Banho tomado, óleo distribuído pelo corpo, por hora, uma seda. Ajeita os cabelos num penteado despenteado, para ele desarrumar. Gosta de observar o prazer surgir na dilatação da íris do olhar amado. Verdes com pinceladas de marrom. Olhos de gato. Tem por hábito, felinamente, se aproximar, subir nela, dominando a cena e sua atenção. Em resposta, ronrona e suspira quando o hálito quente se aproxima de sua nuca, causando arrepios ininterruptos. A música deles impera no recinto, enquanto a coreografia se inicia, tornando-se mais rápida. Urros roucos de ambos se misturam à sedutora rouquidão de Seal…
Na cama corpos ardentes, sobre o aparador, velas aromáticas de cereja e avelã se consomem, espalhando um perfume sensual. Quando se encontram, é como se fosse a primeira vez. O tempo não arrefeceu a atração de ambos.
Há dezoito anos, encontro marcado. Sempre no meio do dia, dois ponteiros se superpõem. Lá fora, barulho de buzinas, gritaria das crianças na saída da escola, conversas das babás e mães, do pipoqueiro estourando o ouro que paga as contas do mês.
Na penumbra do quarto, esparramados no leito, ressonam suave. Ele, nu em pelo, ela, coberta apenas pelo lençol de rendas do prazer, jorro do homem que ama.
Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo: Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins Imagem gratuita: Pexels