A leitura faz parte de meu cotidiano há muito tempo e posso dizer que já li praticamente de tudo: de revista de banca de jornal Sabrina, passando por romances mediúnicos, namorando romances best seller como os de Sidney Sheldon e Danielle Steell a livros de filosofia, psicologia, biografias.
Ah claro, li alguns romances eróticos também. Nunca tive problemas em ler em público, contudo, três livros confesso que li na surdida. Bem escondidinho.
O primeiro, foi um clássico de nossa ficção científica do autor que hoje – apesar de esquecido no limbo -, é altamente cultuado pelos amantes do gênero Ficção Científica: André Carneiro.

O livro Amorquia, eu encontrei por acaso numa liquidação na livraria Nobel da rua Maria Antonia. Fazia faculdade e era caminho. Sempre estava por lá garimpando boas promoções. Algo nesse livro chamou minha atenção e não hesitei. Comprei.
Não conhecia o autor e muito menos a história do livro logo, foi um mergulho noturno no lago negro. Considerada uma utopia-anarco-erótica (palavras de meu mestre Nelson Oliveira), nos apresenta uma sociedade hedonista onde as crianças têm aulas de prática sexual desde cedo e a religião reforça o tempo todo o sentido sagrado do prazer carnal.
A morte e o trabalho foram abolidos assim como o amor, o casamento e a fidelidade. Confesso que página a página lida e virada, um incômodo fez moradia dentro de mim. Não sou puritana, mas a maneira como o sexo é tratado na história me causou mal-estar e passei a ler cada vez mais escondido com medo que despertasse a curiosidade nas pessoas ao meu redor. Apesar de tudo, cheguei ao final do livro e tenho de dizer, fiquei muito satisfeita. Tanto que indiquei sua leitura a várias pessoas e emprestei inúmeras vezes até que simplesmente sumiu. Quero comprar um novo exemplar e fazer uma nova leitura. Atenção esse livro você encontra somente em sebos.
Anos mais tarde, fazendo um curso de criação literária, numa discussão sobre literatura erótica, observei que não havia lido nada. Decidi ler alguns títulos sugeridos pelo professor.

O livro escolhido foi A história do olho, de Georges Bataille. Não se enganem ao se deparar com um livro de apenas 144 páginas. A história mexe, incomoda, te faz perder o rumo muitas vezes, te dá tesão em outras. O livro me fez refletir sobre os personagens e sua condição humana em busca de se afirmação – seja no sexo e sua descoberta, na vida, na sociedade que tanto nos cobra determinada postura, mas nos afronta e nos oferece outras. Vivemos no fio da navalha entre o politicamente correto e o que nos proporciona prazer.
Ah, mas não parei aí. Recentemente, li uma obra escrita por uma querida escritora com o qual tenho amizade que muito bagunçou minha vida de leitora: o livro?

A puta, de Marcia Barbieri. Só pelo título já dá o que pensar, mas a escrita mordaz e afiada feito uma lâmina de aço de Márcia, nos incita a seguir com a leitura. Numa linguagem visceral, ela retorce nossas vísceras e nos faz parar e pensar ou simplesmente parar e ficar no vácuo de suas palavras. É, desde que a conheci no curso de criação literária, uma voz que ecoa e que faz diferença nesse mar de mesmice literária atual. E claro, com esse texto, com esse título e capa, confesso que ficava incomodada (mais uma vez essa palavra) em ler em público. Daí, ler escondidinha no escurinho de meu quarto.
Enfim, os três livros de maneira muito diversa, mas abordando o tema sexo, vida, amor, morte, mexeu absurdamente comigo e isso faz deles, três grandes livros afinal, literatura para mim é isso. Tem de mexer e remexer nossas entranhas caso contrário, em nada contribui. E você já leu algum deles? Me conta!
Este post faz parte da postagem coletiva e participam deste projeto os escritores: Lunna Guedes – Ale Helga – Fernanda Akemi –Gustavo Barberá – Roseli Pedroso – Obdúlio Nunes – Fernanda Akemi – Maria Vitória