Sentada de frente a tela do notebook, saboreio um sorvete recordando as vezes em que recebi uma taça dessa sobremesa caseira, feito por minha tia Irene. Mulher das mil habilidades, fez nossa alegria em criança. Sorvetes, mousses de maracujá, goiaba ou chocolate. Bolos, rocamboles, pudins.
Quase me esquecia: a Maria-mole que ela preparava com aquela camada de coco fresco ralado que derretia na boca. Eu fazia questão de comer bem devagarinho para esticar o prazer o máximo.
Como pode nossa memória ser tão intensa, quase palpável ao trazer à superfície, tais momentos? Dá uma vontade de apertar o botão de retorno e voltar no tempo para reviver tudo de novo. E esticar também o sentimento de felicidade genuína. Felicidade de criança. Sei que minha criança interior, ainda se mantém quietinha aqui dentro de mim. Sempre que a realidade sufoca, grito por ela e de imediato, ela assume o controle até eu me acalmar.
Como agora, quando lamento a difícil realidade de titia, que tanto fez por todos, que tantas sobremesas ofereceu aos sobrinhos e agora, em total paralisia, não pode nem ao menos, saborear meus pratos – muitos deles aprendidos com ela – e adoçar um pouco sua amarga realidade.
Isso me lembra que a vida não tem roteiro pronto e – se Deus escreveu algum – não disponibilizou nas redes sociais para compartilhar conosco.
Com todo respeito mas, há momentos em que acho que o Todo Poderoso não passa de um velho sacana que adora aprontar com esses seres tão imperfeitos, mais conhecido como “Humanos”. Muitas de suas ações não soa lógico para meu raciocínio tão curto.
Ao término de meu sorvete, sinto gosto de sal no chocolate derretido. Olhos ardem e nariz congestiona. Terei me resfriado?
Lembrando que sábado, dia 27/11, a partir das 17h, será o lançamento do livro Quinta das especiarias. O lançamento online será através do instagram da Scenarium.
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