Hoje
Não dá
Dói.
Participam dessa blogagem coletiva:
Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega
Hoje
Não dá
Dói.
Participam dessa blogagem coletiva:
Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega
Parou para pensar no quanto maltratamos nosso corpo diariamente?
Venho passando por um turbilhão de emoções há algum tempo. Percorro uma verdadeira montanha russa. Ora estou no alto, ora descendo ladeira numa velocidade absurda tirando-me do prumo da razão. Os sentimentos pululam feito pipoca estourando na panela. Os hormônios a mil transformando a saúde num samba do crioulo doido. Não sabendo lidar bem com isso tudo e ainda por cima, vivendo no piloto automático, passei alguns anos de forma desiquilibrada. Sentia-me frustrada, melindrada, magoada com muitas pessoas. Toda essa mistura exótica não podia dar em outra coisa: o corpo registrou tudo e se ressentiu.
A princípio foi a gastrite que se manifestou nocauteando-me diariamente. Em seguida, a vítima da vez foi a coluna.
A estrutura complexa que me sustenta, pouco a pouco foi comprometida. Dores intensas ao final de cada tarde. Tiravam o sossego e o humor. Quanto mais mau humorada ficava, mais dor sentia. Quanto mais dor sentia, mais irritada. Fui girando os dias, meses, anos de uma vida mal resolvida, pouco aproveitada, mal elaborada.
Na sequência, meu sono foi afetado pilhando mais causando uma falta de energia absurda.
Meus cabelos, antes eram sedosos, tornaram-se opacos. Minha pele sem viço algum envelheceu. Minhas unhas, ficaram fracas, onduladas, cheia de estrias e com uma cor amarelada.
Até a dentição foi afetada. Talvez, devido à rigidez enquanto dormia, se desalinharam modificando a mordedura modificando meu perfil. Parecia um buldogue com a arcada inferior impulsionada para frente transformando minha expressão numa constante máscara de tristeza e braveza.
O espelho, antes meu aliado, tornou-se inimigo declarado. Fugia deles o quanto podia. Não me agradava a visão do agora.
A situação se complicou, quando o intestino deixou de funcionar. Greve geral. Literalmente fiquei enfezada!
Pane geral na máquina. Desaguei num choro sentido, ardido. Expurguei tristezas passadas, perdas, planos frustrados, sonhos não realizados, amores não correspondidos, amizades falsas, trabalho monótono. Vida desperdiçada.
Encontrava-me no subsolo do fundo do poço, esquina com o inferno, travessa do purgatório em plena vida errante!
Ou continuava a sentir pena de mim mesma ou dava um jeito de virar o jogo. E logo! Não tinha muito tempo a perder. Não mais!
Foi a decisão mais difícil, suada, necessária. A mais sábia que tomei em toda minha vida. Percebi que tinha de buscar ajuda externa. Sozinha não conseguiria sair desse lodaçal em que me enfiei.
Como foi penoso encarar meu orgulho besta de se achar forte para resolver tudo.
Tomei a decisão certa. Procurei um terapeuta para ajudar a reconstruir um ser humano destroçado.
Não foi fácil. Tive momentos de pensar em desistir de tudo, de achar que era dinheiro jogado fora.
Hoje, vejo o quanto aprendi a me olhar com mais carinho e respeito. O trabalho de reconstrução é árduo, penoso. Trazemos um lado B, que nos envergonha, nos angustia.
Ficar tête-a-tête com nossa pequenez, nossas neuras, incomoda. Ao me conhecer melhor, até isso passei a gostar e a olhar com mais compreensão.
Tive uma pequena recaída que custou caro. O “engolir sapos” que não deveria fazer parte de minha dieta alimentar gerou um desarranjo absurdo no organismo. Passei mal de madrugada. Vomitei tudo, inclusive a vida que vinha levando. Suei bastante. Desidratei. Chorei até não restar mais líquido para derramar.
Não aguentando mais, pedi socorro à minha psicóloga. No auge de meu desespero, ela tranquilamente disse que não valia a pena carregar defunto nas costas. Refleti o resto da madrugada. Dormi.
Ao acordar, ainda com muitas dores, decidi que não queria mais sofrer. Dei um basta.
Procurei um massagista que me alinhou o esqueleto alquebrado. Trabalhou as energias que se encontravam estagnadas em determinados pontos do corpo.
Literalmente me senti um ferro malhado no fogo. A massagem, em muitos pontos, foi extremamente dolorosa. Ao término, levantei sem dificuldades, sentia-me leve.
Durante a massagem, em pensamento, malhava o espírito conversando internamente comigo. Olhei com carinho para minha essência, pedi desculpas por maltratá-la tanto. Fizemos as pazes. A energia mudou. Visualizei aquela nuvem preta que insistia em pairar acima de minha cabeça se diluir.
Ainda terei momentos de fraqueza, onde tornarei a descarregar no corpo todas as negatividades da vida. A conscientização é grande. O carinho e respeito por mim é uma realidade da qual não pretendo abri mão.
A crise cessou. O aprendizado é constante. A evolução é inevitável.
Esse texto, escrevi em meados de 2015 quando realmente fiz terapia psicanalítica.
Participam dessa blogagem coletiva:
Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega
Imagem gratuita: Dreamstime
Quero retornar. Juro. Se precisar até faço cruz e beijo pra selar meu desejo.
Mas não consigo. Está difícil sair dessa paralisia de vida. Acho que é porque quando morre alguém muito querido, boa parte de nós se vai junto. Olha só, está vendo como fico? Basta tentar e logo estou em prantos. Querendo trincar e virar pó para me perder no Universo. Talvez, quem sabe, virando poeira estelar deixe de sofrer.
É. Eu sei. Sei de tudo isso que você teima em me dizer. Agora te pergunto: quem manda no coração? Eu é que não. Ele – pelo menos o meu – tem vontade própria. Vive mandando às favas a lógica e o bom senso. Coração só quer saber de bater acelerado. Esse negócio de manter-se em equilíbrio não é com ele.
Varias vezes tentei sentar, focar e escrever algo que valha a pena publicar. No entanto, a tela, após horas, permanece em branco. Então desisto, levanto-me, desloco meu corpo para a frente de uma tela maior e ligando-a, desligo-me da realidade por mais algumas horas, anestesiando meus sentimentos e fingindo-me de feliz. Até consigo rir!
Outro dia chorei muito… Pensei até que morreria afogada em minhas próprias lágrimas. Uma revolta imensa tomou conta de mim. Revolta com a vida, com a morte, com Deus. Pela primeira vez contestei seu poder de decisão sobre nossas vidas. Pela primeira vez tive vontade de mandá-lo a merda. Pela primeira vez, ainda chorando, pedi perdão pelo grau da blasfêmia. Pela primeira vez tomei consciência de minha confusão mental e emocional. Pela primeira vez constatei minha pequenez. E chorei até esgotar toda água de meu organismo e me transformar numa rosa do deserto.
Há dias vivo, trabalho, como, bebo, durmo, defeco. Seca. Por dentro e por fora onde minha pele já demonstra rachaduras e meu interior, há muito se trincou e pouco a pouco, se esfarela por dentro.
Está vendo só? Ainda não estou pronta para voltar. Continuo não sabendo o que escrever e como escrever. Acho que minha pretensa carreira de escritora terminou antes mesmo de começar. Para se escrever bem é preciso ter alma, calor, vontade. No momento não tenho nenhum nem outro. Sou apenas uma sombra daquilo que um dia pensei ter sido.
Vou me afogar num destilado ali ao lado lendo Hemingway ao som de Chet Baker.
Se sobreviver, volto.
O fio de seu cabelo
Prata,
Tesouro que guardo a sete chaves
Me mata
A saudade que por ti alimento
Tormento que não cessa
Brilha na palma de minha mão
trazendo à tona,
Momentos vividos na alegria,
no gozo, na tragédia do dia-a-dia
Paixão infinita que não vingou
Derrapou,
escapou por entre nossos dedos
Cansados de apontar acusatórios
Dando fim ao nosso casório
O fio de seu cabelo
Prata,
Chibata no coração cansado
de tanta dor,
Condutor.
Imagem: Hemera Technologies/AbleStock.com/Getty Images