Tempo de desacelerar, entrar em ritmo de celebrações, encontros, abraços e beijos. Aproveito esses dias fora do eixo para ficar introspectiva, remexer baús da memória, selecionar e separar lembranças e transformar tudo em narrativas literárias. A escrita passou a fazer parte da minha vida mesmo que nem sempre consiga postar por aqui, em meu blog. Que deveria ser diário, como é a proposta de um blog mas, uma vez que é meu, utilizo-o da forma que dá e não da forma ideal.
Uma vez falando em lembranças e memórias, aproveito para divulgar mais uma vez, meu livro Quinta das especiarias. Um remexer de ingredientes gastroafetivos que deram um tempero a mais em minha infância. E que agora, divido com quem deseja mergulhar e se aventurar em outros sabores.
Também reforço o convite para estarem presentes ao meu bate-papo com Lunna Guedes e Suzana Martins, no dia 23/12, pelo Instagram da Scenarium Livros Artesanais. Traga sua xícara de chá ou café, se for de sua preferência, pode ser também uma taça de vinho e venha participar dessa conversa e leitura de textos meus. Será um prazer a mais! Enquanto isso, deixo um texto para leitura e aguçar sua vontade de ler o todo.
No passado, ela não foi figura presente em meu dia a dia. Prima de segundo grau, morava no bairro da Lapa de baixo e quase não tínhamos contato. Passou por muitas dificuldades materiais e grandes perdas.
Numa tarde, ela chegou para uma visita. Volumosa, barulhenta, escandalosa em sua maneira de se comunicar. Chegou acompanhada de uma amiga. Nessa época, eu era a típica adolescente invocada. Chata mesmo! Não gostei delas.
Suas visitas tornaram-se constantes. Ao ficar sabendo que viriam, fugia, ficando reclusa em meu quarto ou, simplesmente saía. Quando tentaram se aproximar, fui antipática, grosseira. Hoje, me arrependo. Ah, esses hormônios desequilibrados da juventude!
Na maturidade, descobri pessoas incríveis, divertidas, sábias em sua simplicidade. Permanecem juntas até hoje. Um casal como bem poucos a gente vê por aí. Brigam, discutem, riem mas, caminham sempre na mesma direção. Companheiras de viagens e de vida em comum.
A prima, descobri depois, foi cozinheira em diversos restaurantes. Numa de suas visitas, levou para o lanche da tarde, pão de mel feito por ela.
Eu, que nem sou de tanto doce, caí de amores por esses pães. Saborosos, macios por dentro. Aromáticos!
Ainda bem que ela levou em quantidade, pois todos se fartaram. Ninguém conseguiu comer apenas um. Aos poucos, através do doce de seus pães e de seu olhar, paciência, conversas e risadas, ela me conquistou. Aliás, elas. Consegui superar um preconceito besta, adoçando minha índole, abrindo meu coração e aceitando-as exatamente como são: seres humanos.
Recordo da última vez em que nos encontramos. Havia mudado da casa de mamãe fazia pouco tempo. Num final de domingo, após o lanche, ganhei uma carona até a estação de trem. Durante o trajeto conversamos como nunca havíamos conversado. Sem bloqueios, sem muros levantados. Apenas duas primas distantes a confidenciar conquistas, anseios, certezas. Soube que ela e sua companheira mudaram para o litoral.
Pão de mel como os dela, nunca mais provei. Acabo de passar um café que perfumou todo o ambiente. Essa lembrança veio forte, embalada por aromas de erva-doce, cravos-da-Índia, cardamomo e pétalas de rosa. Resquícios de um sabor agridoce.
Esse texto e outros, se encontram no livro Quinta das especiarias que você pode adquirir através do site da Scenarium Livros Artesanais ou clicar na capa do próprio livro, na lateral do blog. Livro, sempre um prazer ler, ganhar e dar de presente.
Aguardo vocês na live, dia 23/12 às 19h30