Em franca expansão

celulite

Quando adolescente, nas reuniões familiares , prestava atenção nas conversas de minhas tias. Além das suas risadas contagiantes, o que me chamava a atenção eram algumas afirmações:

Envelhecer não é fácil.

Virar o cabo da boa esperança é doloroso.

Anoitecer da existência é deprimente.

Envelhecer para a mulher é apenas mais um dos inúmeros castigos que a vida impõe.

Essas frases feitas ficavam martelando em minha mente adolescente e cheguei a pensar que elas já estavam gagás.

Hoje, aos cinquenta e três anos, dou conta de tudo aquilo que ouvia delas. Como as entendo!

Há quatro anos atrás, entrei numa crise de identidade ao sentir que os cinquenta anos se aproximavam. Cheguei a procurar ajuda de uma psicóloga para atravessar, sem muitos traumas, esse meio século de vida. Pesei muitas coisas na balança e cheguei a conclusão de que trazia mais pontos positivos que negativos. Tranquilizei-me.

Agora, acredito estar entrando noutra crise. Li recentemente num artigo que, a mulher, ao adentrar a menopausa e a seguir, o climatério, passa por grandes transformações em seu corpo e psiquê.

Não tive muito tempo para observar como anda minha psiquê. No entanto, tenho comprovado uma coisa que está me aterrorizando: estou em franca expansão!

Tudo bem evoluir, crescer, não ficar para semente. Agora, você se expandir para todos os lados e ocupar espaço de outras pessoas e objetos nesse planeta, desculpa mas isso não estava no contrato que assinei.

Eu, que a vida inteira fui um projeto de Olívia Palito, estou ganhando massas laterais, nódulos de gordura em partes que jamais imaginei e minha bunda tem pesado horrores quando ando. Você ri é? A coisa é séria!

Aliás, seríssima. Todo o meu guarda-roupa começou a diminuir, de uma hora para outra, encolheu. Durante mais de vinte e cinco anos, tive o mesmo manequim: 38. A seguir, subi para 40 e estabilizei. Tinha certeza que seria a eterna magra.

Até que, no ano passado, comecei a observar que surgiam da noite para o dia, gordurinhas que nunca haviam habitado esse corpinho.

Entrou o mês de fevereiro, retornei a rotina do colégio onde trabalho e, qual não foi meu espanto ao colocar o uniforme de trabalho, e ver que ele estava…Agarrado!

Veja bem: não é exagero meu. É a mais triste constatação. Estou engordando e se continuar nesse ritmo, chego aos cem quilos fácil, fácil. Tire esse ar de riso do rosto, ou, pelo menos, disfarce. Meu sofrimento é verdadeiro. Não é mimimi de mulher porque, isso contraria toda uma lógica de vida. Nunca fui gorda. Sempre fui considerada a magrela. Não sei se tenho talento para ser obesa minha gente! Resumindo: não fui programada para ser acima do peso!

Por favor, patrulha do politicamente correto (vulgo Chatos de Plantão), não me apedrejem!

Não falo como forma de preconceito ou discriminação. Acontece que não fui trabalhada para ser pesada. Entende? Ontem mesmo, após tomar meu banho da tarde, caí na besteira de me olhar no espelho de corpo inteiro. Tive um choque. Se não anafilático, um choque que percorreu da cabeça ao dedão do pé. Ao mirar minha bunda que não cabia no espelho. Ousei chegar mais perto para avaliar o estrago. Foi pior. Ao colocar os óculos multifocal, enxerguei com ultrarrealismo, todos os nódulos de celulite depositados nela e nos culotes. Isso é de fazer qualquer mulher querer dar um tiro na ideia. Um verdadeiro festival de casca de laranja elevado a potência máxima. Grotesco. Tosco. Feio.Não sou eu!

Vontade de sentar no chão do banheiro e chorar até fazer todas aquelas gordurinhas derreterem e saírem pelas lágrimas. Seria uma boa não é mesmo? Pena que na realidade isso não funciona. Voltei ao quarto, abri o guarda roupa e comecei a experimentar todas as minhas calças, todos os meus vestidos, e, sem exceção, estavam justésimos no quadril. Minha mãe entrou bem nessa hora em meu quarto e, vendo minha indignação disse:

-Larga mão de ser boba. Seu corpo é lindo. Ainda mais na sua idade. Deixa de encanação e nada de se meter a ficar anoréxica hein?

Ainda mais na sua idade… Sei que ela só quis me elevar a estima mas essa frase cravou suas garras em mim e não consegui pensar em mais nada.

Ainda mais na sua idade…Que ela quis dizer com isso? Que já sou uma velha e que devo me contentar em manter esse corpinho de balzaquiana e me conformar com o que o destino me reservar?

Ainda mais na sua idade…Diz pra mim que ela me elogiou. Diz. Caramba! Fiquei cismada agora. Olhando-me mais uma vez no espelho digo para mim mesma:

-Você está envelhecendo. Fato. Aceita que dói menos.

Olho-me de frente. Humm. Vá lá! É passável. Ainda mantém uma barriga lisinha, igual a que tinha aos vinte anos. Tudo bem que hoje, ela é um pouco mais flácida mas, ainda mantém o frescor da juventude.

Olho-me de lado. Humm. É. O perfil já não está assim, uma BRASTEMP! Mas ainda passa bem sem me deixar envergonhada. As pernas ainda estão bonitas, firmes devido a ginástica, corrida e step. Tudo bem que um jardim de violetas se instalou por toda ela mas quer saber? Estão inteiraças!

Olho meus seios. Humm. Ah, eles continuam a jogar a meu favor. A lei da gravidade ainda não os derrubou. Continuam a se equilibrar no espaço de maneira graciosa e seus biquinhos, continuam engraçadinhos. Feito os de uma ninfeta. Orgulho!

Mas a bunda…Se fosse possível, trocaria ela por uma outra menor no mercado das pulgas. De boa. Sem peso na consciência. Mas sei que isso é outro devaneio meu nesse momento de desespero.

A bunda…É. Em frança expansão se esparrama no espaço feito poeira espacial. Paciência.

Paciência não! Vou já para a academia malhar até cair no chão e queimar toda essa gordura. Não quero nem saber se ela é trans, se é localizada, se é hidrolisada. Aqui. ela não fica mais nem um minuto. E tenho dito!

 

Imagem: Google

23 comentários sobre “Em franca expansão

    • Não tem o que desculpar Neli. É para rir mesmo. Se você riu, então alcancei meu objetivo. A escrita serve para isso. Transformar o cotidiano em algo mágico, engraçado, algumas vezes triste. Obrigada por aparecer por aqui e prestigiar o blog.

  1. Minha querida amiga, não gosto de comentar sobre esses assuntos para não melindrar os mais sensíveis, mas sinceramente, esqueça esse negócio de pensar na menopausa e no climatério por que você vai se preocupar com algo que você não conhece e que sua psiquê vai ingerir negativamente por que outros falaram. Imagine assim: você esta no ápice de suas experiencias, livre pra ser feliz e sem preocupações com gravidez, desilusões, comprometimentos e coisas que nos deixam atarantados, se houver secura vaginal use bolinhas explosivas, kkkkkkkk, ou gel, se der calor ligue o ventilador se der frio use um coberto, até o de orelha, mas não encane. Quanto ao corpo, só posso te dizer que cada idade tem sua beleza própria a despeito de todos os esteriótipos que o mundo cria. Portanto seja feliz, você vai rir muito das infantilidades dos mais novos e eu te digo, não dê nenhuma dica, deixe-os passar pela lição para crescerem e não se esqueça apesar de nos acharem caretas, nós não o somos, mas só nós sabemos, beijos.

    • Caro Ebatbuta, essa nova fase está sendo uma experiência ímpar para mim. Tão rica que transformo em contos e crônicas que faço questão de compartilhar com vocês. Na realidade, estou um pouco assustada mas, com minha criança interior atenta e entusiasmada para vivenciar essas novas vivências. Obrigada pelas dicas, pela presença amiga e carinhosa por esse espaço. Bjs

  2. Duas coisas: uma é que é meio século, não meia década. É um ato falho normal depois de citar um terapeuta. Ou estamos mais pra JK: 50 em 5 e tal. Assim que parar de rir sobre a troca de bunda, falo sobre o segundo comentário.

    • Agora quem desandou a rir fui eu!! Bota ato falho nisso kkkkk É a gordura atrapalhando meu ponto de vista. Ou será o “Alemão” me rondando já hein? Humm, agora fiquei preocupada! Ah, e curiosa para saber o segundo comentário. Para logo de rir da minha troca de bunda e fala logo!

  3. Nossa!! Eu não ri do seu sofrimento (sei como é), mas foi engraçado como você expôs a coisa rs… Adorei, o texto o problema em questão, viu? Força na peruca. Tamojunto!
    Beijoka! (Com k pois sou rebelde)

    • Meri, que bom que gostou e compreendeu a problemática discutida, rs
      Sabe, adoro pegar temas e situações minhas e de outras pessoas e transformar em crônicas, utilizando sempre que possível, o humor. Afinal, a vida já está dura demais não é mesmo? Adorei te ver por aqui. Bjs

  4. Ah, Roseli, um fato que não podemos ignorar, minha amiga, a mente da gente continua jovem e o corpo não faz o favor de acompanhar. Eu sofro quando olho no espelho e não vejo mais minha cintura. Tenho tantas saudades daquele corpão que eu tinha! Mas sem te estressar mais ainda, os valores são outros, a vida tem mais leveza, coisas importantes são realmente importantes, mas o corpo padece, como gotas homeopáticas, fazer o quê? Beijos!

    FELIZ DIA DA MULHER, MULHER!

    • Clara, querida, já sentia falta de você por aqui! É a correria né? Sei bem como é isso. Olha, tenho acompanhado as tais mudanças em meu corpo e, tenho procurado desenvolver outras habilidades intelectuais, espirituais. Porque, vamos combinar, a coisa vai ficando complicana nénão? rs Mas o mais importante, é olhar tudo com leveza e humor. E isso, já tenho de sobra amiga. Daí escrever esses “causos cotidianos”. Feliz Dia da Mulher Sempre! A toda hora, todo instante! Bjs

  5. Oiiii, já ia lhe pedir desculpas por ter rido do início ao fim do seu texto, mas vi no seu comentário acima que esse era o seu objetivo, pois bem o alcançou com grande facilidade..
    Tenho duas décadas de existência e já fico a me preparar quando chegar a minha vez nessa jornada de transformações…..
    Ps:Feliz em descobrir que você é graduada em biblioteconomia!

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