Ode a um mundo melhor

menina sonhando

Não. Hoje não desejo falar do corpo inerte do infante.

Por favor, pare. Não insista!

Prefiro falar dos que ainda terão alguma chance de vingar

Vivendo dia após dia, mesmo que em agonia, provando

Para esses “Doutos” da hipocrisia que vale a pena viver.

Falo dos que insistem em pular muros, quebrar amarras,

arrebentar suas cordas vocais, exigindo que os reconheçam.

Desejo ver loucos saindo às ruas, se permitindo abrir sorrisos

mesmo que diante do  pessimismo alheio,

Anseio ver germinar o canteiro dos desvalidos.

Sonho acordada com o dia em que uma multidão ressurja

arrebentando túmulos, rasgando suas roupas rotas,

abrindo o peito e extravasando a alegria em existir.

E que sua alegria envergonhe e intimide a quadrilha que rouba felicidade alheia,

Sonho com o dia em que verei ao lado deles, essa corja murchar provando

do próprio veneno e que suas carcaças caiam ao chão que se abrirá

sugando-os eliminando essa erva daninha do seio da sociedade.

E nesse dia, que felicidade!

Sonho! Porque sonhar ainda se pode, ainda é de graça

Não. Só por hoje não desejo falar do corpo inerte do infante.

Tal cena deixou-me inoperante. Por isso sonho.

Imagem: My little birds

Balanço geral

eu chanel

Meu sobrenome é Saudade. Nasci sob total influência da Lua, em plena noite de São João, que até então era considerada a noite mais fria do ano. Hoje isso já não regula. No entanto, as lembranças que guardo de minha infância, são todas envoltas numa neblina fria aquecida pela fogueira do Santo. Para os entendidos, sou uma canceriana legítima com todas as características do signo: pura emoção, guardiã do passado, saudosista, espírito maternal, ciumenta…Chata!

Hoje, após anos de psicanálise, tenho consciência do quanto fui chata no passado. Não que hoje tenha alcançado a cura definitiva de meus defeitos. Disso ninguém se cura, não se iluda. Mas que atualmente sou mais flexível, isso é fato. Através do sofrimento – muitas vezes exagerado, confesso, burilei meu ser aprendendo a domar meu mau humor, minha irritação, minha inclinação a autocomiseração. Não foi fácil. Derramei muitas lágrimas principalmente nos três últimos anos.

lili na escolaAcredito que valeu a pena essa faxina. Purifiquei minha alma, esvaziei meu dique das emoções nocivas que corroíam as paredes de meu estômago e com isso, encontro-me mais leve, menos ácida.

Acato a vida como ela se apresenta e aceito as pessoas exatamente como elas são. Isso não significa que tornei-me uma ameba que a nada reage. Experimente pisar no meu calo pra ver o que faço! Não queira ver essa canceriana na gira! Vá por mim e caso um dia me encontre assim, passe bem longe de mim.

Mas olha, esquecia de comentar uma faceta muito peculiar de minha pessoa: sou extremamente palhaça. O tipo que ironiza a tudo e todos. Nem sempre exponho esse meu lado. Aliás, bem poucas pessoas conhecem. No geral, procuro manter a pose da bibliotecária séria. Tem até aqueles que me temem. Pode? Contudo, no dia a dia sou conhecida como a Garota (não tão garota mais) Sorriso. É meu lado Pollyana que sempre se faz presente.

Um aviso aos navegantes: Cuidado com o que fale ou faça perto ou para mim. Tenho uma memória que bem poucos têm. niver edileneNão esqueço absolutamente nada. Guardo tudo muito bem catalogado em minhas fichas do grande e infinito arquivo das memórias com direito a palavras-chave infindas. Ótima fisionomista portanto, se estiver em minha mira nem tente fugir ou disfarçar ou mesmo se esconder. Te acho! E tenho toda a paciência do mundo para finalizar aquilo a que me propus. Posso demorar mas concluo. Tenho meu próprio tempo. E falando nele…

Hoje comemoro meu nascimento. Pular a fogueira (hoje só em pensamento porque a carcaça endureceu), apagar as cinquenta e duas velinhas.

Haja fôlego! E agradecer por mais um ano de vida. Ao contrário de muitas pessoas que conheço, gosto de aniversariar. Gosto de receber abraços e afagos. Sou grata pela vida que me foi ofertada. Não desejando ser piegas mas já sendo (outra faceta da canceriana), agradeço tudo o que recebi da vida até hoje. E o que não alcancei, não tenho problema algum em praguejar, excomungar, babar de raiva e frustração e depois, passado o momento de ira, sossego meu íntimo e parto com alegria para uma nova jornada e conquista. Assim sou eu!

eu com colarAo final das contas, no balanço geral, sou feliz. E feliz convido a todos para vir ao meu Arraiá de São João. Aqui mesmo nesse local.

Reinado de um Clown (à você, doutora Peteleko)

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Rodas pulsantes

circulam errantes

Limites impostos

vontade hercúlea

 

Ultrapassa obstáculos

Sua criatividade, sua vontade,

em si já é um espetáculo

Percorre a cidade

Faz sucesso com todas as idades

Agora é um personagem

sorrindo, faz caridade

Pintura de clown

Dança ao som de James Brown

Rodopia, canta, faz mesura

Sua face, pura candura!

Seu batismo foi um misto

De muita dor, amor e otimismo

Motivada por outros clowns,

Hoje se denomina Doutora Lírio

Lírio Peteleko, trajando seu jaleco

Branco como sua aura

Pura feito sua alma

Olhar doce e penetrante

Sorriso sempre radiante

Quem a vê, nem imagina as dores

que carrega consigo

 Mulher com alma de menina

Suplício intenso, alma de artista

Pinta feito Frida, sofre todas as dores

de Kahlo

De sua cadeira pulsante

Deseja ganhar o mundo

De seu trono itinerante

Espalha alegria e determina

que em seu reino, só impere

Felicidade!

Esse pretenso poema teve como inspiração minha irmã Edilene Pedroso ou, como muitos a conhece, Doutora Lírio Peteleko. Te amo menina! Esse, é pra você minha guerreira!

Felicidade a Conta Gotas

roseli e lirio peteleco

Domingo passado tive um dia atípico. Passei o dia ao lado de muitos palhaços, sendo ridiculamente felizes e levando amor a todos. É engraçado constatar o quanto –  de início – a gente se sente até desconfortável pois no dia a dia, não estamos acostumados a receber sorrisos e carinho de pessoas estranhas. Por uma meia hora fiquei me sentindo esquisita, com vontade de girar nos calcanhares e me mandar dali. Mas como a alegria costuma ser contagiante, em pouco tempo me sentia totalmente integrada naquele grupo de palhaços.

Explico: minha irmã caçula é cadeirante. Ficou há pouco tempo nessa condição e ao invés de se encolher em sua infelicidade, abriu-se para o mundo e buscou companhia. Encontrou e conheceu diversas outras pessoas na mesma condição e foi por intermédio deles, que acabou descobrindo esse grupo e seu trabalho voluntário: Operação Conta Gotas. Palhaços voluntários que promovem encontros para visitas a hospitais, Casa de Apoio ao Câncer, Asilos, Orfanatos etc.

O que me chamou a atenção foi ver quantos jovens estão se aproximando dessa ONG e se dedicando a essa causa. Esse pequeno recorte me fez voltar a ter esperanças de que nem tudo está perdido nesse pais.

Diante de tantos acontecimentos negativos que destroem nossa confiança no ser humano, ver a motivação e alegria

palhaços conta gotas

desses jovens doando seu tempo livre numa causa tão humana, me fez um bem danado. O encontro de domingo foi para uma conscientização sobre os Portadores de Doenças Raras. Só convivendo ao lado de alguém nessas condições e que damos conta do número elevado de doenças raras e número mais elevado ainda de seus portadores. Mais uma vez me surpreendi por ver crianças com diversas síndromes ao lado de suas famílias numa confraternização muito especial: a felicidade estava presente em cada rosto, em cada sorriso. Uma energia muito diferente envolvia todos. Diferente dessa energia que rola nos demais encontros ditos “sociais”. Ali eram pessoas que realmente optaram por estarem juntas num objetivo único: doar-se verdadeiramente.

Saímos do Parque Mário Covas, ganhamos uma pista da Avenida Paulista, distribuímos panfletos sobre diversas doenças raras, entramos no Parque Trianon e lá, nos encontramos com mais uma trupe do bem. Apresentação de mágico, de palhaços arrancando risadas gostosas de todos que estavam presentes no parque.

Voltamos para casa tomadas de uma felicidade incrível. Sensação até então desconhecida para mim. Ficou registrado e nós duas, apesar do imenso cansaço físico, dormimos com um sorriso estampado no rosto e tatuado na alma.

nos duas