração. O que nos reserva o futuro ditado pelas eleições? Melhor nem pensar.

Prefiro me agarrar a nossa escrita e as nossas leituras. A magia é terapêutica e por hora é o que me resta enquanto não se resolve o resto. Fiquei feliz em saber que tem trabalhado bastante. Eu também. Chego em casa esgotada mas satisfeita com minha atuação no que faço de melhor: trabalhar com os livros e com as crianças e adolescentes. Me rejuvenesce.

Apesar do frio, me preparo para sair e enfrentar a suave melancolia dessa manhã feliz. Já experimentou? Manhãs cinzentas e frias são carregadas dessa sensação e, ao contrário do que se imagina, trás boas novas. Fico por aqui amigo Obdulio, desejando um excelente domingo.

Abraço

Esse texto faz parte das Missivas de setembro

Participam comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega Nuñes – Suzana Martins