Oficina das letras

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Queria tanto saber escrever como Virginia, ou quem sabe ter a delicadeza de Mia Couto. Sonhava em criar algo grandioso a la Joyce ou quem sabe, contentar em escrevinhar feito Barros.

Houve época em que planejei ser um King de saias, ou simplesmente, ser discípula de Christie. Mergulhei num universo interior buscando Lispector. Tentei ser uma mulher de forte personalidade como as tão bem traçadas por Montello. Sem uma sombra na parede, me senti a última convidada de uma festa na qual não conhecia ninguém. Enebriei-me de vodka, uísque e fumei feito Bukowski. Acordei de porre com gosto ácido da decepção.

Amadureci e decidi transformar-me numa pretensa Assis, divaguei sobre meu desassossego feito Pessoa e não me achei em ninguém. Ou talvez, seja bipolar e me vejo em várias vozes de acordo com meu estado de espírito.

Entrei em crise, me iniciei na psicanálise.Conheci Yalom e disse muitas mentiras no divã. Fiquei em choque quando Nietzsche chorou. Retornei para casa e refleti sobre mamãe e o sentido da vida. Cheguei a conclusão que o carrasco do amor não existe. Encontrei a cura de Schopenhauer e compreendi os desafios da terapia. Me dei alta.

Hoje, chegando à maturidade, encontrei o tom correto de meus escritos. Nada de me assemelhar aos grandes nomes da literatura. Passo longe das técnicas literárias. Fujo das edições de textos para “enxugar” as “gorduras”. Não os quero pasteurizados feito produtos Danone. Que se dane!

Decidi ser fiel a mim mesma expondo minhas entranhas. Não me importo se exibo minhas neuroses pessoais, minhas fraquezas humanas ou traço linhas ficcionais. Em cada frase que escrevo, sou verdadeira. Se agrado a todos? Óbvio que não. Às vezes, nem a mim agrada, o que dirá aos outros que não têm intimidade comigo.

De uma coisa tenho certeza. O que surge aqui dentro dessa caixa de idéias chamada cérebro e dessa outra almofada que pulsa, mais conhecida como coração, é real. É matéria bruta. É quente. Sigo escrevendo forjando-me em palavras.

Imagem: Google

Incubadora de ideias

Extremily bizarre surrealDesmaio por dentro em imensas correntezas de preguiça. Pode parecer exagero de minha parte mas é exatamente assim que me sinto. O pouco oxigênio que compartilho nessa sala com outras pessoas torna-me quase um zumbi. Assonada, engulo moscas, poeira invisível, ânimo alheio e os poucos sonhos que ainda acalento. Luto para sair desse estado mas tanto o espírito quanto a matéria sentem-se vencidos. Entrego os pontos.

Embarco na leitura de um livro de Lewis Carroll. Deixo-me seduzir pela fantasia que ainda é o porto seguro para os mais sensíveis e desgarrados dessa vida material e miserável. Só isso não me basta. Preciso e quero sonhar com algo melhor. Assumo a persona de Alice e saio correndo pelos labirintos tracejados em minha mente obscura. Procuro algo que ainda não tenho certeza do que seja. O que não tem tanta importância mas sim, o ato em si de procurar. Isso significa viver. Mobilizar-se para algo mais grandioso do que essa rotina de olhar o vazio de outras almas plasmado numa foto registrando um pretenso momento feliz que nunca existiu. De passar os olhos embaçados e curtir o que nem lemos ou assimilamos direito.De  compartilhar ideias que surgem do nada e voltam para o nada. Nada. Nada. Nada…

Aqui, nessa ilha da fantasia chamada ficção, reencontro personagens que nutrem essa minha eterna carência de vida. Homens e mulheres, bichos, seres alados, magia por todos os lados fazem minha alma mais feliz. Mirando o redor e enxergando centenas de livros dos mais variados tamanhos, estilos, autores que compõe uma biblioteca, imagino-me uma rainha e sua corte. A tarde outonal vai cedendo a chegada da noite de forma mansa e solícita.Do lado de fora, numa tela de cinema mudo, percebo os carros num desfile sem sons. Um colorido esmaecido pela fuligem dos motores. As parcas árvores que ainda restam balançam diante da doce carícia do vento. Aqui, no parapeito, acolá nos fios de alta tensão, pássaros encardidos cumprem com sua sina trazendo-nos um pouco da vida natural nessa selva de concreto.
Um senhor a minha frente se perde em sua leitura do jornal. Ao lado, uma criança se entrega a sua tarefa de casa. Ao longe, sons abafados de crianças brincando no parque me lembram que ainda pertenço a esse mundo. Da mesma forma que o mundo das fábulas, ainda temos nuances de alegria e encantamento. Nem tudo está perdido para essa autora cética da humanidade. Ainda tenho muito a escrever!

Imagem: Tfich

Desaparecida

Alguém encontrou por aí uma certa inspiração perdida? Disse que ia dar uma volta e retornava logo. Esperei até agora e já estou com os pés cansados de tanto aguardar. O que faço sem ela por perto? Se ela é responsável por tudo o que faço desde o acordar pela manhã friorenta, até o fechar os olhos embaçados de cansaço. Necessito dela no percurso para o trabalho, e careço mais ainda para levar adiante o ofício escolhido. Só amor não basta. Preciso dela para colorir, criar e tornar o dia a dia mais prazeroso. Favor, quem encontrar, entrar em contato direto com Escritora Aflita da SIlva, rua dos Pés Descalços, esquina com Alameda da Fantasia Perdida, s/n.

Estarei ali, quietinha na janela de caneta em punhos pronta para recebê-la de volta.

Ei! Você aí que me olha atentamente. É, você mesmo. Por acaso viu a Senhora Inspiração gazeteando por aí? Não?…

Puxa vida pessoal, então ficarei mais um dia devendo algo que preste pra vocês nesse blog. É uma pena mas sem ela por perto, não tem jeito. Não sai nada daqui dessa cachola velha e avariada. Vamos aguardar mais um pouco. Quem sabe semana que vem…

Ofício difícil

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Uma inquietação surge de repente. Agonia já conhecida que não incomoda mais.
Permanece dias a fio num crescente percurso. Hoje já não luto contra.
Abro-me inteiro e deixo fluir até se esgotar por completo e o ciclo fechar novamente. Cabeça lateja, olhos secam, estômago dói, noites sem dormir.
Dedos pulsam nervosamente tentando concretizar o torpor de mais uma vez compor uma nova história.
Esse ofício, que muitas vezes se torna tão difícil, nos impulsiona a seguir em frente.
Escrevo. Escrevo diariamente numa ânsia de purgar e exorcizar os fantasmas – meus e do mundo – de burilar as dores da humanidade. E assim torno possível vivenciar inúmeras vidas, diversas experiências que em mim, se torna muitas vezes impossível. Permito-me amar das mais diversas formas. Homens, mulheres, crianças, idosos. Conheço lugares, paisagens, teço em minha paleta de vivências, nuances indescritíveis.
Por algum tempo torno-me Deus. Gero minhas criaturas, designo seus destinos, amores e dissabores. Determino o término de suas vidas, desço-as à sepultura e depois as resgato trazendo-as ao meu lado recebendo com carinho de pai.
Sinto um ciúme descomunal, defendo-as até a morte se preciso for.
E assim, vou seguindo minha vida aceitando meu destino de escritor.

 

Imagem: Shutterstock

 

Leo

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Considero-me um cara da noite. A vida noturna, para mim, tem cor e sabor especial. Sou carioca de nascimento mas paulista de alma. Desde que me exilei nessa cidade fui aos poucos descobrindo suas sutilezas e belezas.

Está certo que não é a beleza natural que encontramos na cidade do Rio de Janeiro. Aquilo tudo é um verdadeiro cartão postal.

São Paulo é aquele famoso caso de se interessar por uma mulher feia, sem maiores atrativos, mas que na convivência diária, vamos descobrindo seus encantos, suas virtudes, sua beleza atípica. E quando menos esperamos, estamos completamente apaixonados por ela.

A vida agitada, frenética e caótica de São Paulo é minha cara! E hoje, já me sinto um paulistano genuíno. Uma das coisas que mais prazer me dá, é, ao sair do trabalho, caminhar.

Não perco tempo me arrochando nos metrôs ou ônibus no horário de rush! Gosto de andar pelas ruas. Circular pelas entranhas urbanas desvendando seus mistérios e ouvindo muitas histórias. Aliás, se tem uma coisa que me dá um prazer danado, é ouvir histórias. E todo ser humano é uma riqueza ambulante nesse quesito. Sempre que desço a Rua Augusta sentido centro, capto diálogos incríveis! E isso, lógico, serve de material denso para minhas histórias.

Ah! Vocês ainda não sabem não é mesmo? Vou começar do início.

Meu nome é Leocádio Neves (oh nome filho da puta!), mas, por favor, podem de chamar apenas por Leo.

Sou formado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO). Fiz estágio num escritório de direito e odiei. Consegui depois um emprego como estagiário na Biblioteca Nacional e lá, descobri minha vocação para pesquisas históricas e de cunho geral além de me descobrir escritor. Sim meus leitores! Sou um escritor nas horas vagas. Essa é apenas uma de minhas facetas. Outra coisa que descobri trabalhando na BN foi que tenho espírito de Sherlock Holmes. Adoro um desafio e provar que sempre tenho razão. Principalmente quando me atrevo a investigar coisas por conta própria.

Fiz um curso à distância pelo D.N.I. (Departamento Nacional de Investigação) que me ajudou a apurar meus dotes naturais. Já ajudei a polícia a solucionar vários casos cabeludos e foi exatamente por conta de um desses que me ferrei.

Mas isso é outra história! Mais tarde falo sobre ela.

Tem vários locais que me agradam passar algumas horas captando cenas, insights etc. Um deles é o Café Vermont, na Vieira de Carvalho. Além da frequência variada que aparece por lá, o pessoal que ali trabalha é de uma simpatia sem igual. Sinto-me em casa. Outro lugar que também sempre dou uma passada e aprecio aquele café gostoso, é o Café Floresta, no condomínio Copan, na Avenida Ipiranga. Sempre que posso me encontro com alguns camaradas meus que trabalham na Biblioteca Mario de Andrade, que é outro reduto sagrado para mim. Atualmente trabalho numa biblioteca escolar de um colégio tradicional. Gosto do ambiente.

Gente jovem, meninada cheia de vida. Algumas chatinhas, mimadas, mas no geral, sangue bom! Quando fiquei desempregado há um ano, bateu desespero e quando me falaram dessa vaga, fiquei um pouco ressabiado.

Afinal, como a maioria dos profissionais da minha área, o bibliotecário escolar é considerado algo menor. Compreende? Questão de status. Mas como a grana estava acabando e as contas se juntando, decidi encarar.

Não me arrependo!

Ambiente descontraído, pessoais legais, tempo para fazer meu serviço e também para escrever, pesquisar e…investigar! Atualmente estou no encalço de algo grande, pesado.

Mas isso é outra história! Mais tarde falo sobre ela.