Não me considero a perfeição em forma de gente. Aliás, estou bem longe disso. No geral, talvez tirando meu geniosinho do cão, sou um bom ser humano. Fui educada para ser cordial com as pessoas, respeitar a todos, fazer o bem sem ver a quem. Tenho um coração imenso que procuro na medida do possível, abraçar a todos que se aproximam de mim…
Mas sofro de um pequeno “defeito de fábrica” e, por conta dele, já entrei em algumas frias. Também já perdi amizades, amores e emprego.
É algo mais forte que minha consciência. Quanto menos espero, pá! Já foi. Aconteceu. E nem sempre dá para consertar. Fazer terapia não foi algo que me beneficiou muito nesse problema. Pelo contrário. Sabe, até por aqui tenho que me policiar para não cair no erro novamente. Só digo uma coisa: não é fácil. É cada saia justa que pelamor!
Quem não me conhece costuma fazer uma leitura errada sobre mim. Certa vez, um paquera – futuro namorado -, disse após algumas saídas que eu não era o que ele imaginou ao me conhecer. Que eu aparentava ser uma mulher frágil, delicada e no convívio, mostrei-me uma leoa e isso o assustou. Achei graça dessa confissão afinal, o rapaz estava assustado de verdade comigo! Segui meu caminho achando que ele havia usado essa desculpa para me descartar. Hoje, sei que realmente devo ter assustado o gajo. Depois dele, muitas outras pessoas se assustaram comigo. Algumas bateram de frente e eu mostrei minhas presas. Outras, tentaram puxar meu tapete. Com isso, aprendi a mergulhar e a dar saltos acrobáticos. Lei da sobrevivência. Com o passar das décadas, hoje, mais vivida e mais malhada pela vida, tenho um olhar desbotado com relação aos humanos. Não sou pessimista contudo, tenho uma ótica realista: o ser humano não evoluirá tão já. Fato!
Passei a usar a conduta que me dá um pouco de conforto e proteção: permanecer em silêncio. Nas últimas semanas tenho me sentido uma autêntica freira carmelita que fez seus votos de silêncio.
Pergunto: como elas aguentavam? Estou quase ficando louca com tanta conversa interior! São tantas Roselis conversando ininterruptamente sobre todos os assuntos tabus daqui do lado de fora que estão me enlouquecendo. Não durmo mais, não descanso, nem escrever consigo. Ler então, algo que me era tão prazeroso, hoje tornou-se castigo. E tudo por quê? Por conta da minha tramela cerrada e dessas vozes internas que não descansam um minuto sequer.
Não sei quanto tempo vou aguentar. Confesso aqui minha fraqueza: assim como o personagem do Luiz Fernando Guimarães que era sincero e não media as consequências do que falava, eu, num proporção menor porém não menos trabalhosa, falo o que penso sem pensar. Deu pra entender ou fui muito confusa? Se fui, é culpa dessas vozes que querem todas falar ao mesmo tempo. Vou respirar fundo e falar de forma bem de-va-gar…
Falo demais. Cursava a terceira série primária, quando recebi o convite e saí escondida com uma colega. Pulamos o muro e fomos para a casa dela. Passamos a manhã assistindo os desenhos animados e comendo pipoca. Ao sairmos, do outro lado da rua, reconheci meu pai. Outra pessoa em meu lugar sabendo que está fazendo algo errado se esconderia. O que a boca aberta aqui fez? Assoviou e acenou para ele e ainda disse: Oi pai! Quicetafazenoaqui? Nem preciso dizer o final dessa história né? Ah, preciso? Apanhei e fiquei de castigo.
E assim, desde pequena fui atravessando os anos tropeçando na minha língua comprida que não cabe dentro da boca.
Recentemente, aconteceu algo que, se pudesse rebobinar a fita e voltar atrás, juro que faria isso. Minha língua foi mais rápida. O efeito delas chegou mais rápido ainda. Caros leitores, com o perdão da palavra: ME FODI!
Para você que se espantou com meu linguajar, é isso mesmo. O que aconteceu não tem outra palavra que expresse melhor. E por conta dessa minha língua larga e comprida é que estou aqui, num castigo imposto por mim mesma. Ficar calada por tempo indeterminado pensando: Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?Por que fui falar isso?…
Imagem licenciada: Shutterstock
A gente acaba aprendendo com a vida. Ou, pelo menos, se adaptando. Um abração!
Bom demais ter você por aqui Carlos! Obrigada. Abraço!