Já pararam para refletir sobre a maldade infantil? Cada dia mais me convenço de que ela realmente existe e é alimentada diariamente pelas mídias e pela própria sociedade que, vamos combinar, está bem equivocada.
Para quem ainda não sabe, trabalho na área educacional há quase trinta anos. Tenho visto de tudo no ambiente infanto-juvenil. Birras, chantagem emocional, timidez, ingenuidade (cada dia mais rara) e, agressividade. Como já sabemos, a criança apenas reflete feito espelho, tudo o que observa ao seu redor, inclusive, o comportamento humano dos mais próximos. Num mundo rodeado pela violência que, tornou-se banal, a criança é bombardeada pela televisão em filmes, novelas, programas apelativos. Não tem por onde escapar.
Hoje, após almoçar, fui sentar num banco que fica próximo ao parque em que as crianças do maternal brincam todos os dias. Havia crianças jogando bola, outras brincando de amarelinha e, mais próximo à mim, um grupo de quatro meninas pulando corda. Tudo corria normalmente até que, surgiu um menino que se misturou às demais e tentou pular corda também.
Digo tentou, porque ao se aproximar da corda, foi imediatamente puxado por uma das meninas para longe do alcance da corda. Com sua força, o menino caiu ao chão. Não contente, a mesma garota neutralizou o pobre com seu pé fincado ele na lombar. Ainda não se sentindo satisfeita, a menina chamou uma de suas companheiras que se aproximou e deu um chute na lateral do menino fazendo-o se encolher. A essa altura, levantei-me e dei uma panorâmica pelo pátio em busca de um profissional da disciplina. Não achando ninguém, comecei a gritar com o grupo. Ou não me ouviram, ou me ignoraram por completo. O garoto conseguiu se safar e saiu correndo. Encontrava-me indignada com a atitude agressiva das meninas. Já havia me sentado e iniciava a leitura do livro quando ouvi de novo o grito do garoto. Olhei e vi que estava novamente caído com duas meninas chutando violentamente por todos os lados. A ira estampada nos rostos infantis das garotas me deixou assustada. Procurei algum bedel e vi que ali bem perto tinha um encostado numa cerca e nada percebia. Gritei novamente chamando o funcionário que nem se moveu. Estava só de corpo presente. Irritada com a situação, gritei com todas as forças com as meninas que parando, olharam para mim, mexeram os ombros numa atitude de desprezo e voltaram a pular corda. Enquanto isso, o menino chorando se levantou e saiu carregando sua alto estima amarrotada e dolorida feito seu corpinho. Inconformada com a situação, procurei um profissional e relatei o ocorrido. O dito simplesmente sorriu de forma zombeteira e disse: Isso não é nada. É a coisa mais comum aqui no parque.
Comum? Repeti não crendo no que ouvia. Como assim, comum? Isso não pode ser considerado comum meu senhor. A escola tem obrigação de trabalhar a atitude respeitosa em todos desde pequenos. O menino deve estar machucado.
O rapaz tornou a rir e já saindo de perto da “tia” da biblioteca, falou dando por encerrado essa conversa:
Não esquenta. Elas estão cobertas de razão e tem mais é que dar pontapé e bater se for o caso. Aprender a se defender desde cedo senhora! Virou as costas deixando-me de boca aberta diante da estupidez proferida como se fosse a coisa mais correta do mundo.
Depois disso, perdi a vontade de ler e retornei ao meu mundinho entre livros que é a biblioteca. Podem me chamar de ingênua, desatualizada, ultrapassada mas não consigo achar normal esse tipo de comportamento. Seja em meninas, em meninos, em adultos. O mundo já está saturado dela, a violência. Não precisamos fabricar novos futuros adultos que resolvam tudo a base de socos, gritos e pontapés. Se numa escola não se preocupam com isso, o que dirá aí fora, nas ruas, parques, shoppings e nos próprios lares onde se tornou banal, bater e apanhar imperando a lei do mais forte.
Não aceito!