Atleta em preparo

Esse ano tenho dois desejos que pretendo na medida do possível, realizar: ler mais e escrever na mesma proporção. Pode parecer estranho mas sempre que inicio um, o outro fica stand by. Parece até que não sei fazer as duas coisas juntas. Saber eu sei mas confesso que dá um cansaço mental muito grande daí, sempre optar por um ou por outro.

Como tenho projeto (s) de escrita para desenvolver, vou precisar me munir de muita disposição para manter a disciplina. Terminar meus cinco livros que repousam na cabeceira da cama desde novembro e olhar com carinho e determinação para os inúmeros inéditos novos e antigos que esperam pacientemente a vez de serem manuseados e acariciados.

Para dar conta de tanto exercício mental, já me encontro tomando complexo vitamínico e florais de Bach além do pilates que me ajuda a manter o pique. Preciso sempre lembrar que já não me encontro mais na casa dos vinte anos. Digamos que caminhei algumas casas à frente e esse ano, fico sex de vez…

Haja vitamina e colágeno para manter-me ativa. Não importa, lancei para o Universo esse desejo e vou maratonar e pular os obstáculos que atravessar meu caminho para concretizar todos eles. Ah, e claro, manter-me mais pontual nas escritas por aqui, afinal, o blog é meu porto seguro.

Mudando de assunto sem sair totalmente dele, fuçando os armários de mamãe, com a desculpa de organizá-los, tive a grata surpresa de descobrir, embalada em plástico bolha, minha velha Remington muito bem conservada. Nem me lembrava mais dela! Acho que nem sei mais datilografar. Ah, e qual não foi o espanto, ao encontrar minha máquina fotográfica também. Foram dias de muitas reencontros com o passado. Meu coração se aqueceu como se reencontrasse antigos namorados. Esse ano promete!

Imagem gratuita Pexels

Um caderno que colecionava relatos de personagens antigos

(Suzana Martins, Estações)

Por minhas mãos já passaram muitos cadernos. Os escolares com anotações das matérias, exercícios, bilhetinhos nunca enviados, rascunhos, desenhos. Muitos desenhos. Os diários que registraram boa parte de minha adolescência com meus sonhos, planos, desabafos, receberam minhas inseguranças, esperanças, confissões.

Esses, se perderam com o tempo ou quem sabe, tenha alimentado uma fogueira no fundo do quintal. Não me recordo.

Depois vieram as agendas que nunca marcavam meus compromissos. Em suas áreas livres, preferia esboçar pequenas histórias, desenhava personagens, alinhavava situações.

Trago alguns cadernos artesanais feitos por minha irmã. Verdadeiras obras de arte, com suas folhas em branco aguardando pacientemente sua vez de serem usados, rabiscados, desenhados. Aprecio vê-los enfileirados ao lado dos livros artesanais que fazem parte de meu acervo.

Estação entra, estação sai e eles seguem sugerindo novos rumos para minha mente e meus dedos nervosos bailar no teclado transformando, criando possíveis vidas a delinear horizontes literários. Ou simplesmente registrar meus escritos matinais há tanto tempo abandonados que servem de terapia, descobertas e fortalecimento da escrita, minha redenção de um mundo cada vez mais insano.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

B.E.D.A. – A escrita sempre pede por alma

Quando decidi me dedicar a escrita, esse livro apareceu em minha mesa de trabalho para ser catalogado. O título, por si só, me chamou a atenção: Escrevendo com a alma.

Passei os olhos atentos a toda informação que ele continha em sua capa e contracapa. O subtítulo, também me agradou: liberte o escritor que há em você.

Cataloguei e fui sua primeira leitora. Em seguida, comprei um exemplar para mim. Depois desse livro, muitos outros foram encontrados por essa leitora voraz que vos fala (ou devo dizer escreve?).

Aos poucos, desenvolvi meu acervo pessoal de livros nessa temática afinal, o escritor que se preze, precisa se dedicar a ler e conhecer técnicas para se aperfeiçoar. Nessa minha caminhada literária, já evolui um pouquinho. Na realidade, bem pouco. A dedicação deve ser intensa e nem sempre fiz o necessário.

Vida profissional, pessoal que muitas vezes servem de entrave em nossos escritos. Ao aposentar ano passado, decidi que agora era a hora. E está sendo.

Escrever com a alma foi sempre meu lema: de vida e de escrita afinal, tanto viver quanto escrever, se não houver paixão, será apenas um texto limpo, perfeito porém, sem vida. Exatamente como um(a) modelo belíssimo (a) mas, que é zero de conteúdo (formação, cultura, vivência); envólucro oco.

Voltando ao livro, Natalie Goldberg tem o dom de nos pegar (leitor) pelas mãos, convidar para um café e, delicadamente, nos levar pelos caminhos da boa escrita. Orientações, aconselhamentos, exemplos e muitas, mas muitas histórias boas! Além de professora de redação, zen-budista, escritora, ela é uma incrível contadora de histórias.

Ler seu livro, é o mesmo que estar frente a frente com a autora, se deliciando de suas inúmeras histórias: de escrita, de autoconhecimento, do prazer em bebericar uma boa xícara de café ou uma taça de vinho; conhecer diversos restaurantes, cafeterias, lavanderias e outros espaços públicos para cenários e extensão do trabalho de escritor.

Os mestres do Zen dizem que o ambiente reflete o nosso estado de espírito. Muitas pessoas têm medo do espaço e por isso tentam preencher cada milímetro do cômodo. É semelhante ao medo que nossa mente tem do vazio, o que a leva a constantemente provocar pensamentos e dramas. Mas acho que com o estúdio do escritor é um pouco diferente. Um pouco de bagunça é indício de mente fértil, é sinal de que ali há alguém ativamente engajado num processo de criação. – p.113-114

Poderia discorrer muito mais sobre o conteúdo do livro mas, deixo um gosto de “quero mais” para que você que me lê, desperte o desejo em conhecer o livro na íntegra. Vou ali, no meu cantinho do escritor, porque preciso desenvolver um conto, para a oficina de logo mais à noite.

Antes de me despedir, jogo a pergunta: Já conhece esse livro? Quais outros você tem em seu acervo? Conta pra mim.

Participam dessa blogagem coletiva:

Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega

Imagem: Acervo pessoal

Despertar

Encontro-me arrepiada nesse exato momento em que faço o registro . Um acontecimento que surgiu tímido e que pouco a pouco foi tomando corpo e gerou protesto gigantesco. Acredito que tudo o que andava engasgado na goela do cidadão comum, saiu com tudo agora. A paralisia, a apatia, o medo que sugava a energia da população pulou fora do peito apertado por tantas perdas e decepções. E agora mais essa? Perder a liberdade de ir e vir, de abraçar e beijar entes amados, de não dividir mais uma mesa de bar com amigos, até mesmo de não poder dividir o espaço apertado dos transportes públicos para mais um dia de trabalho? E nem mesmo curtir o time querido no estádio? Ah…

Não deu. Paciência tem limites. Bobeira também. O momento que vivemos não é para dizer que a direita ou a esquerda é que está com a razão. Isso é mentalidade de quem não entendeu nada até agora. O momento pede união para preservação. Estupidez está fora do jogo. O que importa agora, não é provar que minha linha de raciocínio é a correta ou que o meu Deus é o verdadeiro. No fundo, todas as verdades são falsas. Verdades são relativas e se movem conforme os interesses se mostram mais fortes. Eu mesma não sou detentora de nenhuma certeza. Pelo contrário, carrego muitas dúvidas comigo e não me envergonho de assumi-las.

Deixando de lado a filosofia, foi bonito demais ver os prédios da região central bater panelas e gritar suas insatisfações. E não me venham vocês me dizer que bater panela é coisa de coxinha ou rissoles. Oh coisa chata isso! O gostoso é ver o povo se expressando, mostrando que ainda pulsa o sangue quente nas veias abertas dessa tão usurpada, sofrida e desgastada America Latina.

Exercitando

Vozes abafadas lá fora. Cá dentro, mentes focadas no estudo e em seus smartphones. Sons de páginas viradas. De livros, cadernos e revistas. Meus dedos desgastados de tanto manipular livros, encontram-se ressequidos e enrugados. Mas continuam a virar página a página do livro de Murakami. Romancista como vocação. Sua leitura me leva a um balanço tímido se devo aventurar-me num território tão árido. Devo ser leviana ou totalmente sem noção para me meter nesse meio. Sei de antemão que não serei bem recebida. Muitas críticas hão de cair sobre meus carcomidos ombros de balzaquiana. Caso tivesse bom senso, passaria longe. Recordo da leitura que fiz do livro de Stephen King sobre sua escrita. Lembro também de outros livros lidos: Para ser escritor, de Charles Kiefer, A arte de fazer artes, de Gloria Pondé, Truques da escrita, Howard S. Baker, Escrevendo com a alma, Natalie Goldberg – esse último, tenho grande estima por ele – lido  mais de uma vez. Se aprendi algo? Não sei dizer. Talvez sim. Talvez não. A única certeza que trago – agora de forma consciente – , é que não desejo copiar ninguém. Tenho imensa admiração pela escrita de centenas de escritores no entanto, não quero ser cópia de nenhum deles. Vivo em busca de um estilo próprio. Não almejo estar lado a lado dos grandes. Sou humilde ou talvez relaxada, destituída de um plano de vida literário. Na realidade, sinto-me até mal em pensar-me escritora. Dá a impressão de que estou profanando um espaço sagrado ao qual não faço parte. Sei lá. Paranoia? Quem pode dizer. Falta de comprometimento? Talvez. Preguiça? Com certeza. Insegurança? Todas confessas. Enfim, deixa eu encerrar minhas divagações diante dos alunos estudando aqui na biblioteca. Meus olhos cansados ardem após uma noite não dormida e meu corpo pede descanso. Mais um dia se encerra. Mais uma data no calendário roda e meu desejo de retomar a escrita parece aos poucos adquirir força após um período de inércia. Amanhã tentarei novamente.

Tentativa

Quero retornar. Juro. Se precisar até faço cruz e beijo pra selar meu desejo.

Mas não consigo. Está difícil sair dessa paralisia de vida. Acho que é porque quando morre alguém muito querido, boa parte de nós se vai junto. Olha só, está vendo como fico? Basta tentar e logo estou em prantos. Querendo trincar e virar pó para me perder no Universo. Talvez, quem sabe, virando poeira estelar deixe de sofrer.

É. Eu sei. Sei de tudo isso que você teima em me dizer. Agora te pergunto: quem manda no coração? Eu é que não. Ele – pelo menos o meu – tem vontade própria. Vive mandando às favas a lógica e o bom senso. Coração só quer saber de bater acelerado. Esse negócio de manter-se em equilíbrio não é com ele.

Varias vezes tentei sentar, focar e escrever algo que valha a pena publicar. No entanto, a tela, após horas, permanece em branco. Então desisto, levanto-me, desloco meu corpo para a frente de uma tela maior e ligando-a, desligo-me da realidade por mais algumas horas, anestesiando meus sentimentos e fingindo-me de feliz. Até consigo rir!

Outro dia chorei muito… Pensei até que morreria afogada em minhas próprias lágrimas. Uma revolta imensa tomou conta de mim. Revolta com a vida, com a morte, com Deus. Pela primeira vez contestei seu poder de decisão sobre nossas vidas. Pela primeira vez tive vontade de mandá-lo a merda. Pela primeira vez, ainda chorando, pedi perdão pelo grau da blasfêmia. Pela primeira vez tomei consciência de minha confusão mental e emocional. Pela primeira vez constatei minha pequenez. E chorei até esgotar toda água de meu organismo e me transformar numa rosa do deserto.

Há dias vivo, trabalho, como, bebo, durmo, defeco. Seca. Por dentro e por fora onde minha pele já demonstra rachaduras e meu interior, há muito se trincou e pouco a pouco, se esfarela por dentro.

Está vendo só? Ainda não estou pronta para voltar. Continuo não sabendo o que escrever e como escrever. Acho que minha pretensa carreira de escritora terminou antes mesmo de começar. Para se escrever bem é preciso ter alma, calor, vontade. No momento não tenho nenhum nem outro. Sou apenas uma sombra daquilo que um dia pensei ter sido.

Vou me afogar num destilado ali ao lado lendo Hemingway ao som de Chet Baker.

Se sobreviver, volto.

Oficina das letras

letras (1)

Queria tanto saber escrever como Virginia, ou quem sabe ter a delicadeza de Mia Couto. Sonhava em criar algo grandioso a la Joyce ou quem sabe, contentar em escrevinhar feito Barros.

Houve época em que planejei ser um King de saias, ou simplesmente, ser discípula de Christie. Mergulhei num universo interior buscando Lispector. Tentei ser uma mulher de forte personalidade como as tão bem traçadas por Montello. Sem uma sombra na parede, me senti a última convidada de uma festa na qual não conhecia ninguém. Enebriei-me de vodka, uísque e fumei feito Bukowski. Acordei de porre com gosto ácido da decepção.

Amadureci e decidi transformar-me numa pretensa Assis, divaguei sobre meu desassossego feito Pessoa e não me achei em ninguém. Ou talvez, seja bipolar e me vejo em várias vozes de acordo com meu estado de espírito.

Entrei em crise, me iniciei na psicanálise.Conheci Yalom e disse muitas mentiras no divã. Fiquei em choque quando Nietzsche chorou. Retornei para casa e refleti sobre mamãe e o sentido da vida. Cheguei a conclusão que o carrasco do amor não existe. Encontrei a cura de Schopenhauer e compreendi os desafios da terapia. Me dei alta.

Hoje, chegando à maturidade, encontrei o tom correto de meus escritos. Nada de me assemelhar aos grandes nomes da literatura. Passo longe das técnicas literárias. Fujo das edições de textos para “enxugar” as “gorduras”. Não os quero pasteurizados feito produtos Danone. Que se dane!

Decidi ser fiel a mim mesma expondo minhas entranhas. Não me importo se exibo minhas neuroses pessoais, minhas fraquezas humanas ou traço linhas ficcionais. Em cada frase que escrevo, sou verdadeira. Se agrado a todos? Óbvio que não. Às vezes, nem a mim agrada, o que dirá aos outros que não têm intimidade comigo.

De uma coisa tenho certeza. O que surge aqui dentro dessa caixa de idéias chamada cérebro e dessa outra almofada que pulsa, mais conhecida como coração, é real. É matéria bruta. É quente. Sigo escrevendo forjando-me em palavras.

Imagem: Google

Me acabo no Blues

blues

Com o som nas alturas, mergulho de cabeça na canção que traduz meu estado emocional.

My Melancholy blues…Na voz potente de Freddie Mercury…

Trago com a alma, a fumaça do cigarro que nunca fumei mas, que por hora, minha atormentada alma solicita. Assim como a canção que mexe com cada molécula do meu ser.

And meet my melancholy blues… O piano num acorde “The end” na canção, inspira em mim mais uma tragada e uma vontade imensa de aspirar a vida com tudo o que ela me brinda.

Tenho andado assim nos últimos dias. Choro a todo momento, diante de cada cena que presencio no cotidiano. Tudo me emociona.

Porra de coração amolecido que tenho!!!

Às vezes praguejo esse meu modo de ser. Por outro lado, não seria escritora se não tivesse esse lado melancólico. É ele que tempera meu ser para que penetre fundo nas emoções e retorne cheia de histórias para contar.

É na companhia dela que tomo coragem para encarar minhas neuras, meu lado B, minhas vergonhas transformando-as em literatura. Ficam bonitas até!

É encarnando-a que tenho olhos para enxergar o quanto a vida nos presenteia diariamente com belezas traduzidas em afago de mãe, carinho de filha, chamego de um amor qualquer.

Ela, a melancolia, é uma ilha que permanece lá no fundo de minhas entranhas e que, volta e meia, regresso para banhar-me e beber de sua sabedoria retornando à superfície da vida com fôlego para encarar compromissos assumidos.

Interessante como é também através dela que conheci muitos autores que beberam de sua seiva. Pessoa, Lispector, Espanca, Cecilia Meireles, Virginia Woolf. Esses só pra citar alguns. Foram tantos nessa minha vida de leitora.

Aprendi muito com todos eles. Isso não significa que faço aqui uma apologia à depressão. Não mesmo!

No entanto, tenho absoluta certeza que, se estiver totalmente de boa, farei tudo  menos adentrar os meandros das emoções para escrever.

Mantenho-me submersa, de forma consciente, nas águas turbulentas e mornas da melancolia. Maestro, aumenta o som do Blues!

Imagem: Pinterest