BEDA – A mãe de todas as perguntas

Entre tantas leituras que fiz, algumas marcaram a ferro minha alma. Há questões que perseguem as mulheres desde que o mundo é mundo e passou a ser habitado pelo ser humano e comandado por homens.

Quando esse livro caiu em minhas mãos, o título por si só me prendeu a atenção e ao ler o subtítulo: reflexões sobre os novos feminismos, não deu outra, quis ser a primeira leitora daquele exemplar que faria parte do acervo da biblioteca em que trabalhava.

Confesso que não foi das melhores leituras que fiz e esclareço: minha dificuldade não ocorreu porque a escritora era ruim mas sim, pela potência das questões abordadas em todos os capítulos. São temas bem conhecidos do universo feminino. Qualquer mulher que ler, irá se reconhecer em várias situações. A começar a parte um, tecendo uma breve história do silêncio. Reconheço que até hoje muitas bocas femininas ainda se mantém cerradas seja por medo, por um forte elo educacional que amordaça a alma feminina mantendo-a cativa, obediente, si-len-ci-o-sa.

O ensaio cujo título dá nome ao livro, é sobre uma palestra que Rebecca Solnit fez sobre Virginia Woolf e ao abrir para perguntas, o público estava mais interessado em discutir se ela não deveria ter tido filhos.

A insistência da plateia em manter a discussão sobre essa temática, irritou a palestrante afinal, até parece que ser mãe é o ponto máxima da realização feminina.

Sei bem o que é isso pois sempre fui questionada por não ter me casado nem tido filhos. As pessoas buscam a felicidade e uma das inúmeras fórmulas para se alcançar, é a maternidade. Oras, se fosse assim fácil, não veríamos tantas mulheres infelizes e cansadas ao extremo rodeadas de filhos e cada vez mais solitárias.

Outras questões importantes são tratadas e a que mais mexeu comigo foi o capítulo que aborda o estupro. A própria palavra já é um soco no estômago, o ato em sí é uma das maiores violências que um homem pode aplicar a uma mulher. De fato, Rebecca não doura a pílula e mete o dedo na ferida sem dó pois afinal, não tem como romantizar um ato desses. Não dá para amenizar seus efeitos e dói.

Foi um livro que li demoradamente porque a cada capítulo lido, era um sofrimento pois sou mulher, já sofri muitas violências e elas podem perfeitamente vir mascaradas, maquiadas e coroadas com sorrisos e toques suaves e mesmo assim, fazer você se sentir invadida, desrespeitada, desvalorizada.

Não falarei mais pois até para escrever uma postagem sobre esse livro, machuca, faz abrir velhas feridas. No entanto, indico veementemente a leitura dele a todas as mulheres e também indico aos homens. É o típico remédio amargo difícil de engolir, terrivel de digerir mas que resulta em excelentes resultados para sanar essa doença que faz tantas mulheres sofrerem e até morrerem. Uma pílula necessária para se combater o feminicídio e a postura torta de uma sociedade doente. Você já leu e já descobriu a mãe de todas as perguntas?

Esse texto faz parte da blogagem coletiva BEDA Blog Every Day August

Participam comigo:

Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Ortega Nuñes – Suzana Martins

4 comentários sobre “BEDA – A mãe de todas as perguntas

  1. Nossa, imagino que é o tipo de leitura para ler com jarro de suco de maracujá ao lado porque eu tive muita dificuldade para lidar com vários temas ao longo da vida. Ouvir relatos, por vezes, me fez questionar o que eu fiz para escapar de tanto abuso. E não encontrei resposta.
    Tem uma série que é uma das mais longas da TV e que aborda casos desse tipo, SVU. Deve ter ouvido falar, eu surto em alguns episódios, imagino lendo esse livro. aff

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