Compasso de espera

Revendo textos meus antigos, observo o quanto evolui na escrita. Alguns, sinto um misto de vergonha e alegria por ter ousado, escrito e publicado. Trago vários iniciados e inacabados, que se encontram em rascunho. Servem de exercício, modelo, teste para algum tema. Muitos, retorno, retrabalho, reescrevo, moldo, atualizo e publico aqui no blog. Outros tantos, vão permanecer no limbo, guardados de mim mesma.

Agora mesmo, enquanto dedilho esse texto sobre a escrita, ouço uma música instrumental que preenche minha alma, observo pela janela, o tempo nublado, sinto aroma do café com um leve perfume do chocolate que acrescentei no pó e sinto um bem-estar se agigantando dentro de mim, como há um tempo não sentia.

Até mesmo o fato de minha conta bancária estar negativada, o calhamaço de contas vencidas sobre a bancada de trabalho, o desemprego e a vontade absurda de cair no mundo sem planejamento, diminui minha alegria por estar viva e saudável.

Vá entender, o ser humano é assim mesmo. Uma gangorra de emoções. Um vai e vem de sensações que alimenta, faz sofrer e gargalhar.

Olho para minhas estantes, repletas de livros. Muitos, aguardando pacientemente, sua vez de ser acariciado, explorado. Outros, já lidos, esperam minha vontade em selecioná-los e encaminhar para doação. Gosto de vê-los circular por mãos e olhos desconhecidos. Essa é a beleza dp processo. Livro bom não é o que decora estantes, mas sim, os que sofrem manuseios ansiosos pela descoberta de seu conteúdo. Preciso e quero mergulhar nas minhas leituras.

Imagens: acervo pessoal

Livros, sempre eles

Quem nasceu para viver entre livros, não consegue fugir por muito tempo. E eu me entrego à eles, como uma amante insaciável que busca a todo momento, seus carinhos e atenção.

Durante o período em que me envolvo com a escrita, perco o contado com as leituras. Ainda não consegui fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Falha de meu Tico e Teco? Pode ser.

Agora, que libertei meu último projeto literário, volto sorridente para os livros que aguardaram meu retorno, silenciosos nas prateleiras. Amigos mais que fiéis, sempre me acolhem.

Receber livros de amigos, é bom demais e ontem, finalmente recebi o livro Dentes moles não mastigam pedras, do talentoso Manogon. Projeto incrível que assim que terminar de ler, faço uma resenha por aqui.

Trabalhar com eles (sempre os livros) também é prazeroso e isso tenho feito diariamente. Isso me faz sentir viva!

Enfim, sigo semeando palavras, histórias e colhendo outras tantas. A graça da vida está justamente aí. E você? O que tem lido ultimamente?

2020 – apesar de tudo ou por tudo, eu li!

O ano de 2020 foi peculiar em muitos aspectos inclusive, em minhas leituras.

Por força da profissão e amor a leitura, todo ano costumava ler muitos livros. Infanto-juvenis, romances, suspense, contos, crônicas, ensaios.

Com a chegada da quarentena, presa em meu apartamento e sozinha, tive de me contentar com o que tinha em minhas estantes. Por sorte, trabalhando de forma remota, trouxe algumas caixas repletas de livros para analisar, fazer uma leitura técnica e registrar no acervo da biblioteca em que trabalhava.

Conforme foram passando os dias, arrastada pela monotonia e da conscientização da gravidade do que passávamos, fui ficando com meu foco na leitura comprometido. Iniciei vários livros e acabava abandonando-os pelo caminho.

Talvez esse comprometimento tenha acontecido pelo excesso de informação obtida através da internet e das redes sociais. Muitas lives a sobrecarregar a mente com tantas informações – o que na maioria -, conscientizei-me depois, desnecessárias. Parei com tudo!

Acalmando a mente e as emoções, avaliei o que tinha aqui comigo em minha estante e selecionei o que gostaria de ler de fato.

Acredito que foi o melhor que fiz e eis abaixo, minha lista de leituras de 2020, o ano que não aconteceu e ainda não terminou!

Primavera num espelho partido – Mario Benedetti

Escola de contos eróticos para viúvas – Balli Kaur Jaswal

O silêncio dos amantes – Lya Luft

Invenção e memória – Lygia Fagundes Telles

Secreções, excreções e desatinos – Rubem Fonseca

Amiga cozinha: crônicas & receitas – Sonia Hirsch

Só para mulheres – Sonia Hirsch

Antes que eu vá – Lauren Oliver

A vegetariana – Han Kang

Os trabalhos da mão – Alfredo Bosi

O gigante enterrado – Kazuo Ishiguro

O estalo – Luís Dill

Labirinto no escuro – Luís Dill

As memórias de Eugênia – Marcos Bagno

Marcéu – Marcos Bagno

Ah, fora os livros da Scenarium Livros Artesanais que aproveitei para ler alguns que ainda não havia lido por falta de tempo ou reler outros que gostei muito.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva sobre o tema “As leituras de 2020”, proposta por Lunna Guedes.

Lunna Guedes Mariana Gouveia Obdulio Nuñes Ortega Suzana Martins

Leitura escondidinha

A leitura faz parte de meu cotidiano há muito tempo e posso dizer que já li praticamente de tudo: de revista de banca de jornal Sabrina, passando por romances mediúnicos, namorando romances best seller como os de Sidney Sheldon e Danielle Steell a livros de filosofia, psicologia, biografias.

Ah claro, li alguns romances eróticos também. Nunca tive problemas em ler em público, contudo, três livros confesso que li na surdida. Bem escondidinho.

O primeiro, foi um clássico de nossa ficção científica do autor que hoje – apesar de esquecido no limbo -, é altamente cultuado pelos amantes do gênero Ficção Científica: André Carneiro.

amorquia1

O livro Amorquia, eu encontrei por acaso numa liquidação na livraria Nobel da rua Maria Antonia. Fazia faculdade e era caminho. Sempre estava por lá garimpando boas promoções. Algo nesse livro chamou minha atenção e não hesitei. Comprei.

Não conhecia o autor e muito menos a história do livro logo, foi um mergulho noturno no lago negro. Considerada uma utopia-anarco-erótica (palavras de meu mestre Nelson Oliveira), nos apresenta uma sociedade hedonista onde as crianças têm aulas de prática sexual desde cedo e a religião reforça o tempo todo o sentido sagrado do prazer carnal.
A morte e o trabalho foram abolidos assim como o amor, o casamento e a fidelidade. Confesso que página a página lida e virada, um incômodo fez moradia dentro de mim. Não sou puritana, mas a maneira como o sexo é tratado na história me causou mal-estar e passei a ler cada vez mais escondido com medo que despertasse a curiosidade nas pessoas ao meu redor. Apesar de tudo, cheguei ao final do livro e tenho de dizer, fiquei muito satisfeita. Tanto que indiquei sua leitura a várias pessoas e emprestei inúmeras vezes até que simplesmente sumiu. Quero comprar um novo exemplar e fazer uma nova leitura. Atenção esse livro você encontra somente em sebos.

Anos mais tarde, fazendo um curso de criação literária, numa discussão sobre literatura erótica, observei que não havia lido nada. Decidi ler alguns títulos sugeridos pelo professor.

a historia do olho

O livro escolhido foi A história do olho, de Georges Bataille. Não se enganem ao se deparar com um livro de apenas 144 páginas. A história mexe, incomoda, te faz perder o rumo muitas vezes, te dá tesão em outras. O livro me fez refletir sobre os personagens e sua condição humana em busca de se afirmação – seja no sexo e sua descoberta, na vida, na sociedade que tanto nos cobra determinada postura, mas nos afronta e nos oferece outras. Vivemos no fio da navalha entre o politicamente correto e o que nos proporciona prazer.

Ah, mas não parei aí. Recentemente, li uma obra escrita por uma querida escritora com o qual tenho amizade que muito bagunçou minha vida de leitora: o livro?

capa-a-puta-marcia-barbieri

A puta, de Marcia Barbieri. Só pelo título já dá o que pensar, mas a escrita mordaz e afiada feito uma lâmina de aço de Márcia, nos incita a seguir com a leitura. Numa linguagem visceral, ela retorce nossas vísceras e nos faz parar e pensar ou simplesmente parar e ficar no vácuo de suas palavras. É, desde que a conheci no curso de criação literária, uma voz que ecoa e que faz diferença nesse mar de mesmice literária atual. E claro, com esse texto, com esse título e capa, confesso que ficava incomodada (mais uma vez essa palavra) em ler em público. Daí, ler escondidinha no escurinho de meu quarto.

Enfim, os três livros de maneira muito diversa, mas abordando o tema sexo, vida, amor, morte, mexeu absurdamente comigo e isso faz deles, três grandes livros afinal, literatura para mim é isso. Tem de mexer e remexer nossas entranhas caso contrário, em nada contribui. E você já leu algum deles? Me conta!

Este post faz parte da postagem coletiva e participam deste projeto os escritores: Lunna Guedes –  Ale Helga – Fernanda Akemi  –Gustavo Barberá – Roseli Pedroso – Obdúlio Nunes – Fernanda Akemi –  Maria Vitória