E por conta do Halloween, quase cometo a heresia de me esquecer de enaltecer um dos maiores escritores de nosso tempo: Drummond.
Para quem não sabe, hoje é a data do nascimento de um de nossos maiores poetas: Carlos Drummond de Andrade e por conta disso, desde 2011 o Instituto Moreira Salles organiza o Dia D – Drummond para que passe a integrar o calendário cultural do país.
Sempre participo dessa celebração pois o legado do nosso poeta é vasto, é rico e precisamos valorizar a escrita de nossos autores brasileiros, tão pouco reconhecidos pelo próprio povo brasileiro.
Lanterna mágica
Meus olhos têm melancolias,
minha boca tem rugas.
Velha cidade!
As árvores tão repetidas.
Debaixo de cada árvore faço minha cama,
em cada ramo dependuro meu paletó.
Lirismo.
Pelos jardins versailles
ingenuidade de velocípedes.
E o velho fraque
na casinha de alpendre com duas janelas dolorosas.
No país dos Andrades
No país dos Andrades, onde o chão
é forrado pelo cobertor vermelho de meu pai,
indago um objeto desaparecido há trinta anos,
que não sei se furtaram, mas só acho formigas.
No país dos Andrades, lá onde não há cartazes
e as ordens são peremptórias, sem embargo tácitas,
já não distingo porteiras, divisas, certas rudes pastagens
plantada no ano zero e transmitidas no sangue.
No país dos Andrades, somem agora os sinais
que fixavam a fazenda, a guerra e o mercado,
bem como outros distritos; solidão das vertentes.
Eis que me vejo tonto, agudo e suspeitoso.
Será outro país? O governo o pilhou? O tempo o corrompeu?
No país dos Andrades, secreto latifúndio,
a tudo pergunto e invoco; mas o escuro soprou; e ninguém me secunda.
Adeus, vermelho
(viajarei) cobertor de meu pai.
Inocentes do Leblon
Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
E você? Já leu um poema hoje? Já Drummondiou?