BEDA – Brinco de ficar…

Brinco de ficar brava mas não seguro por muito tempo. Não sei manter a pose. Tenho espírito brincalhão, alma de palhaço, aura de infante. Rio a toa, mesmo em velório. Cheguei a ser convidada a me retirar de alguns por acharem que faltava com o respeito. Ledo engano! Só queria descontrair o ambiente e fazer o finado feliz. Não fui compreendida.

No escritório me acham louca de pedra por viver cantando e dançando. Enquanto faxino o banheiro, tiro o pó dos móveis, recolho o lixo, solto melodias, notas que liberto no ar, na tentativa de tornar os dias mais leves. As pessoas andam com humores alterados, daí, tantos problemas físico e emocional.

Não tive estudo, não sou doutora mas, aprendi com minha avó, que para combater os males do corpo e da alma só mesmo mantendo a alegria através do riso. Soltar a voz cantarolando é um complemento dessa libertação afinal, a alma nasceu livre e a matéria a mantém cativa. Não estou nem aí para quem se incomoda com minha alegria de viver.

Outro dia, uma mocinha da administração, irritada, gritou comigo e vociferou que sou uma velha ridícula, que deveria pegar minha aposentadoria e sumir deixando lugar para alguém mais jovem, bonita e competente.

Antes que me nivelasse à sua infelicidade, inspirei e expirei algumas vezes, peguei o balde com água, o rodo, o pano que usava para limpar os vidros da janela e ao abrir a porta e sumir pelo corredor, respondi por cima dos ombros que se ela tivesse sorte na vida, um dia chegaria à minha idade. Só não sei se com a sabedoria que conquistei…

Segui com a faxina dobrando a esquina do corredor administrativo e encaminhei para o almoxarifado sorrindo, cumprimentando os colegas, aproveitando para manter a limpeza e a harmonia dos que alcançam meu gesto sincero.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva BEDA (Blog Everyday April). Participam comigo:

Alê Helga – Claudia Leonardi – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins

Imagem gratuita: Pixels

2 comentários sobre “BEDA – Brinco de ficar…

  1. Eu também faça as coisas cantando, mas às vezes, a alegria incomoda. Continue com sua alegria e cantoria. Faz bem para a alma e o corpo.

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