Navegar é preciso
viver não é preciso, dizia Pessoa
O que ele não soube, é o quanto amei navegar em seu mar
Corpo rígido a me levar em ondas intensas
A derramar em meu porto, seu prazer
Levando-me a esquecer a náusea de viver
em terra firme
Navegar é preciso
viver não é preciso, dizia Pessoa
O que ele não soube, é o quanto amei navegar em seu mar
Corpo rígido a me levar em ondas intensas
A derramar em meu porto, seu prazer
Levando-me a esquecer a náusea de viver
em terra firme
Quem sou eu?
No que me meta-morfoseei?
O que busquei nessa minha trajetória de vida?
O que e quanto conquistei?
E estas conquistas, foram coisas pelas quais
realmente sonhei, desejei?
Ou, simplesmente obedeci e aceitei o que a
sociedade impôs?
Sou feliz? Sou realizada? Estou em paz?
Quero continuar? Quero partir?
Quero calar? Quero falar?
Quero…
…Arrebentar os grilhões que me prendem
à situações cômodas mas prisionais
Cansei dessa máscara de boa moça
Nem vinte anos tenho mais
Chega de baixar a cabeça e dizer “tudo bem”, “Amém”
Não sou boba, muito menos demente,
Não minta!
Jogue na minha cara que não sirvo mais
à essa engrenagem ressequida
Chute minha bunda mas faça com dignidade, com verdade!
Liberte-me dessa rotina para que – mesmo chorando –
o não reconhecimento,
me possibilite trilhar o passo
para me Re-
Inventar.
Imagem licenciada: Shutterstock
Protegida da chuva
pelo alpendre – em seu terraço,
a dama observa
Pedestres passam apressados
numa única leva
Zumbis
Ninguém a vê. Nem mesmo
a equipe da TV – que ali,
grava pegadinhas para
programa de humor
A dama, que a tudo observa,
deixa uma sombra baixar
em seu sereno olhar
– por hora, preocupante
Sabe que em breve tudo mudará
O perigo se aproxima
não tardará
para que vidas inocentes
– crianças e idosos perecerão
E não haverá rima possível
que combine com esse final
O embate, somente ela sabe,
será mortal.
Observar a juventude se esvaindo
Manter a mente e espírito jovem
Não infantilizada
Remoçada nas linhas de raciocínio
Ar refrescado por novos aprendizados,
experiências, vivências
Permitir-se.
Envelhecer é voltar as costas ao novo
ao não testado.
Envelhecer, é voltar-se para dentro das entranhas
e nela – deixar-se apodrecer pela inércia
Percebo meu corpo perdendo a
elasssssssticidade
A derme ganha dia a dia flacidez
Luto para manter a postura reta
envergar, somente a alma para alcançar o inalcançável
Pilates, Yoga, meditação, alimentação natural
Num mundo de industrializados, mantenho meu
foco na terra, no adubo, na criação da natureza
Essa é a verdadeira beleza!
Hidrato a pele e, em contrapartida,
ela ganha manchas senis
Teimosas, desejam demarcar território
provando que muito vivi
Passar a vida ao lado dos mesmos
sentir-se estrangeira
Não reconhecer a língua falada
não conseguir fazer-se entender
Gritar tentando ser notada
Forçar sua presença
inútil – não notam sua carência
Que sociedade vivemos onde
todos sofrem solidão sem fim
e buscam aplicativos,
redes sociais,
desenvolvem até robôs,
sósias perfeitas de quem se foi
Cada ser em seu quadradinho
Lado a lado – um só mutismo
Cegueira de Saramago
Que enxergou o que ninguém deseja ver
O ser humano perdeu referencial
de sua humanidade
Tornou-se apenas um animal
tecnológico, pobre na alma
e infeliz.
E eu aqui, sussurrando para você
Que senta-se bem a minha frente
E não sente que estou aqui
forasteira renegada
Carta descartada de um baralho francês
Que insensatez!
Mulher, velha, sem família
Que domina as letras – que heresia!
É muita ousadia!
Imagem: Freeimages
Espera, não vá
O dia não clareou e o galo da vizinha ainda nem cantou
Mantenha-me aquecida
Volte a encostar seu hálito quente em meu pescoço,
relaxe
Sussurre que sou cheirosa e macia
Confesse ao pé do ouvido que valho a pena
Sabes o quanto sou insegura-
Fique!
Ature-me um pouco mais
Sei que exijo sua atenção
Contudo, desdobro-me em muitas para teu prazer
O que fazer?
Anseio por seus toques. Para mim são vitais
Amo os momentos em que nos tornamos
animais
Coreografamos as preliminares
Insanos, nos devotamos, nos doamos,
não importa que para os vizinhos o que falamos
não tenha nexo
Entre galopadas, freios, gemidos e grunhidos
Nosso entendimento se faz
Nossos olhares – dois asteroides que se cruzam
e se reconhecem brilham
intensamente
como recompensa, ganhamos o ápice do prazer-
à dois, apagamos juntos
exaustos, suados, permanecemos colados –
derme contra derme
tal qual estrelas que morrem e continuam
a brilhar no universo sem fim
Assim somos, assim nos amamos, assim
nos encaixamos
Por isso, espera, não vá!
Fique um pouco mais.
Imagem: Pixabay
Acordo primavera,
Alma florida, terra remexida
cheiro de novidade
Passo o dia exalando verão
Mãos quentes, sorriso luminoso,
olhos de tentação
A tarde baixa trazendo aroma de
café;
aspiro seu perfume que me leva à você
Forma-se tempestade
Fenômeno El Niño, viro geleira
enrigece meu coração;
Noite baixa com temperatura fria
encolhida na cama, aos poucos,
passa a tormenta; madrugada chega,
uma voz interna sopra na alma:
Alice, enfrenta!
Adormeço. Mais uma vez, despeço-me
da tua ausente presença. Amanhece.
Volto a ser jardim;
Floresço!
Imagem: Pexels
Parece
Que perdi a capacidade, pesa a idade
Perdi a sincronicidade com esse mundo. Imundo.
Parece
Que desisti do amor
Relações emboloradas dão náuseas. Bebo sal de frutas.
Parece
Que a humanidade perdeu
o que tinha de melhor: sentimento
Hoje trazem no peito apenas um bloco de cimento
Parece
Que perdi de vez a fé. Enjoei até de meu amado café.
Nem água passa pela garganta
Que hoje não canta. Só lamenta.
Parece
Que não desejo mais viver nesse planeta.
Padeço.
Imagem: Danilo Martinis
Pousa na sacada da janela, uma folha
amarelecida
caída da árvore que luta contra poluição do ar e fios
– que a sufocam.
Esquecida, é prenúncio do outono que
atrasado, reclama sua presença entre nós
O silêncio, cá dentro, dá o tom musical perfeito
para o encerramento do dia
Anoitece em Sampa.
Imagem: Google
Espaço de aprendizagem, leituras e vivências
Devaneios, poesias, literatura e cultura geral
Livros e boas histórias
Quando a mente não permite que você permaneça no mesmo lugar.
o que é a vida senão um conjunto de pequenas histórias?
livros artesanais
Blog de divulgação do trabalho da poeta e escritora Anna Clara de Vitto│photography by Ornella Rodrigues
Espaço de aprendizagem, leitura e vivências
Experimentações Literárias de Bia Bernardi
Por Carla Sousa
O cinema, a vida e tudo o mais
Minicontos, aforismos e patacoadas. Crônicas de Botequim.
Verba volant, scripta manent.
Um blog que pretende motivar, inspirar, informar e dar a conhecer sítios e lugares surpreendentes
¡Com licença, poética!