Iniciei o ato de me corresponder, ainda na antiga sexta série, hoje, equivalente ao sexto ano do fundamental II. A professora de francês, Maria Vitória, chegou trazendo a novidade nos apresentando a International Youth Service (I.Y.S.). Foi um divisor de águas para mim, garota ingênua que não conhecia praticamente nada fora de meu mundinho na rua Gal. Bittencourt, 520. Em pouco tempo, passei a trocar cartas com jovens da França, Guiana Francesa, Cotê d’Ivoire, hoje mais conhecida por Costa do Marfim.
Achava o máximo receber cartas diferentes numa língua que não a minha e saber da vida de alguém que não imaginava existir. Conhecer culturas, costumes, gostos musicais além, claro, de poder exercitar o aprendizado da língua francesa, que estudávamos na escola.
Após tantos anos, não consigo lembrar dos nomes dos garotos e meninas que troquei muitas cartas. Acredito que tenha algumas delas, guardadas em uma caixa na casa de minha mãe. Ah… lembrei do nome do rapaz de Cotê D’Ivoire: se não me falha a memória, seu nome era Lèaba…ou algo parecido. A memória prega peças na gente. De repente não é nada disso.
Minha irmã mais velha, trocou suas missivas com uma italiana de nome Francesca. Ela, assim como minha irmã, amava os Beatles e também lia fotonovelas. Minha irmã recebeu algumas que ela enviou. Tutti in italiani. Tinha cada italiano bonito!! Recordo de alguns: Franco Dani, Jean Mary Carletto, atrizes lindas como Paola Pitti e sua irmã Katiuscia, Claudia Rivelli (fiquei sabendo mais tarde que é irmã de Ornella Mutti. São bem parecidas…
Tinha também o galã mais lindo das fotonovelas italianas Franco Gasparri. Suspirei muito ao ler suas fotonovelas. Suspendi a respiração ao pesquisar no Google e descobrir que ele já passou dessa pro andar de cima…Madonna!
Recordo que fiz a felicidade do rapaz que era da Costa do Marfim, ao enviar junto de uma carta, um disco de Milton Nascimento. Ele ficou maravilhado com o presente. Quem não ficaria não é mesmo?
Anos mais tarde, trabalhando na primeira biblioteca escolar, meu diretor foi para Paris, fazer seu doutorado, trocamos algumas cartas onde ele me apresentou curiosidades da cidade que sempre sonhei conhecer. Tenho essas cartas até hoje. Canceriana, sabe que é, gosta de colecionar antiguidades…
Com a chegada dos e-mails e depois as redes sociais, pouco a pouco fui esquecendo a alegria em escrever uma missiva e aguardar a resposta que poderia demorar dias gerando uma doce ansiedade. Tempos modernos…
Tive por algum tempo, um resgate através de troca de correspondência literária com um amigo/irmão. Foi através de uma delas que li pela primeira vez, um texto de Caio Fernando Abreu: Sapatinhos vermelhos. Foi ali que minha paixão por esse escritor começou…
Hoje, escrevo por aqui aguardando com certa ansiedade, as visitas de meus leitores e seus comentários que equivalem a sensação gostosa que sentia ao trocar correspondência. E você escrevia ou escreve muitas missivas?
Esse texto faz parte da blogagem coletiva Blogvember. Participam comigo:
Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Suzana Martins
Para fazer minha foto de ilustração, busquei em meus baús e…Achei uma carta de Lèaba Augustin!!!
Eu, como catador de papel, recolhia muitas revistas de fotonovelas com atores fotográficos italianos. Mulheres esplendorosas e, realmente, galãs clássicos. Histórias de amor, daquelas bem clichês, com finais felizes. Como lia qualquer coisa, não faltaria essas revistas que lia muito rapidamente.
eu escrevo, Roseli… E muito. rs
Escrevo no papel, no modo de antigamente, no meu blog e por aí.
Sim, e eu acompanho suas belas missivas recheadas de poesia e encanto!
Ah, minha cara. Viajei aqui nas ruas voltas ao mundo. Sabe que eu nunca li nenhuma fotonovela? Ouvi falar delas, claro, mas nunca me interessei. Preferia mesmos os almanaques. Paixão de infância. Toda semana tinha um novo.
E a correspondência ajudou a forjar a escrita, claro que eu não fazia ideia. Fui perceber isso anos mais tarde, ao ler o que havis escrito. Foi muito estranho e maravilhoso.
As vezes, ainda recorro ao papel, mas está cada vez mais raro. Prefiro mesmo o blogue como correios. rs
Nunca mais escrevi uma carta pra valer…