6 on 6 – Solar

Apesar de ter nascido em pleno inverno e passado boa parte de minha infância pulando fogueira de São João, tenho total apreciação por dias ensolarados. A natureza fica mais exuberante nessa estação e isso afeta diretamente meu emocional. Me torno mais aberta e alegre ao despertar e me deparar com manhãs banhadas pela luz solar.

Esse estado de espírito me convida sempre a viagens e de preferência, litoral. Para mim, é o pacote completo para desligar de tudo e se reconectar com a natureza e o que ela tem de melhor a nos ofertar.

No retorno de uma curta viagem, fui tomada por um sentimento da mais legítima felicidade ao acompanhar dezenas de balões enfeitando o céu . Me senti o próprio menino que dá nome ao quadro de Portinari.

Resisti por muitos anos a conhecer a cidade do Rio de Janeiro. Como todos os demais preconceitos, besta e sem justificativa. Até que decidi viajar para lá sozinha e simplesmente fui fisgada por tamanha luz que dá mais beleza ao que a natureza desenhou. O calor é insuportável mas essa obra-prima jamais irá cansar minhas retinas

Ah Salvador, percorri suas ladeiras num sol escaldante e me encantei com a cultura e o povo simples e tão solar quanto o astro rei que impera lá de cima. Sinto que ainda preciso retornar para conhecer outros encantos de lá

O jardim da casa de minha mãe é um universo único onde convivem harmoniosamente, várias espécies de plantas. Da Maria Sem Vergonha que floresce o ano todo, a Camélia com suas pétalas brancas de seda, do Gengibre Azul que encantam meus olhos com seus buques tão delicados, convivendo em paz com a imensa Primavera e a Bananeira que dá em fitas. Mas as Roseiras, ah…Essas são as rainhas que impõe sua magestade e que se entregam à luz solar como a amante lânguida se entrega aos braços de seu amado. E eu, presenciando toda essa perfeição, contemplo boquiaberta

Atravessar o período da pandemia poderia ter sido mais penoso se meu apartamento não fosse agraciado com uma janela grande com passagem da luz do sol que ao meio da tarde, chega a banhar minha porta de entrada, aquecendo todo o apartamento. No período de reclusão, passei incontáveis horas cuidando de minha taxa de vitamina D. Ouvindo uma boa canção, lendo livros incríveis, escrevendo meu livro Equação Infinda ou, simplesmente ficando em total entrega ao bom ócio.

O registro em si não foi dos melhores mas capturar esse céu azul com o fundo branco das dunas da praia de Ponta Negra, fez com que guardasse com carinho . Reti nela, a lembrança de dias bem prazerosos. Acho que está mais do que na hora de retomar minhas viagens e conhecer novos lugares e culturas e povos. Tô carente!

Esse texto faz parte do Projeto Fotográfico 6 on 6. Participam comigo

Lunna GuedesMariana GouveiaObdulio Nuñes OrtegaSuzana Martins

6 on 6 – Miudezas

Luto uma batalha interna desde que me entendi como mulher madura, moderna (?), antenada com seu tempo. É claro que sendo canceriana, perco sempre. Sou apegada às coisas materiais sem valor monetário ou emocional, que para outras pessoas são banais, mas que para mim, são especiais e valiosas…Como essa concha do mar que está comigo há mais de trinta anos. Ela tem a utilidade de ser uma espécie de broche para fechar um lenço através de seus orifícios. Já me perguntei porque ainda mantenho ela comigo. Ainda não tenho respostas e a concha segue em silêncio absoluto entre meus pertences.

Segue a mesma linha, esse outro objeto, ganho em uma viagem de uma ex-chefe. Nunca usei pois não uso pó compacto mas acho-o bonito, delicado e mesmo sabendo que foi algo feito em linha de produção da área turística, me encanta e assim, permanece ao meu lado mesmo que passe anos sem o ver nem lembrar dele.

Recebi na minha infância o crisma e frequentei missa todos os domingos até o começo da adolescência. Ainda hoje, respeito profundamente a religião católica e guardo uma admiração profunda por esse representante da religião. Não consigo lembrar como essa medalha com a imagem do Papa Francisco chegou até minhas mãos mas guardo-a com carinho entre meus pertences. Toda forma de orar é válida

Gosto de viajar e trazer alguma lembrança por onde passo. Quando estive em João Pessoa, tive o prazer de visitar o ateliê/residência do artista plástico Miguel dos Santos. Acompanhada de um amigo apaixonado por arte brasileira. Ceramista e pintor, seu ateliê é repleto de arte dos mais variados estilos e tamanhos. Após uma tarde prazerosa com muita conversa, café e carinho de toda família, ao nos despedirmos, ele nos presenteou com essa miniatura de uma de suas obras. Fiquei tocada por sua atitude e desde então, essa peça faz parte de meus “tesouros”.

Quem de fora mexer em minhas caixas, ao se deparar com esses chaveiros, pode pensar que sou uma velha acumuladora. Calma que tenho resposta para isso também. Esses sapatinhos de “cristal”, foram as lembrancinhas do casamento de minha sobrinha amada e eu fui madrinha. Noite de pura emoção e apenas um sapatinho é meu. Os demais são de minhas irmãs. Como nunca me cobraram eles, acabaram ficando em minha companhia.

Tenho afeição especial por algo que pulsa vida e meu apego a essa planta é enorme. Trato ela como se fosse meu bebê. Converso com ela, cuido e fico feliz quando vejo-a crescer, brotando novas folhas e galhos. Só o fato de registrar um pequeno trecho dela, me faz bater mais forte o coração e meus olhos ficam úmidos de emoção.

Assim, sigo minha vida dia após dia colecionando tais miudezas que me encantam e tornam meu viver mais feliz e especial. Conta pra mim quais miudezas te tocam a alma.

Esse texto faz parte do Projeto Fotográfico 6 on 6 e estão comigo:

Lunna GuedesMariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

6 on 6 – Resquícios

Por onde passamos, deixamos rastros de nossas ações e, em sua maioria, o resultado do que deixamos de fazer. O planeta sofre as consequências dos excessos, do consumo exagerado e da falta de consciência e compromisso da sociedade. No geral, só nos preocupamos com os direitos e jamais refletimos sobre o cumprimento dos deveres. A conta de todo esse descaso tem sido alta, gerando perdas materiais e de vidas. Estou longe da perfeição e talvez jamais alcance tal meta. Tenho pensado muito a respeito e tento mudar alguns hábitos procurando fazer minha parte. Trabalho de formiguinha. Sempre que me deparo com uma imagem como essa abaixo, fico com certa revolta. Móveis e eletroeletrônicos podem ser consertados e reutilizados por outros. Jamais jogo fora dessa forma. Doo para instituições que consertam e vendem. Essa atitude, se adotado por todos, geraria bem menos lixo. Infelizmente, a maioria não pensa assim. A caminhada ainda será longa e talvez, não viva para ver tais mudanças.

Gosto de mexer com jardinagem mesmo não tendo uma formação mais técnica. Meu trato com as plantas é pura intuição acompanhada por algumas leituras informativas. Podar e dar forma ao jardim da casa de minha mãe sempre foi uma atividade prazerosa, acompanhada por silêncio e troca de carinhos com os seres vivos verdes e de outras tonalidades. Observar as plantas agradecendo, ficando mais bonitas e viçosas não tem preço. Pena que nos últimos tempos, quase não tem sobrado tempo ou disposição física para praticar essa troca.

Também sou adepta de uma boa bagunça causada por mudanças e reformas. Para quem não sabe, formei-me em design de interiores e por pouco, me tornei uma arquiteta. O passo a passo da pintura e decoração de meu apartamento foi curtido em cada etapa e todas foram importantes. Cá estou eu pensando numa próxima paleta de cores para tingir as paredes…Ando na pegada dos tons de verde.

Apreciar o fim de mais um dia, se extasiar com a beleza natural permeada pela intervenção humana através do concreto e vidro. Esse, é um dos momentos de maior encantamento para mim. Não canso de admirar o talento desse grande artista que criou tudo tão perfeito. Que nós humanos consigamos manter tudo isso antes que acabe em caos. Mais do que já se encontra…

Remexer baú de fotos é tocar com carinho no passado. Muitas fotos, puídas pela corrosão do tempo resiste bravamente e ei que me deparo com a Lilica pequena ao lado dos irmãos. O poder desses registros são verdadeiras fendas para um momento único de contentamento, alegrias e certa pureza que somente a infância proporciona. Vamos perdendo essa virtude com o passar dos anos mas, sempre que miro e admiro uma foto antiga, recupero minha alma infantil e me fortaleço. Sim, recordar é viver!

Assim como as plantas, também necessitamos de algumas podas para nos tornarmos mais viçosas e bonitas. Cortar minhas madeixas é sempre um ritual que me agrada. Pelo ato em si que representa cuidado e pelas mãos habilidosas e bom papo de minha profissional querida que me acompanha há alguns anos. E o que dizer do carinho expresso em formato de coração? Só mesmo a Juh querida para me fazer registro repleto de significados.

Esse texto faz parte do Projeto fotográfico mensal 6 on 6. Estão comigo nessa postagem coletiva:

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Imagens: Arquivo pessoal com exceção da primeira que é licenciada: Shutterstock

6 0n 6 – Last six months

Em julho, fui prestigiar um grupo de artistas – incluindo minha irmã Edilene – mais conhecida no meio artístico como Lírio Paper. Uma mostra de trabalhos feito com papéis artísticos. As mais variadas técnicas. Foi uma grata surpresa conhecer o Museu Histórico Paulo Setúbal, os artistas expositores e um pouco da cidade de Tatuí.

Agosto iniciou com a volta às aulas e toda agitação gostosa dos alunos. As atividades seguiram e, entra dia, sai dia, sigo enrolada com minhas inúmeras atividades. Não tem jeito, eu traço minha linha de raciocínio e vou trilhando, semeando e cultivando a paciência para a colheita futura. Nessa entre safra, o prazer em receber livros novos da Scenarium e observar com muito orgulho, a beleza e criatividade dos livros e conferir o talento de cada autor(ra) publicado. É de encher os olhos e bater mais forte o coração

Setembro demarcou território, mantendo o clima mais frio. Nem me incomodei pois a biblioteca transpira calor humano e passar o dia a dia, envolta por esse cenário que une livros diversos a uma arquitetura que transpira história em cada detalhe, me faz sentir que o paraíso é aqui mesmo.

Chegou outubro trazendo muitas comemorações dentro de um único mês: mês internacional da biblioteca escolar, dia da criança, dia de Nossa Senhora Aparecida, dia do Professor, dia Nacional do Livro, dia do Saci, Dia das Bruxas e uma data para mim, muito especial: 31 de outubro Dia D “Drummond”. Difícil escolha das fotos. Havia escolhido a foto da decoração Halloween, que fiz na biblioteca. Confesso que na hora de escrever esse texto, meu coração saltou para a bela ilustração do livro infantil A máquina do poeta, sobre o poeta Drummond, através das mãos talentosas de Nelson Cruz. Simplesmente amo esse livro!

Ao virar a página do mês dez e inaugurar novembro, eis que fico de boca aberta ao me conscientizar que entramos no mês onze! Como assim? Pisquei os olhos e ano de 2022 em ritmo de véspera de encerramento? Entro no mês com os dois pés juntos e não tem como escapar do assunto que está na boca de todos os brasileiros e demais nacionalidades. O mundo basicamente respira e contempla a Copa do Mundo de Futebol e eu tratei de decorar a biblioteca com o tema. Os alunos adoraram!

Chegamos a Dezembro, mês conflitante para mim. Gosto da possibilidade dos reencontros, dos abraços, do carinho mas detesto cada vez mais a ida ao comércio e o estresse causado pelo excesso de pessoas descontroladas, deseducadas que desestimula a compra tranquila de uma lembrança para familiares e amigos mais próximos. Por conta dessa mudança em meu interior, que busca cada vez mais o simples, optei por representar o mês, um belo exemplar da natureza, que capturei no jardim de minha mãe, domingo passado: Neomarica candida ou, seu nome popular, Íris da praia. Não me canso de apreciar sua beleza e delicadeza!

Participam comigo desse projeto:

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Aos cuidados do meio-dia…

Banho tomado, óleo distribuído pelo corpo, por hora, uma seda. Ajeita os cabelos num penteado despenteado, para ele desarrumar. Gosta de observar o prazer surgir na dilatação da íris do olhar amado. Verdes com pinceladas de marrom. Olhos de gato. Tem por hábito, felinamente, se aproximar, subir nela, dominando a cena e sua atenção. Em resposta, ronrona e suspira quando o hálito quente se aproxima de sua nuca, causando arrepios ininterruptos. A música deles impera no recinto, enquanto a coreografia se inicia, tornando-se mais rápida. Urros roucos de ambos se misturam à sedutora rouquidão de Seal

Na cama corpos ardentes, sobre o aparador, velas aromáticas de cereja e avelã se consomem, espalhando um perfume sensual. Quando se encontram, é como se fosse a primeira vez. O tempo não arrefeceu a atração de ambos.

Há dezoito anos, encontro marcado. Sempre no meio do dia, dois ponteiros se superpõem. Lá fora, barulho de buzinas, gritaria das crianças na saída da escola, conversas das babás e mães, do pipoqueiro estourando o ouro que paga as contas do mês.

Na penumbra do quarto, esparramados no leito, ressonam suave. Ele, nu em pelo, ela, coberta apenas pelo lençol de rendas do prazer, jorro do homem que ama.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo: Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins Imagem gratuita: Pexels

Queria ver se chegava por extenso, ao contrário

(Helder)

Diminui diante de tamanha força e beleza. Não tive reação, não consegui expressar palavra.

Paralisei envolta pela brisa perfumada que se formou, assim que volitou em minha direção.

Seu perfume fixou na epiderme cansada de quem já não esperava nada da vida.

Um único encontro. Mais certo dizer um único cruzar de caminhos e, bastou.

Foi o suficiente para mudar a rota de uma existência errônea.

Segui, não olhando para trás. Jamais pensei em voltar e te procurar, tentar contato, te conhecer.

Preferi o colorido da fantasia que te torna perfeito, sem falhas, justo. Um deus!

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Aprendi com as palavras o que eu não consegui com as asas: voar!

(Suzana Martins – (In) Versus)

A antiga sabedoria popular afirma que ninguém nasce pronto. É fato. Sou exemplo de que isso é a mais pura verdade. Nasci com todos os defeitos que um ser humano pode carregar em sua bagagem temporária. No decorrer da vida, no escoar das décadas, aprimorei quase todos eles. Só não me avisaram que era para limá-los e não acentuá-los. Desculpem-me. Em minha defesa digo que a falha não foi minha, mas sim, de quem me (des)orientou.

Rolando feito pedra solta do penhasco, o atrito me moldou, ganhei formas arredondadas, tornei-me macia como bumbum de bebê. Aprendi aos poucos a falar e, em seguida, as letras que brincavam no ar, me desafiando a decifrá-las. Símbolos desconhecidos que muito me fizeram sofrer por não os compreender. Burra não sou. Marrenta, dediquei uma existência para assimilar e nunca mais esquecer. Aprendi! Vivia pelos cantos dizendo em voz alta que era “alfabetizada”. Tornou-se meu mantra.

A realidade impunha desafios. Resiliente, me jogava de cabeça em cursos e especializações. Muitas leituras técnicas.

Frustrada, não conseguia entender a prisão que me mantinha imobilizada. Depois de muita resistência, fui em busca de apoio profissional. A terapia descortinou um mundo desconhecido até então. O despertar para mim mesma, fazer as pazes com meu interior, meu passado, meus antepassados. Todas essas descobertas desembocaram na técnica da escrita. Fui apresentada à escrita matinal. Esse foi o primeiro passo para a liberdade total. As primeiras escritas saíram rígidas, tímidas, pequenas.

Mais confiante, desfiava meu cotidiano, minhas rotinas, meus sonhos e anseios. Registrava meus medos, agora, sem medo. Fiquei sem vergonha. Facinha, facinha.

As palavras, sábias que são, tiveram a paciência de esperar meu amadurecimento natural. Jamais me forçaram nada. Hoje, somos parceiras e unidas, percorremos histórias, situações, escolhemos roteiro de viagem. Como um par de dançarinos afinados, um espera o outro para dar a passada correta, em sintonia. Se estou com a mente cansada, as palavras aguardam em silêncio. Não me pressionam. Caso eu me depare com ideias para uma boa história, de imediato elas saem da caixa da criatividade pulando como pipoca na panela quente. Soltam risos agudos de criança feliz e vêm ao meu encontro. Brincamos, voamos alto em nossas aspirações literárias e o resultado, cada vez mais satisfatório.

Hoje brinquei bastante, a mente limitada grita que está na hora de parar e descansar. Elas compreendem e, despedindo-se, somem no ar, aguardando o amanhecer, para que desperte renovada e as convide para novas incursões. Hora de apagar a luz e dormir.

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Dedo de prosa com d. Maria

Vó, hoje pensei em você em vários momentos do dia. Começou quando cheguei a casa de mamãe e, ao abraçá-la, te senti em meu abraço. Me perdi por uns segundos. Enquanto preparávamos o almoço, as duas de barriga colada ao calor do fogão, trocamos olhares cumplices iguais aos que trocávamos em seu fogão. Você, mulher madura, eterna criança. Eu, criança sonhadora que aspirava ser como você, ao crescer. No silêncio do cozimento da polenta ou no tiritar das suculentas mandiocas no óleo quente, observava a alquimia acontecendo. Ficava deslumbrada ao observar o apreciado tubérculo, dourando diante dos meus olhos. Abria um sorriso — manifestação genuína de pura alegria — cerrava os olhos me deixando envolver pelo perfume que emanava e envolvia toda a cozinha. Você, não se contendo diante de minha reação, caía no riso balançando a barriga flácida e quentinha, amparada pelo eterno avental florido.

Vó, como gostava de me deixar envolver pelo calor do seu amor. Sua imagem cabocla, seus longos cabelos presos num coque baixo, o brilho de seu olhar sempre atento, sua bondade infinita e até mesmo, seus instantes de raiva em explosão de palavrões, faz uma falta danada. Sua simplicidade nunca foi sinônimo de ignorância, mesmo analfabeta.

Sabe vó, a cada dia que passa, sua filha está mais parecida com você. No físico, na filosofia de vida, na alma. Mamãe é uma versão sua a me acompanhar pela vida adulta. Hoje, somos duas amigas e companheiras de vida. Ultrapassamos e superamos a difícil relação mãe/filha.

Me pergunto se daqui uns anos, serei réplica de vocês duas, dando continuidade a essa tradição de mulheres fortes, construção diária de uma biblioteca de sentimentos, emoções e doação.

Herdei de vocês o amor incondicional, o respeito à natureza, o prazer em preparar alimentos transformando esse momento em ritual alquímico e a alegria em dividir atenção, trocar experiências e alcançar no interior das pessoas, o tesouro que nem elas sabem possuir.

Não deixo herdeiros consanguíneos, mas, sei que espalho a semente que ao desabrochar, manterá a lembrança da tia Roseli, a senhorinha de cabelos brancos, sorriso largo e um abraço caloroso. Acho que vou deixar uma bela história para se contar…

Vó, agora a pouco lembrei do sonho que tive com você, dias depois que partiu. Caminhávamos juntas e ao chegar ao término da estrada, você olhava, sorria e dizia carinhosamente para mim:

Você me acompanha até aqui. Fique bem, saiba que sempre estarei ao seu lado, mesmo que não me veja. Agora volte, sua caminhada mal começou.

Voltei e tenho sua imagem como um símbolo de todas as mulheres que passaram por minha vida . Agradeço por seu exemplo, sabedoria, transparência e força.

Vó, por que será que lembrei tanto de você hoje?

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Ilustração: Minha autoria

Entalhadas nas nervuras do corpo ser — semente — flor

(Nirlei Maria Oliveira, As estações)

Sou povoada por

— palavras

Percorrem a corrente sanguínea, inundam meu

— cérebro

Passeiam pelas retinas,

Se metamorfoseiam em

— saliva

Alimentam minha boca,

Aberta, inundam meu

— exterior

Sou pá, cavouco,

Sou lavra, trabalho, entalho

— Ideias

Nas dobras, se aquecem, aguardam

a hora certa de 

germinar.

 

 

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E mil orações aos céus para a vida apagar de uma vez

(Flávia Côrtes – As Estações)

Tenho por hábito orar. Sempre agradeço. Dificilmente peço por algo, a não ser, força e discernimento para enfrentar os desafios da vida. Houve momentos em que elevei meu pensamento rogando por alguém. Solicitei clemência para aqueles que agonizavam e nada mais se poderia fazer a não ser, orar. Confio no poder das palavras e reverencio quem sabe usar com sabedoria e responsabilidade. A palavra proferida ou escrita pode elevar ou dizimar uma pessoa.

Observo que nos últimos anos, a humanidade retrocedeu em sua evolução, se é que houve uma. A mesquinhez, o egoísmo, o orgulho, a vilania. São primas de primeiro grau e costumam agir em conjunto. Elas sabem que a união faz a força e que unidas, vencem.

Por isso, minhas orações têm sido para apagar de vez a vida delas. Nunca desejei o mal a ninguém, mas, a essa família de perversos e desalmados, que mancham a alma humana, rogo aos céus que se dissolvam no ar.

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