Diferente da maçã envenenada… a dor incurável da inveja mata a prazo

“O ódio espuma.

A preguiça se derrama.

A gula engorda.

A avareza acumula.

A luxúria se oferece.

O orgulho brilha.

Só a inveja se esconde.”

(Trecho de Mal secreto (inveja), Zuenir Ventura, da coleção Plenos Pecados)

Quando me deparei com o lançamento dessa coleção de livros no qual cada pecado recebeu o olhar de um escritor convidado, quis me debruçar sobre eles e devorá-los. Pequei. Fui gulosa. No decorrer da leitura da coleção, cansei um pouco e deixei de ler o último pecado publicado. Fui dominada pela preguiça.

Achei a definição de cada pecado perfeita! Desde já, ofereço como sugestão de leitura. Todos os pecados foram esplendidamente explorados e muito bem escritos.

Voltando ao trecho do poema de Lua Souza, no belo livro Estratosférica, a inveja é uma das piores pragas na humanidade. Um atraso na vida de quem a alimenta, um tormento naquele que é seu alvo. Fui vítima muitas vezes desde a infância, quando ainda não tinha consciência de sua existência. Uma colega de colégio confidenciou que sentia muita inveja de mim. Não consegui entender o porquê afinal, ela era muito mais bonita que eu, vinha de uma família com certo poder aquisitivo, diferente da minha família que penava para fechar o mês. Era popular, recebia todos os olhares de admiração tanto das meninas que queriam ser como ela, e dos rapazes que babavam quando ela deslizava pelos corredores escolar.

Na fase adulta, cruzei com pessoas que cometeram pequenos delitos invejosos. Nada que seja digno de relatar. No entanto, houve um ser que durante três décadas nutriu um verme em seu espírito que se alimentava de minhas imagens do cotidiano. Ser reptilíneo, em seu silêncio gritante, sorvia meus movimentos, minhas falas, meu andar. Caso deixasse, sequestraria minha alma.

Nossa convivência daria uma trilogia maior que a saga de H.P. Como nunca fui ingênua, criada com minhas antenas apropriadas para captar “coisa ruim”, soube me proteger.

Faço mea culpa. Tive na minha adolescência, passagens em que desejei demais trocar de lugar com uma amiga. Fomos grandes companheiras de escola, de vizinhança, de paqueras, trocas de confidências… Ela era tudo o que sonhava ser. Bonita, sensual, tinha roupas incríveis e uma família liberal que não pegava no seu pé, como a minha fazia. A vida tratou de dividir a pista que caminhávamos e nunca mais nos encontramos.

Adulta, lapidei meu ser nas águas calmas da ética, tenho meus valores que sigo, sou um ser em constante evolução e…Bom caro leitor, para minha segurança e a sua também, prefiro manter-me nos bastidores do palco da vida, circulo pelas coxias escuras, deixo-me envolver pelas dobras das pesadas cortinas de veludo que ninguém nota. Enquanto a plateia tem toda sua atenção para os que brilham na ribalta, do meu cantinho, passando desapercebida, esboço meio sorriso, aumento o brilho nos olhos, salivo de prazer e escolho minha próxima vítima que bem pode ser você que se debruçou para me ler. CUIDADO!

Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:

Lunna Guedes –  Mariana Gouveia –  Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

Imagem licenciada: Shutterstock

4 comentários sobre “Diferente da maçã envenenada… a dor incurável da inveja mata a prazo

Deixe um comentário