Elas ainda permanecem comigo. Foram meses de convivência diária. Hoje, ganharam vida própria e pouco a pouco, entrando em outros lares e convivendo com outras pessoas. Sinto-me orgulhosa em tê-las gerado.
Apresento Carminha: filha de imigrantes italianos, viveu no bairro da Mooca em São Paulo, até conhecer e se casar com Gustavo. A convivência com seus pais e vizinhos de origem italiana, gerou uma forma peculiar de se expressar que muitas vezes parece errado aos nossos ouvidos contudo, foi comum entre a mistura da população italiana e brasileira. O que conhecemos hoje como um dialeto Mooquês.
09 de agosto de 1932
CASEI!
Tudo aconteceu tão rápido que mesmo deitada ao lado de Gustavo, que dorme profundamente e até ronca de forma suave, ainda parece um sonho.
Papà exigiu tomada de atitude para que sua figlia não ficasse mal falada.
Estava num misto de ansiedade, felicidade e medo.
Medo do que seria essa tal “Lua de Mel” que as mulher casada falavam e davam risadas entre si.
A cerimônia e festa foi bem bonita ma noi due nem aproveitamo como os convidado. São tantas as etiqueta e convenção que devemo segui que fomo os que meno se divertiram.
Ao chegá ao hotel, Gustavo estava sério e calado. Pensei: Coitado, deve está cansado que nem eu.
Não via a hora de entra, tira a roupa, chutá longe os salto alto que estavam mutilano meus pobre pé, tomar um banho quentinho e desabá na cama para dormir.
Gustavo quis tomar banho primeiro porque disse que mulher demora demais no banho.
Concordei afinal, ia aproveitá para abri as mala e já organizá as roupa no armário.
De banho tomado e de camisola, baixo em mim uma vergonha absurda. Nunca havia dormido ao lado de um homem!
Gustavo estava elegante em seu pijama e roupão. Estava próximo a janela fumano e com um copo de whisky na mão.
Observano minha timidez , aproximo de mim e disse para eu tomá um gole do destilado. Relaxaria um pouco.
Falei que não bebia mas ele repetiu a frase, agora com um tom autoritário. Não tive como negá.
Minha única condição foi que tudo fosse feito na escuridão do quarto. Uma intimidade nesse nível para mim era muito esquisito. Talvez com o tempo eu acostume mas, como primeira experiência, foi muito traumático. Ele precisa sê mais paciente e delicado comigo.
Enquanto ele fazia tudo aquilo, de olhos fechado, lembrava o passo a passo do guia para mulher casada que mamma me deu. Temo de satisfazê o marido, sê delicada, prestativa e acima de tudo, calada.
Vida de casada para mulher não é nada fácil. Bem diferente dos conto de fada.
Esse texto faz parte do livro Equação infinda que faz parte do Projeto 4 Estações, lançado pela Scenarium Livros artesanais
Imagem: Lunna Guedes (Pelo menos enquanto eu não tenho meu livros em mãos. Ah, essa pandemia!)