O que dizer sobre minha vida literária? Alguns dirão que – assim como minha vida -, é uma bagunça. Outros, com certeza enxergarão riqueza e diversidade.
O que posso garantir, é que não consigo viver sem um livro sendo desvendado. Talvez seja uma Voyeur que ama espiar janelas e se deleitar com o cotidiano dos outros. Ler um livro é bem isso. Entrar sem pedir licença na história de pessoas fictícias que bem poderiam ser nossos familiares, vizinhos, conhecidos. É como ver a porta encostada e entrar sorrateiramente. Fazer um tour pela casa alheia observando hábitos, costumes, ouvir conversas íntimas, descobrir que usam tal marca de dentifrício e sabonete. Esse pensamento me remete a uma história de um dos contos do livro de Haruki Murakami: Homens sem mulheres. Aliás, esse é um de meus autores preferidos.
Faço leitura de quase tudo o que cai em minhas mãos. Quase tudo, pois também carrego alguns preconceitos. Não leio autoajuda muito menos romance tipo Sabrina ou Nora Roberts. Explico: quer me ganhar como leitora? Surpreenda-me. Detesto histórias previsíveis. Se após alguns capítulos já consigo sacar o final, esquece. Fecho o livro e perco todo interesse. Ah! Tem algo mais importante do que me surpreender: Escreva bem.
Um texto bem escrito, bem estruturado, envolve e dá um prazer incrível em mergulhar em suas linhas. Exemplo trago muitos mas posso indicar qualquer obra do escritor Josué Montello.
Ouço ecos: QUEMM???
Pois é amigos leitores, sempre que verbalizo alguns nomes da nossa tão desvalorizada e rica Literatura Brasileira, ouço essa frase. E muito me entristece saber que nossos escritores tão talentosos são desvalorizados por nós mesmos. Trabalhando em bibliotecas há quase trinta anos, abracei essa causa e sempre divulgo e tento sensibilizar meus usuários para se permitir conhecer as obras nacionais. Nomes conhecidos como o próprio Montello, Guimarães Rosa, Carlos Heitor Cony, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Rubem Fonseca, José Lins do Rego, Érico Verissimo e tantos outros. Não dá para citar todos. O espaço seria pequeno apesar de infinito.
Contudo, minha vida literária tem muito mais. Lembro que em meados de 1995, quando era recém contratada do Colégio onde ainda me encontro trabalhando, minha primeira leitura de impacto foi a saga As brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Fiquei meses impactada pelos personagens e roteiro das histórias vividas pelo rei Artur e seus cavaleiros. A seguir, a saga de Penélope Keeling me absorveu por completo através da narrativa cativante de Rosamunde Pilcher. Que história! Que personagem! E por falar em personagem, sou uma perseguidora de personagens femininos fortes, marcantes. A Penélope foi talvez a primeira que descobri mas depois, vieram muitas outras como a serial killer mais conhecida como Beleza Mortal, Gretchen Lowell, do livro Coração partido de Chelsea Cain. Citando personagens de Josué Montello, do livro Uma sombra na parede, nos apresenta duas mulheres Malu e Ariana. Anos mais tarde, tiver o prazer de conhecer outra dupla de deixar marcas para quem lê: Alexandra e Raissa, do livro Lua de papel, de Lunna Guedes. Adoráveis e inesquecíveis!
Outra curiosidade das minhas aventuras literárias é escolher livros que me apresentem lugares e culturas desconhecidas. Conheci o Afeganistão e sua cultura através do belo Mulheres de Cabul, de Harriet Logan, a Índia através do olhar (novamente feminino), de Tilo (personagem) desenvolvido de forma magistral pela escritora Chitra B. Divakaruni. Pude conhecer um pouco da idílica Provence, região da França, pela ótica do inglês Peter Mayle no excelente livro Um ano na Provence, e também do ótimo e mais atual livro A livraria mágica de Paris, a escritora alemã Nina George. Um mergulho numa cultura que nos envolve e nos faz sentir vontade de se aposentar e fixar moradia por lá.
Quem me conhece sabe do quanto aprecio ler e escrever também crônicas. E claro, tenho uma lista enorme de cronistas que nos inspiram através de suas óticas, uma leitura primorosa do cotidiano. Rubem Braga, o mestre dos mestres. Contudo nomes como Moacyr Scliar, Carlos Drummond, Cecília Meireles, Fernando Sabino e entre tantos, o meu amado/idolatrado/salve-salve Caio Fernando Abreu. Ah! Como é bom ler as crônicas desses que citei e tantos outros.
E o que dizer de minhas descobertas na literatura juvenil? Quantas pérolas descobri através de uma ótica voltada para os mais jovens mas , que nem por isso, deixa de ser uma literatura rica e também diversificada. Livros que marcaram minha pré-adolescência e mesmo na fase adulta onde pude ter um contato maior com esse gênero e tive o prazer de ler histórias fascinantes. Exemplo? Muitos… A montanha partida, de Odette de Barros Mott. Foi minha primeira grande aventura juvenil. O gênio do crime, do recente falecido João Carlos Marinho. A saga do menino bruxo Harry Potter me encantou com seu mundo peculiar. O fantástico livro fantasia/juvenil Penumbra, de André Vianco. Marina, do espanhol Carlos Ruiz Zafón.
É com pesar que ponho um término nessa minha postagem. Poderia varar o resto da tarde e adentrar a noite tecendo meus pareceres literários. E as muitas curiosidades que cada leitura trás em si. Só posso dizer com certeza absoluta uma coisa: Ler é fundamental para o entendimento da vida e do ser humano. Ler, abre os olhos da alma para um turbilhão de emoções e percepções que nos abastece para as mais diversas situações. Ler, além de ampliar nosso vocabulário, nos proporciona condições de falar melhor, com mais clareza e nos posiciona num patamar que nos fornece condições e ferramentas para crescermos profissionalmente.