(Flávia Côrtes – As estações)
Nasci com o dom da intuição desenvolvida. Costumo antever alguns episódios antes que aconteçam, previ algumas partidas, conversei com entidades que se apresentaram à mim, conversei num dialeto africano, sem nunca saber uma única palavra. Atravessei caminhos de brasa acesa, viajei para Paris sem gastar um centavo e nem ficar sentada por horas dentro de um avião. Percorri ruas, senti cheiros, ouvi conversas nas mesas dos bistrôs. Em sonhos, encontrei soluções para problemas reais, fui aconselhada por meu anjo guardião inúmeras vezes.
Trago comigo as chaves de tantos cadeados invisíveis e jamais, desde que você partiu, consegui contato. Nem sequer uma palavra em sonho, um sopro em meus ouvidos, uma única brisa a entrar em meu recinto, anunciando que você se encontrava ao meu lado.
Será que tomou ao pé da letra as últimas palavras de seu avó, que em sonho lhe pedia para desatar os nós?
Tentei te ver nas águas que se movem, nas nuvens que se formam e passeiam alegremente pelo céu. Te procurei nos búzios, na borra de café. Consegui ver de um tudo, só não vi você.
Sim, eu sei que preciso te deixar partir de vez mas, onde foi mesmo que guardei seu cadeado para te libertar? Sofro amnésias seletivas. Contra a razão, optei por te manter preso a mim, mesmo que seja nas lembranças.
Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:
Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins
Imagem gratuita: Pexels
As vezes, é difícil girar a chave…
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Ahhh, Roseli… ❤
😍
Isso é coisa de canceriana. Tem jeito não!
Tem toda razão, rs. Abraço!